segunda-feira, 25 de abril de 2022

Figura(EMI): Red Bull

 Após a vitória enfática na Austrália, a Ferrari esperava repetir o sucesso correndo no quintal de sua casa, no Autódromo Enzo e Dino Ferrari. A festa foi preparada e as arquibancadas estavam repletas de tifosi para comemorar mais uma vitória vermelha em Ímola. Porém, esses mesmos torcedores apaixonados tiveram que ver a rival Red Bull ter um final de semana praticamente perfeito, onde os austríacos só deixaram escapar um ponto, pelo terceiro lugar de Sérgio Pérez na Sprint Race. Foi uma exibição dominante da Red Bull, que conseguiu sua primeira dobradinha desde 2016. Max Verstappen já dera o recado no sábado quando mostrou um melhor trato com os pneus na Sprint Race e mesmo largando muito mal, o neerlandês conseguiu ultrapassar Leclerc no final da prova de cem quilômetros. Já no domingo ocorreu o inverso no apagar das luzes vermelhas e não apenas Verstappen manteve a ponta, como Sérgio Pérez ultrapassou Leclerc para ficar em segundo. O piloto da Ferrari fez o que pôde para ultrapassar o piloto mexicano, mudando tática inclusive, mas acabou rodando sozinho, consolidando o 1-2 da Red Bull, já que Verstappen esteve impecável na frente, marcando todos os pontos possíveis no final de semana. A Ferrari voltou a mostrar força em 2022 e vinha de duas vitórias, mas a Red Bull igualou o número de triunfos na casa dos italianos e se manter a confiabilidade, a Ferrari terá muito mais a lamentar num futuro breve.

Figurão(EMI): Lewis Hamilton

 Sabem aquelas dondocas que são convidadas para uma festa humilde, bem diferente de tudo que estava acostumadas? Ao invés de escargot e caviar, teve que engolir pastelzinho de carne e coxinha. Era assim com Lewis Hamilton no meio do pelotão intermediário nesse domingo em Ímola. Acostumado a lutar por vitórias ou, no mínimo, por um pódio, Hamilton estava completamente deslocado ficando atrás de Lance Stroll num primeiro momento e depois ficando empacado em Pierre Gasly. Para a alegria dos haters, Lewis teve uma corrida patética do início ao fim em Ímola, principalmente quando olhamos no outro lado do boxe da Mercedes e encontramos George Russell chegando num excelente quarto lugar, ocupando o mesmo posto no Mundial de Pilotos. O calvário de Hamilton começou com uma má largada, onde perdeu duas posições, enquanto Russell pulou cinco lugares. Com a pista úmida, ultrapassar não era algo fácil, mas longe de ser impossível, como mostrou o próprio Russell, que efetuou uma bela ultrapassagem sobre Magnussen. Um pit-stop ruim da Mercedes fez Hamilton perder mais uma posição e ao invés de enxergar a traseira da Aston Martin de Stroll, a paisagem de Lewis para o resto da corrida foi a traseira da Alpha Tauri de Gasly, mesmo o DRS estando disponível, Hamilton foi incapaz de ultrapassar o francês pela gloriosa 13º posição (todos ganhariam uma posição com a punição de Ocon). Depois da corrida Hamilton jogou a toalha pelo título, mas se quiser mostrar grandeza mais uma vez, Lewis pode imitar seu ídolo Senna e referência Schumacher. Quando tiveram carros ruins logo após seus títulos, as duas lendas não baixaram os braços e fizeram corridas acima do potencial dos seus carros. No momento, é esse o desafio de Hamilton para 2022 e exibições pífias como a de ontem não o ajuda em nada.

