Quando se preparava para a volta de apresentação, Nico Rosberg se viu numa situação desesperadora, pois seu volante high-tech não funcionava a contento e a primeira marcha não entrava. Virou o volante para um lado, para o outro e nada. Tendo que largar dos boxes, Nico colocou um novo volante e o problema permaneceu, com o volante passando duas marchas de uma vez, fazendo com o piloto da Mercedes abandonasse sem nenhum problema mecânico. A tecnologia embarcada nos carros atuais da F1 é tão dominante, que os pilotos viraram reféns de engenheiros e circuitos eletrônicos, criando a situação chata de uma chamada pelo rádio se tornar tensa, pois o engenheiro poderia estar falando demais ao seu piloto, graças a nova regulamentação do quanto se pode falar com o piloto durante a corrida ou não. A confusa medida nada fez para atrapalhar a vitória praticamente de ponta a ponta de Hamilton, que com o abandono de Rosberg, reassumiu a ponta do campeonato, mesmo que por apenas três pontos.
A corrida em Cingapura não foi das mais emocionantes, principalmente no seu início. Porém, a prova asiática já tem, sim, seu charme e sua cara. Correndo de noite, com forte calor e ainda mais umidade e num circuito travado, a corrida em Cingapura nunca é fácil para os pilotos, que tem que pilotar em condições extremas, mesmo que de noite, por duas horas completas, pois a corrida em Cingapura nunca acaba antes disso. Com Rosberg alijado da disputa praticamente antes da largada, a vida de Lewis Hamilton foi bastante facilitada, ainda mais com a boa largada do inglês. Mesmo com as demais equipes ficando próximas da Mercedes na Classificação no sábado, em ritmo de corrida a equipe alemã ainda está léguas à frente e sem a tensão da frenética disputa entre seus pilotos, a Mercedes apenas controlou a corrida de Hamilton, que só não foi totalmente limpa devido à entrada do safety-car pouco depois da metade da corrida. Como Hamilton só tinha usado os pneus supermacios e teria que faze um pit-stop obrigatório para colocar os pneus macios, o inglês teve que abrir uma diferença para os demais, mesmo que usando os pneus supermacios, que se desgastam bastante. Lewis conseguiu a proeza de correr trinta voltas com os pneus de faixa vermelha e abrir uma vantagem boa suficiente para sair de sua parada final ainda em segundo, colado em Vettel. A ultrapassagem não demorou mais do que algumas curvas e Hamilton pôde vencer e subir para primeiro na classificação acirrada do campeonato. Vendo Hamilton ter vários problemas ao longo do ano, Rosberg se vê num momento ruim no campeonato, pois provocou uma grande confusão com a Mercedes em Spa, ganhou a antipatia da maioria dos fãs com isso a ponto de ser vaiado nos pódios em que participou, foi derrotado de forma inapelável em Monza e agora nem teve chance de fazer algo em Cingapura. Já são quatro corridas sem vencer e Nico ainda tem Hamilton muito forte nessa reta final de campeonato. Pode ser decisivo...
A Red Bull conseguiu colocar seus dois pilotos no pódio hoje, sendo que desta vez Vettel superou seu companheiro de equipe Ricciardo. O alemão corria solto em terceiro, mas deu muita sorte quando colocou os pneus macios um pouco antes da entrada do safety-car. Como Alonso fez sua parada, Vettel ficou em segundo e se não fizesse mais paradas, poderia ficar bem na corrida. Inicialmente Sebastian não gostou muito da ideia, mas como se fizesse uma terceira parada, ele perderia várias posições, o alemão resolveu arriscar e ficou na pista até o final. Vettel ainda tomou a ponta de Hamilton quando este fez sua parada, mas o alemão da Red Bull não foi capaz de segurar um Hamilton com um carro muito melhor que o seu e com pneus novos. No fim, Vettel, que nesse ano não está gerindo tão bem os pneus, ainda foi pressionado por Ricciardo, mas pela primeira vez conseguiu chegar à frente do australiano. Ricciardo poderia ter complicado um pouquinho mais a vida de Hamilton se ele ultrapassasse o inglês na saída dos pits, mas o australiano estava mais preocupado com Alonso, que tinha pneus mais novos e no fim, ainda perturbou um pouco a vida do seu companheiro de equipe, mas o terceiro lugar ficou de bom tamanho para Daniel, pois ele relatou um problema em seu carro durante a corrida. A largada de Alonso, fritando tudo por fora da primeira curva, na tentativa de ultrapassar os dois Red Bulls, mostrou bem a gana do espanhol, mas tendo que devolver a posição para Vettel, Alonso ficou o primeiro stint em terceiro, tomando o lugar de Vettel na primeira parada. Quando o safety-car deu o ar da graça, Alonso tentou uma estratégia de tentar tirar a vitória de Hamilton, mas como os dois carros da Red Bull pensaram da mesma maneira, o espanhol passou o resto da corrida atrás de Ricciardo, perdendo um pódio que parecia ser facilmente dele. Porém, quem arrisca pode ganhar tudo. Ou ficar com nada. Kimi Raikkonen foi outro que demonstrou que a Ferrari ainda sofre com problemas de velocidade de ponta, pois o finlandês ficou praticamente a corrida inteira atrás de um carro, primeiro de Massa, depois de Button, sem conseguir efetuar a ultrapassagem, só passando Button quando este abandonou e Bottas quando este errou na última volta, mas como Raikkonen ficou perto de Alonso o final de semana inteiro, sua sétima posição foi amarga.
