O medo ainda assolava a F1 quando o circo chegou em um dos seus mais tradicionais palcos e numa das curvas mais icônicas da história. Spa-Francorchamps era (e ainda é) sinônimo de F1 em seu estado puro. E a famosa curva Eau Rouge era (e também ainda é) sinônimo de Spa-Francorchamps. Porém, tudo parecia ser perigoso demais em 1994 após todos os acidentes e mortes daquela temporada e a Eau Rouge foi modificada a pedido da GPDA, ganhando uma fechada chicane no lugar do fluído e histórico esse em alta velocidade colina acima.
Mas se a GPDA foi capaz de modificar a Eau Rouge, não foi capaz de modificar o inclemente clima belga e todos os treinos foram debaixo de muita água, tornando o circuito de Spa muito perigoso. No finalzinho do treino de sexta-feira, a chuva cessou por alguns minutos e um trilho seco foi formado. Rubens Barrichello, na difícil missão de tentar, na visão dele, dar alegria que Senna dava aos brasileiros até Ímola, arriscou colocar pneus slicks e a aposta do brasileiro deu certo, ficando com a pole provisória. Schumacher também apostou nos slicks no final daquele treino, mas não foi capaz de superar Rubens. Havia ainda o treino de sábado, pensou a maioria dos pilotos. Contudo, a uma hora de treino no sábado se deu com muita chuva e ninguém foi capaz de melhorar o tempo de Rubens Barrichello, que entrava na história, aos 22 anos de idade, como o poleman mais jovem da história da F1 até aquele momento. Hakkinen retornava à F1 com um razoável oitavo lugar, enquanto o novato do dia, o belga Philippe Adams, mostrava que só estava no grid da F1 pelo tamanho de sua carteira, ficando em último lugar no grid, 6.7s atrás do seu companheiro de Lotus, Johnny Herbert.
Grid:
1) Barrichello (Jordan) - 2:21.163
2) Schumacher (Benetton) - 2:21.494
3) Hill (Williams) - 2:21.681
4) Irvine (Jordan) - 2:22.074
5) Alesi (Ferrari) - 2:22.202
6) Verstappen (Benetton) - 2:22.218
7) Coulthard (Williams) - 2:22.359
8) Hakkinen (McLaren) - 2:22.441
9) Frentzen (Sauber) - 2:22.634
10) Martini (Minardi) - 2:23.236
Quando Rubens Barrichello acordou naquele dia 28 de agosto de 1994 em Spa, ele provavelmente esperava abrir a cortina do quarto do seu hotel e ver o tempo fechado e chuvoso dos últimos dias, mas mostrando o quão maluco é o clima na região das Ardenas, havia sol forte e imediatamente o brasileiro da Jordan sabia que suas parcas chances de vitórias se acabaram antes mesmo da largada, mas havia um sério problema para todos os 26 pilotos que largaram naquele dia, pois seria a primeira vez que eles correriam com piso seco em Spa naquele final de semana. Na luz verde, Barrichello permanece heroicamente na ponta, segurando o rojão de um Schumacher babando na apertada Source. Mais atrás, Alesi ficava bem por dentro e assumia a terceira posição, enquanto Irvine caía de quarto para oitavo.
Havia a expectativa da freada da 'chicane' Eau Rouge, mas os pilotos passaram sem problemas pelo local claramente improvisado, mas vendo o que tinha acontecido com seu companheiro de equipe metros atrás, Barrichello sabia que não teria muitas chances e foi ultrapassado por Schumacher na Le Combes e por Alesi na freada da Bus Stop ainda na primeira volta. Tudo dentro do script e Schumacher, em sua pista favorita e especial pela estreia e primeira vitória na F1, pôde abrir vantagem, ainda mais quando Alesi abandona tristemente com o motor quebrado ainda na segunda volta, ao mesmo tempo em que Damon Hill assumia a segunda posição. Como era de se esperar, Barrichello é ultrapassado por Coulthard e Hakkinen, mas se estabiliza na quinta posição, enquanto que no Brasil, inebriado com a expectativa de uma vitória de Rubinho, alimentado por ele mesmo e por parte da imprensa coxinha, muitas pessoas desligavam a TV e chamavam Barrichello de 'Pé-de-Chinelo' e dizem que ele nunca seria um novo Senna. Essa cobrança perseguiu o brasileiro em praticamente toda a sua carreira.