domingo, 24 de abril de 2022

Dia dos touros


Com a Ferrari em ótima fase e correndo em Ímola, reduto ferrarista, era esperado uma bela festa dos tifosi no Autódromo Enzo e Dino Ferrari, porém, os austríacos da Red Bull acabaram com a festa dos italianos com uma marcante dobradinha e num final de semana praticamente perfeito, a turma de Christian Horner colheu quase 100% dos pontos ofertados nesse final de semana com Sprint Race e vários momentos de pista molhada. Max Verstappen se recuperou do seu infeliz abandono na etapa passada para uma vitória categórica, conquistando um Grand-Chelem, onde largou da pole, liderou todas as voltas rumo à vitória, só faltando a melhor volta, roubada no fim por Charles Leclerc, que cometeu um erro incaracterístico e sequer foi ao pódio após uma briga intensa e que durou a prova toda com Sérgio Pérez, que sem Leclerc para lhe perturbar, completou a dobradinha da Red Bull, com Lando Norris confirmando a rápida recuperação da McLaren com um belo pódio.


Ao contrário do que se dizia antes de iniciar o final de semana, o domingo amanheceu chuvoso e a largada aconteceria com pista molhada, mas longe de estar encharcada, como ocorrera em 2021. A chuva havia parado e mesmo as equipes alertando os pilotos de uma chuva que viria a qualquer momento, ela não deu as caras nas 63 voltas seguintes. Com todos os pilotos largando com pneus intermediários, aconteceu inverso do visto ontem no apagar das luzes vermelhas, quando Max Verstappen perdeu a ponta na largada da Sprint Race para Charles Leclerc, que largara perfeitamente. No domingo, com os tifosi fazendo uma festa maravilhosa nas arquibancadas, Max largou de forma perfeita, trazendo consigo Sérgio Pérez, que não tomou conhecimento da Ferrari patinando em seus lugares no grid tanto com Leclerc, quanto para Sainz. O dia da Ferrari não começava bem e pioraria apenas alguns metros depois. Com Leclerc sendo ultrapassado também por Norris, Sainz se viu brigando com a outra McLaren de Ricciardo na Variante Tamburello, quando houve o toque entre os dois. Numa pista 'old school', Sainz ficou atolado na brita e foi game over para o espanhol, que mesmo com a renovação de contrato anunciado essa semana, continua tendo um 2022 bem abaixo das expectativas. O Safety-Car não mudou muito a situação da corrida, com Verstappen na ponta, seguido à distância por Pérez. Leclerc parecia que teria uma missão bem parecida que Verstappen teve no ano passado, quando teria que enfrentar sozinho uma equipe com um carro tão bom quanto o dele, mas com dois pilotos adversários no páreo. O monegasco ultrapassou Norris rapidamente, encostou em Checo bem no momento em que os pilotos foram aos pits colocar pneus slicks médios, talvez esperando uma chuva que nunca apareceu, mas que em sua grande maioria resistiu bem aos dois terços de prova restantes.


Leclerc chegou a sair na frente de Pérez, mas com pneus frios, foi presa fácil para o mexicano. Enquanto isso, Verstappen se destacava cada vez mais na ponta, não vendo nenhum adversário pela frente. Quer dizer, houve apenas um encontro com um velho rival, mas disso falaremos mais tarde. Verstappen dominou a prova como quis e venceu pela 22º vez na carreira com uma facilidade não esperada por estar correndo 'fora de casa'. Para melhorar o dia da Red Bull e acabar de vez com a giornata da Ferrari, Leclerc tentava novamente se aproximar de Pérez após uma segunda parada dos três primeiros quando atacou demais a zebra na Variante Alta e acabou rodando sozinho. Charles deu um ligeiro toque no muro, mas retornou à pista com a asa dianteira avariada e ao troca-la, saía da zona de pódio. Com pneus macios que havia acabado de trocar, Leclerc ainda ganhou duas posições e tirou o ponto da melhor volta de Verstappen, mas o monegasco não poderá mais cometer erros tão estúpidos como o de hoje, enquanto a Ferrari sai da pista que leva o nome do seu fundador lambendo as feridas de um final de semana que tinha tudo para ser seu e acabou sendo do seu maior adversário desse ano.


