O esporte a motor é marcado por várias parcerias piloto/montadora que se tornaram icônicas e entraram para a história. Michael Schumacher e Ferrari. Sebastien Loeb e Citröen. Valentino Rossi e Yamaha. Bernd Schneider e Mercedes. Tom Kristensen e Audi. Rick Mears e Penske. São vários exemplos de pilotos que levaram suas equipes rumo ao estrelato e se tornaram multi-campeões. Quando Ron Dennis anunciou a contratação de Fernando Alonso no final de 2005 para correr pela McLaren em 2007, parecia que seria uma contratação certeira. Alonso era jovem, talentoso e tinha acabado de interromper o longo domínio da Ferrari, conquistando seu primeiro título aos 24 anos. Para arrematar a grande contratação feita por Dennis, Alonso conquistou o bicampeonato numa disputa direta com a Ferrari de Michael Schumacher em 2006. Nada indicava que a chegada de Alonso à McLaren poderia dar errado.
Anos atrás estava assistindo a um debate de futebol e o repórter Eric Faria falou algo que me marcou: Toda contratação é uma aposta. E ele tem toda razão. Quando um reforço é anunciado, cria-se uma expectativa para o que ele pode fazer e só tempo dirá se as expectativas serão correspondidas, excedidas ou até mesmo ficarão abaixo do esperado, por melhor que a contratação seja. Assim que chegou à McLaren, Alonso deu a equipe alguns décimos de segundo que fez o time prateado voltar a brigar diretamente pelo título. Palavras do próprio espanhol, mas que os resultados na pista davam razão à Fernando. A McLaren brigou o ano inteiro com a Ferrari pelo título, mas o que Alonso não esperava era ter que brigar com a própria equipe por causa da chegada do prodígio Lewis Hamilton. Os bastidores foram tão quentes, com direito a uma espécie de delação premiada por parte de Alonso, que o espanhol só ficou um ano na McLaren e parecia que não voltaria ao reino de Ron Dennis.
Oito anos depois a McLaren iniciava uma promissora parceria com a Honda e os japoneses queria uma estrela para ajudar o desenvolvimento do novo motor híbrido. O escolhido, à peso de ouro, foi Fernando Alonso. O espanhol tinha passado pela Ferrari com a expectativa de emular Schumacher e formar uma parceria vitoriosa com os italianos, mas o temperamento complicado de Alonso fez com que o espanhol saísse da casa de Maranello pelas portas dos fundos e sem títulos. Alonso era uma aposta da Honda para o seu retorno à F1, mas o que se viu foi o início da derrocada da tradicional McLaren. O motor Honda se mostrou bem abaixo das expectativas e Alonso deixava isso bastante claro para quem quiser ouvir. Quem esquecerá o 'GP2 Engine' em plena Suzuka? O clima entre McLaren e Honda se tornou insustentável na medida em que os resultados não vinham e Alonso colocava cada vez mais gasolina na fogueira ardente. A promissora parceria entre McLaren e Honda se desfez à pedido de Alonso, que tomava cada vez mais partido da McLaren, à essa altura sem a autoridade de Ron Dennis.
Novamente a McLaren se tornava uma equipe cliente e sem patrocinadores, se contentava em marcar alguns pontos. As escolhas da McLaren patrocinadas por Alonso se mostraram terrivelmente erradas e a outrora gigante McLaren se tornou uma equipe média do pelotão intermediário. Enquanto sofria para marcar pontos na F1, Alonso começou a olhar para fora da F1 e viu que outros títulos importantes poderiam ser conquistados em outras categorias. Em 2017, com total apoio da McLaren, Alonso estreou em Indianápolis e o sucesso foi imediato, com Fernando chegando a liderar a grandiosa corrida. Alonso prometeu voltar à Indiana, trazendo consigo a McLaren, que apoiava o espanhol em praticamente tudo que ele fazia. Alonso venceu em Le Mans quando praticamente não teve oposição em Sarthe e a vitória em Indianápolis se tornou uma obsessão. Era a tríplice coroa!
Alonso e McLaren resolveram se unir para vencer em Indianápolis, porém, outras escolhas erradas fizeram que essa empreitada se tornasse um vexame histórico. Quando correu em Indianápolis em 2017, a McLaren teve o luxuoso auxílio da equipe família Andretti, que mesmo acometida por uma famosa 'maldição', é bastante experiente na Indy e já venceu em Indianápolis, mesmo com pilotos que não tenham sobrenome Andretti. Na época ainda apoiada pela Honda, a Andretti deu um bom equipamento para Alonso, que mostrou todo o seu talento com uma rápida e incrível adaptação. Após ter ajudado expulsar a Honda da McLaren, Alonso sabia que correria com Chevrolet em 2019. Os custos da Indy são muito inferiores ao da F1 e talvez isso fez com que a cúpula da McLaren a encorajar um projeto solo, onde a equipe se prepararia praticamente sozinha. Para ter um acerto básico, a McLaren procurou ajuda a Travor Carlin, conhecido por suas equipes nas categorias de base inglesa e que faz alguns anos investe na Indy. Equipado com motores Chevrolet e com know-how de estar participando de toda a temporada da Indy, a Carlin parecia uma escolha simples, mas a McLaren não percebeu que os melhores resultados da Carlin são em circuitos mistos. Ao contrário de dois anos atrás, Alonso não recebeu um bom equipamento em mãos e a inexperiente McLaren não soube acertar um carro num circuito manhoso.
Um acidente de Alonso nos treinos não ajudou a causa da McLaren. Com as mesmas cores que compete na F1 e usando o número (66) que Rutherford venceu com a antiga McLaren na década de 1970, logo ficou claro que Alonso teria muitas dificuldades nos treinos. Na classificação desse sábado, Alonso não conseguiu colocar seu carro entre os trinta primeiros, o colocando na tensa situação de ir para o tradicional Bump-Day. Seis carros brigariam por três vagas. Alonso foi o terceiro a ir para a pista e fez uma média bem convencional. O último carro a ir para a pista era da equipe Juncos, que perdeu seus dois patrocinadores na véspera de maio e não participou do treinos de sábado por que Kyler Kaiser bateu forte na sexta-feira. A equipe é tão humilde que não teve como consertar o carro para a classificação no sábado e teve que usar peças emprestadas para tentar se classificar no domingo. Alonso era o último e dependia das voltas de Kaiser para ir ou não para a corrida no próximo domingo. Por apenas 0.013s num percurso de 10 km e percorrido em dois minutos e quarenta segundos, o bicampeão Fernando Alonso foi 'bumpeado' de Indianápolis.
Foi um dos maiores vexames da história centenária de Indianápolis. Alonso rapidamente entrou num carrinho de golf e saiu do ambiente cercado de repórteres ávidos pela história sendo escrita ali. A McLaren claramente subestimou o desafio que tinha em mãos em outra escolha terrivelmente errada por parte da equipe de Alonso. O detalhe é que o motor Honda começa a mostrar sua força na F1, com a Red Bull muito à frente da McLaren, mostrando outro erro estratégico da McLaren, que preferiu ouvir as lamentações do seu principal piloto. Quando Fernando Alonso foi anunciado a mais de treze anos atrás, nunca se imaginou que a gigante McLaren ficaria em tantas situação vexatórias ao longo dos últimos anos. E se há uma referência para esse período negro da tradicional equipe inglesa, foi quando Alonso se juntou à equipe e tudo passou a dar errado para ambos lados. Uma parceria que tinha muito potencial, mas que definitivamente não deu certo.
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