Enquanto Schumacher passeava no bosque com seu Benetton e tinha 15s de vantagem sobre Hill, Barrichello era pressionado por Frentzen na briga pela quinta posição. Ao contrários das outras posições, Rubens esboça resistência frente aos ataques do alemão da Sauber e na décima volta, induz Frentzen ao erro ao fazer o alemão forçar na freada da 'chicane' Eau Rouge e o piloto da Sauber acaba batendo e abandonando a prova. Porém, a vida de Barrichello não estava ganha ainda, pois quem se aproximava dele era Berger, que tinha largado numa má posição no grid com sua Ferrari e agora se recuperava bem na prova, mas o austríaco também seria outro abandono ferrarista pelo mesmo motivo de Alesi na volta 12. Jean Todt já deveria estar correndo atrás do telefone da Peugeot, seu antigo empregador e que teve muito sucesso anos antes no Endurance e no Rally. Após todos os líderes terem feito suas paradas, Schumacher, sem saber, decidia o Grande Prêmio da Bélgica na volta 18 ao entrar muito forte numa zebra alta, perder o controle do seu Benetton e derrapar em cima de outra zebra alta. Schumacher não perde muito tempo, ao redor de 6s, e continua com uma liderança folgada, na frente de Coulthard, com Hill em terceiro após perder a posição para o seu companheiro de equipe durante a primeira rodada de paradas. O pole Barrichello termina sua prova uma volta depois quando ele se atrapalha ao colocar uma volta em Jean-Marc Gounon, batendo na barreira de pneus e acabando seu final de semana de sonhos.
Na segunda rodada de paradas, Schumacher e Hill param na mesma volta e com isso David Coulthard liderava pela primeira vez na carreira uma corrida de F1. O escocês faz seu pit-stop logo em seguida e retorna à pista em segundo, mesma posição que ocupava antes da sua parada, mas Hill começa a pressionar o seu jovem companheiro de equipe. Apenas nas voltas finais foi que Coulthard deixou Hill passar atendendo a uma ordem de equipe, mas a Williams não teria seus dois pilotos no pódio quando Coulthard diminui drasticamente seu ritmo com problemas de câmbio. O escocês é alcançado por Mika Hakkinen e Jos Verstappen, que o ultrapassa sem problemas, mas o inglês Mark Blundell acaba se animando demais com a quinta posição certa e acaba saindo da pista, ficando mesmo em sexto lugar. Schumacher recebeu a bandeirada e comemorou bastante sua vitória, mas... Depois da corrida os comissários de pista foram medir a prancha de madeira que tinha sido implantada debaixo dos carros como medida para diminuir a velocidade dos carros nas curvas. A prancha de Schumacher estava abaixo da espessura permitida devido a sua espetacular rodada na corrida e por isso o alemão foi desclassificado, dando a vitória para Damon Hill, que encostava ainda mais no campeonato. Porém, essa desclassificação de Schumacher custaria ainda mais caro para o alemão, pois o piloto da Benetton ainda estava sendo julgado pela desclassificação do Grande Prêmio da Inglaterra e com mais esse problema, o alemão da Benetton recebeu uma desproporcional suspensão de duas corridas. Conta-se que essa punição foi mais política do que técnica. Com Schumacher 21 pontos na frente do campeonato e o alemão ainda não tendo o carisma que viria a ter no futuro, essa suspensão foi um meio artificial da FIA em deixar o campeonato mais emocionante no final. E ainda dizem que Schumacher ganhou aquele campeonato roubado... Uma curiosidade foi que a desclassificação de Schumacher significou a subida do seu companheiro de equipe Jos Verstappen ao pódio, seu segundo consecutivo, mas seu último na F1, o mesmo acontecendo com os pilotos holandeses. Quem sabe no futuro o filho de Jos, Max Verstappen, quebre esse tabu...
Chegada:
1) Hill
2) Hakkinen
3) Verstappen
4) Coulthard
5) Blundell
6) Morbidelli
'Barrica' largando na pole... isso faz tempo hein???
ResponderExcluirmas na prova o resultado foi praticamente o mesmo que o acompanhou em sua carreira na f1.
abs...
E essa foi também a última corrida de Philippe Alliot na F1,ele correu essa corrida pela Larrousse em substituição a Olivier Beretta.
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