domingo, 31 de agosto de 2014

Merecido!

Se havia alguém, nos últimos anos, que merecia vencer o título da Indy, este era Will Power. Dominador nos circuitos mistos, o australiano da Penske, que teve 'educação' no automobilismo inglês, patinava nos ovais. Entre 2010 e 2012, Power chegou na última etapa do ano com grandes chances de ser campeão, mas em todas essas ocasiões a disputa pelo título era realizada num circuito oval e Will acabava sucumbindo ao seu calcanhar de Aquiles, conquistando um incrível e inconveniente tri-vice. O problema de Power era claro. Se ele corresse minimamente bem nos ovais, ele estaria com a mão no título, pois o australiano nunca deixou de andar bem na rua ou nos autódromos. Em 2013, quando esteve longe da briga pelo título, Power melhorou consideravelmente nos ovais, vencendo duas corridas nesse tipo de circuito, incluindo o local da decisão do título deste ano, em Fontana, de propriedade de Roger Penske, dono da equipe de Power e vindo de um longo jejum na Indy.

Porém a vida de Power não começou nada bem no final de semana decisivo, pois com um carro muito ruim no treino classificatório, ele teve que se contentar com a penúltima colocação no grid, enquanto que Helio Castroneves, praticamente o único que poderia lhe tirar a taça, conseguia a pole. Os velhos fantasmas, com certeza, voltaram a atormentar a vida de Will Power. Seria o quarto vice em cinco anos? Contudo, os erros passados tinham que servir para dar uma lição e Power não se importou muito com sua incômoda posição e foi escalando o pelotão com a calma de que sabia que aquela prova se tratava de uma maratona de 500 Milhas. Para completar, o terceiro fator da briga pelo campeonato, o surpreendente Simon Pagenaud, tinha problemas de dirigibilidade do seu carro e era logo uma carta fora do baralho. A disputa era diretamente entre os dois pilotos da Penske.

Enquanto isso, Helio Castroneves usava a sua experiência nesse tipo de corrida para ficar nas primeiras posições o tempo todo e dar o bote nas famosas 'cinquenta voltas finais'. Juan Pablo Montoya, Ed Carpenter e a dupla da Ganassi se revezaram na ponta da corrida com Castroneves numa prova rápida e com apenas uma bandeira amarela. Talvez o sério acidente do russo Aleshin tenha feito que o pessoal pegasse leve nesse sábado à noite. Power já estava no top-5 no momento decisivo da prova, chegou a beliscar a ponta da corrida na relargada, mas o seu merecido título veio por um erro do veterano Castroneves. O brasileiro entrou forte demais nos boxes em sua última parada e acabou tocando na faixa branca, causando uma punição que o fez perder uma volta. Foi a senha para Will Power diminuir seu ritmo, apenas levar seu Penske rumo a bandeirada e com a nona posição, finalmente comemorar seu primeiro título na Indy. Numa grande recuperação da Ganassi, após um início claudicante de campeonato, Tony Kanaan comandou a dobradinha da equipe vencendo em Fontana com Dixon, que fez um espetacular final de campeonato, chegando em segundo e pulando para terceiro no campeonato.

Além de Power, Roger Penske também quebrou um tabu de oito anos sem título, o que é bem incômodo para alguém que tem a considerada melhor equipe da Indy há décadas. Power liderou a equipe desde 2010 e sempre bateu na trave, assim como foi o caso de Helio Castroneves ano passado. Agora com os dois na disputa, finalmente Penske voltou a comemorar o título e ainda com dobradinha, algo que não acontecia desde 1994 com as lendas Al Unser Jr e Emerson Fittipaldi. Com mais essa derrota no campeonato, Helio Castroneves soma a incrível marca de quatro vice-campeonatos, acho que algo inédito no automobilismo mundial para quem não tem nenhuma conquista no currículo. Igual ao ano passado, quando teve a faca e o queijo na mão, Castroneves sucumbiu nas corridas finais e mesmo Power não tendo um desempenho daqueles, particularmente nas duas últimas corridas, o australiano pôde comemorar. 

Se para Helio mais esse revés pode ser um golpe numa carreira já muito extensa e praticamente toda ela na melhor equipes dos Estados Unidos, para Will Power pode ser a senha de um futuro prodigioso na Indy. Livre da pressão do primeiro título (os americanos já ameaçavam chamar de maldição), Power poderá correr mais tranquilo a partir de 2015, quando a Indy mudará sua cara com os novos kits aerodinâmicos. Sem pensar demais nos títulos perdidos, Will Power poderá finalmente deslanchar e comprovar a todos que é mesmo o melhor piloto da Indy nos últimos tempos.

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