Quem se aproveitou dos infortúnios ferraristas foi Lando Norris. O inglês da McLaren fez uma prova bem solitária, mas sólida o suficiente para subir ao pódio e consolidar a recuperação do seu time, que na primeira etapa do ano ficou nas últimas posições. Porém, temos que falar de Daniel Ricciardo. Todos gostam do australiano por sua simpatia e seu alto astral, porém, é inegável que Ricciardo vem fracassando em sua passagem na McLaren, tirando sua vitória em Monza ano passado. Ricciardo bateu em Sainz na primeira curva e caiu para último. Sem ter nada a perder, Daniel passou a ser o termômetro das demais equipes ao ser sempre o primeiro a tentar alguma coisa. Inicialmente Ricciardo inaugurou as visitas aos pits para colocar pneus slicks. Deu certo. Subiu várias posições e quase ultrapassou um sorumbático Hamilton. Depois tentou um diferente ao colocar pneus slicks duros, talvez esperando que os pneus médios dos demais pilotos não durassem até o final e com pista livre, ele conseguisse uma vantagem. Deu com o burro n'água. Tirando os três primeiros, ninguém fez uma segunda parada e Ricciardo ficou isolado na última posição, enquanto seu companheiro de equipe subiu ao pódio. Prestes a completar 33 anos, o bonde da história para Daniel Ricciardo já passou e o australiano não parece ter a motivação suficiente para correr atrás do bonde e vai ficando mais e mais para trás frente aos jovens que vão surgindo na F1, começando pelo próprio colega de boxe, Lando Norris.  


No pelotão intermediário, claro destaque para George Russell. O inglês da Mercedes conseguiu uma largada espetacular, se aproveitando dos toques na sua frente para sair de 11º para 6º e ultrapassou com maestria a Haas de Kevin Magnussen sem ajuda do DRS. Com o erro de Leclerc no fim, Russell terminou num excelente quarto lugar, sendo bastante pressionado por Valtteri Bottas. O detalhe foi que Bottas, que usa o melhor motor da F1 atualmente, tinha à disposição o DRS e mesmo vendo a facilidade que os carros ultrapassavam usando o aparato, o finlandês da Alfa Romeo simplesmente foi incapaz de ultrapassar seu substituto na Mercedes. Mais uma vez Bottas vacilou quando precisou ultrapassar. Pior que Bottas, somente Hamilton. Nas redes sociais os haters se deleitaram com a atuação patética de Lewis Hamilton nesse domingo. O heptacampeão foi incapaz de realizar uma ultrapassagem no dia de hoje, com ou sem DRS, e ao perder duas posições na largada, Hamilton viu seu final de semana virar pó. Foi uma corrida para esquecer, onde não conseguiu ultrapassar o limitado Lance Stroll com pista molhada e quando a Mercedes fez um pit-stop capenga, Lewis perdeu posição para Gasly e ficou empacado atrás do francês na briga pela gloriosa 13º posição. E nem isso Hamilton conseguiu. Está claro que a Mercedes não terá condições de briga contra Red Bull e Ferrari no curto prazo, mas será interessante ver a reação de Hamilton a uma situação nova nessa altura da carreira. Como o próprio inglês já disse, não será a primeira vez que não terá um bom carro nas mãos, mas Hamilton terá que rebolar para repetir 2009 e conseguir pelo menos uma vitória e sair do fundo do poço onde se encontra, quando a única vez que viu Verstappen na corrida foi quando tomou uma humilhante bandeira azul.

