Quando as cinco luzes apagaram nessa manhã em Barcelona, Hamilton tracionou melhor do que Bottas, que largava na pole, porém, Vettel tracionou ainda melhor do que as duas Mercedes. No momento decisivo da corrida, os três primeiros colocados apontaram praticamente alinhados para a primeira curva do Grande Prêmio da Espanha. Quem teria mais huevos? Foi Hamilton. Vettel travou os pneus, quase bateu em Bottas e ao perder momentum para a curva 3, Verstappen pulou para terceiro, deixando o alemão da Ferrari à frente de Leclerc e Gasly. Essas cinco linhas e meia resumiram o chato Grande Prêmio da Espanha, realizado hoje em Barcelona. A largada definiu a corrida dos líderes e tirando uma ou outra mudança devido à estratégia de cada piloto, a corrida transcorreu praticamente sem nenhum intercorrência, numa corrida chata num palco onde as corridas normalmente são previsíveis.
Antes que alguém jogue uma pedra na F1 atual, lembremos que Barcelona já presenciou corridas como a de hoje com motores V10, V8 e V6 Híbrido. Com vitórias de Prost, Schumacher, Raikkonen, Alonso, Vettel e o próprio Hamilton. Com pneus estreitos ou largos, raiados ou totalmente slicks. Ao longo dos últimos anos, Barcelona sempre foi palco de corridas soníferas como a de hoje, não importando a geração de carros ou pilotos. Resumindo, a culpa é da pista estreita e cheia de curvas, onde o conhecimento prévio das equipes sempre nos mostrou corridas previsíveis. Lewis Hamilton não tem nada com isso. Venceu de ponta a ponta com um ritmo avassalador em cima do seu companheiro de equipe, mesmo Hamilton tendo tomado seis décimos no quengo de Bottas na classificação de ontem. Bottas terá que percorrer toda uma floresta amazônica se quiser chegar aos pés de Hamilton, que lhe deu uma resposta incisiva na briga pelo título.
No grupo de Whatts do GPTotal, falou-se que a dominância de uma equipe não agrada ninguém. Fato. Faz mal a qualquer esporte uma equipe vencendo tudo, como a Mercedes vem fazendo em 2019 com cinco dobradinhas consecutivas. Porém, não podemos criticar a competência. Hoje o campeonato inglês foi decidido à favor do Manchester City com o time de Pep Guardiola marcando quase cem pontos, o mesmo fazendo o vice-campeão Liverpool de Jürgen Klopp. Qualquer um poderia ter sido campeão, após temporadas fantásticas e irretocáveis dos dois clubes. Arsenal, Chelsea, Tottenham e Manchester United são grandes times e poderiam ser campeão em qualquer liga importante da Europa, mas o que City e Liverpool fizeram nessa temporada elevou o nível de excelência do futebol como um todo. A Mercedes vem conseguindo algo parecido. Red Bull e Ferrari construíram grandes carros e ninguém duvida da qualidade dos pilotos que lá estão, mas a equipe chefiada por Toto Wolff conseguiu um nível de excelência que aumentou o sarrafo para uma equipe que quer ser campeã, já podendo dizer que superou a Ferrari dos tempos de Schumacher, Todt, Brawn e Byrne. Ao contrário de 2002 e 2004, não se pode afirmar que Red Bull e Ferrari estão fracas, mas a Mercedes é que simplesmente está forte demais, ainda mais com suas rivais passando por momentos de transição.
Red Bull começa uma parceria promissora com a Honda, onde se viu o motor japonês (Kvyat) ultrapassando um carro com motor Ferrari (Grosjean), porém, ainda é muito cedo para Red Bull e Honda encontrarem o entrosamento necessário para realmente brigar pelo título. A troca de comando da Ferrari ainda provoca muita insegurança por parte dos chefes. A demora para a troca de posição entre Vettel e Leclerc nas duas oportunidades mostra a falta de um pulso firme no pit-wall vermelho. Com o tempo e a maior experiência dos chefes da Ferrari, essas situações sejam minimizadas num futuro próximo. A Mercedes não sofre desse mal. Com a mesma equipe desde 2013, o time germânico atingiu um grau de maturidade em que todas as variáveis são cobertas com muita eficiência, praticamente não deixando brechas para as rivais. Com o melhor carro do pelotão, um piloto histórico e outro em ascensão, somado a dois rivais ainda tentando conseguir o ponto ideal, a Mercedes vai fazendo história com a quinta dobradinha consecutiva, fazendo que o título não seja mais questão de 'se', mas de 'quando'. Hamilton demonstrou na freada da primeira curva, momento crucial da corrida, que tem o algo mais para derrotar qualquer rival, mesmo que Bottas esteja passando por sua melhor fase na carreira.
O animado pelotão intermediário só ficou interessante quando o safety-car apareceu nas voltas finais por causa de um acidente entre Lando Norris e Lance Stroll. Apesar do inglês da McLaren ter atingido Stroll por trás, indicando culpa de Norris, também é verdade que Stroll não deixou nenhum espaço para Norris e o acidente foi inevitável. Com os carros agrupados, a luta pela sétima posição foi animada e vencida pela Haas de Kevin Magnussen, que após um chega-pra-lá em Grosjean, não foi mais visto e venceu essa corrida à parte. Já o francês foi sendo ultrapassado, por causa do desgaste de pneus, até cair para décimo, porém, a comparação com Magnussen está ficando desigual demais. Grosjean irá fazer 33 anos e mesmo não sendo a desgraça que Galvão Bueno gosta de nos fazer parecer, o tempo do francês na F1 está se acabando. Kvyat, Sainz (fazendo a alegria do público espanhol) e Grosjean completaram os dez primeiros. A Renault, dona de um dos maior orçamentos da F1 atual, ficou fora dos pontos mesmo com seus dois carros chegando no fim. Uma decepção para um time do qual se esperava muito em 2019, mas está ficando atrás de times B de outras montadoras. Alfa Romeo ficou para trás na Espanha, mas ainda assim, ficaram muito na frente da decadente Williams.
Barcelona pode ter uma belíssima cidade e ter uma história bem legal, mas o circuito construído em Montmeló, dentro do programa das inesquecíveis Olimpíadas de 1992 (lá constroem, não se destroem autódromos para ter uma Olimpíada...) falhou fragorosamente em termos de emoção na pista. Sem um piloto carismático como Alonso, as arquibancadas tinham vários vazios. Com Zandvoort pedindo passagem graças à Verstappenmania, Barcelona poderá sair do calendário da F1. Olhando o histórico de corridas na capital da Catalunha, podemos dizer tchau à Barcelona, agradecer pelos inúmeros testes produtivos lá realizados e sair correndo para a Holanda!
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