Felipe Massa fez uma corrida tática e se deu muito bem, conseguindo um bom quinto lugar, principalmente se lembrarmos da situação da Williams na sexta-feira. Massa não tinha chance de brigar com Mercedes, Ferrari e Red Bull, mas sua agressividade na luta com a McLaren na primeira volta o deixou numa situação boa na corrida, segurando Raikkonen após a primeira rodada de paradas e depois conseguindo levar seus pneus macios por praticamente quarenta voltas no calor de Cingapura. Não restam dúvidas que Massa foi ajudado por Bottas, que com problemas na direção hidráulica, mas com muita velocidade final, segurou um verdadeiro trenzinho atrás de si, fazendo com que Massa conseguisse abrir uma boa diferença quando Bottas foi ultrapassado nas voltas finais. O finlandês acabou errando na última volta e ultrapassado por vários pilotos, ficou sem pontos e não ajudou muito a causa da Williams no Mundial de Construtores, mesmo os ingleses permanecendo em terceiro no Mundial, à frente da Ferrari. Vergne finalmente fez uma corrida digna para quem precisa mostrar serviço e ser contratado por alguém no próximo ano, mas mostrando que o francês não está com muita sorte, uma punição de 5s fez com que ele caísse para nono, após cruzar a bandeirada em sexto, após bela corrida no stint final, algo que Kvyat, que chegou a dizer pelo rádio que estava morto devido ao calor, não fez.
Quem saiu ganhando com a punição de Vergne foi Sérgio Pérez, que fez uma espetacular corrida de recuperação após ser tocado por Adrian Sutil e com sua asa dianteira espalhada pela pista, trazer o safety-car para a pista. Obviamente tendo que trocar a asa dianteira e ficar nas últimas posições, o mexicano da Force India começou uma baita corrida de recuperação, principalmente quando colocou os pneus supermacios e, ao mesmo tempo em que gerenciava os pneus para durarem o máximo possível, Pérez foi ultrapassando quem via pela frente para chegar em sétimo na pista e sexto, com a punição de Vergne. Sérgio Pérez, aos poucos, volta a mostrar a bela pilotagem que fez na Sauber em 2012 e chamou a atenção da McLaren, enquanto que Nico Hulkenberg fez uma prova discreta e mesmo pontuando, não teve o mesmo ímpeto do companheiro de equipe. A McLaren vinha na briga com a Williams, particularmente com Button, que pressionou fortemente Bottas, mas acabou tendo um problema no final da prova e abandonou. Por sinal, o inglês parece ter sofrido de problema parecido com o de Rosberg, com a tela LED no seu volante apagando e depois reiniciando, como se o PC de Button tivesse travado e ele precisasse apertar o velho Ctrl+alt+delete. Magnussen ainda marcou pontos, mas não escapou dos puxões de orelhas dos comissários quando passou Massa, na primeira volta, utilizando o lado de fora da pista. A Lotus, com Maldonado à frente, parecia a ponto de pontuar, mas quando os carros que pararam à sua frente os alcançou nas voltas finais, nem o venezuelano e nem Grosjean puderam fazer nada para impedir de serem ultrapassados. A Sauber só apareceu em dois momentos nada agradáveis. O primeiro foi o toque de Sutil em Pérez que trouxe o safety-car, para desespero da bela namorada do alemão. E depois com Gutierrez chutando tudo após outro abandono. As pequenas fizeram o papel de sempre, com destaque para o abandono de Kobayashi ainda na volta de apresentação, mostrando que se a Caterham virar 2015, será uma surpresa enorme.
Mesmo com a Mercedes dando chance para as rivais na Classificação, em ritmo de corrida as Flechas de Prata ainda estão bem à frente das demais. O problema ainda é a confiabilidade do carro. Contando com o abandono de hoje de Rosberg, é a quinta vez que um carro da Mercedes fica pelo caminho, mas como a maioria dos infortúnios tinham acontecido com Hamilton, desta vez o inglês não tinha do que reclamar, ainda mais agora com a liderança do campeonato em mãos. Faltam ainda cinco provas (seis, já que a última tem o dobro de pontos). A Mercedes ainda tem o melhor carro do pelotão e seus pilotos, apesar da aparente trégua, ainda são rivais próximos no campeonato. Um belo final de campeonato se avizinha, mas já está na hora dos alemães garantam que os dois carros recebam a bandeirada, para alegria dos fãs.
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