Tsunoda fez uma corrida surpreendente na prova de casa da Alpha Tauri e conseguiu um bom sétimo lugar, bem à frente do citado Gasly. A Aston Martin se recuperou dos finais de semanas decepcionantes desse início da campeonato e pontuou com seus dois pilotos, além de ter visto Vettel finalmente fazer uma corrida digna em 2022. A Haas sofreu em ritmo de prova, mas pelo menos Kevin Magnussen garantiu mais alguns pontinhos para o time, enquanto Mick Schumacher vem sendo uma das decepções até aqui. O alemão acabou se assustando com o entrevero entre Sainz e Ricciardo, terminando por sair da pista e ao tocar na lateral de Alonso, destruiu a corrida do espanhol. Schumacher ainda saiu da pista uma vez numa corrida onde esteve longe da zona de pontuação, local em que seu companheiro de equipe já se acostuma a ficar. Mick já tomou uma pancada com a renovação de Sainz, indicando que a Ferrari não conta com ele à médio prazo e o alemão precisa entender que Magnussen é muito melhor do que o atraso de vida chamado Mazepin. A Alpine teve um final de semana horrível, com Ocon ficando bem longe dos pontos e o francês ainda foi punido por quase bater em Hamilton nos boxes, enquanto Alonso abandonou no início da prova. Albon fez outra corrida acima do potencial do carro, onde o anglo-tailandês usou, mais uma vez, muito bem os pneus para subir para 11º, ficando na frente da briga entre Gasly e Hamilton. Já Zhou e Latifi tiveram a felicidade de suas famílias não atrasarem as faturas com suas equipes...


Num final de semana que a Ferrari queria que fosse sua em casa, quem sorriu foi a Red Bull, com uma dobradinha dominante. Mesmo com o decepcionante sexto lugar, Leclerc ainda tem uma folga na liderança do campeonato, mas se a Red Bull manter a pegada (e melhorar a confiabilidade), a Ferrari brevemente terá algo a mais para lamentar do que uma corrida ruim em casa.

Competitividade a toda prova

 


A MotoGP está vivendo um momento único em sua história e que até mesmo em outras categorias top é bastante raro de acontecer. Nas cinco primeiras corridas de 2022, são quatro vencedores diferentes de quatro motos diferentes, mas com uma alternância de desempenhos assombrosa, mostrando uma competitividade impressionante para um campeonato mundial de altíssimo nível. No belo circuito de Portimão, o atual campeão Fabio Quartararo deixou a má fase para trás e venceu de forma categórica em Portugal, com Johan Zarco completando a dobradinha francesa. 

O clima atlântico em Portimão foi decisivo no final de semana lusitano da MotoGP, com a chuva indo e vindo para colocar dúvidas nas equipes e pilotos, porém, a corrida foi inteiramente no seco e isso ajudou Fabio Quartararo a colocar em prática sua tática tantas vezes vistas em 2021. Fabio ainda sofre com a falta de potência da Yamaha nas retas e por isso o talentoso francês precisa garantir vantagem nas partes travadas da pista para não ser alcançado nas retas. E foi assim que Quartararo fez nesse domingo para vencer pela primeira vez como campeão reinante. Logo de cara Fabio largou bem, não tomando conhecimento do pole Zarco e ao ultrapassar Mir, que mesmo numa Suzuki tem praticamente os mesmos problemas (e virtudes) da Yamaha, Quartararo disparou na frente, cortando um dobrado nas partes lenta da pista para não ser engolido por uma moto mais veloz do que a sua Yamaha, que desenvolvia até 12 km/h a menos do que as Ducatis no final da reta dos boxes. Quartararo venceu com categoria e como falado mais cedo, se aproveitou dos infortúnios alheios para assumir a ponta do campeonato, empatado com Alex Rins.

Vencedor da prova passada, Enea Bastianini foi uma vítima do clima e largou mais atrás, porém, o italiano da Gresini não escalava o pelotão como esperado e estava apenas em 11º quando caiu sozinho. Algo parecido que já tinha afligido Aleix Espargaró, vencedor na Argentina para ser apenas 10º na prova seguinte em Austin, onde Bastianini triunfou. Más notícias para Quartararo? O que chama atenção é que a Yamaha atualmente depende única e exclusivamente do francês. Seus demais pilotos decepcionam de forma incrível. Franco Morbidelli, vice-campeão em 2020, faz uma temporada tenebrosa, onde mal consegue marcar pontos, ficando atrás até mesmo de Andrea Doviziozo, tantas vezes vice-campeão, mas apanhando em sua volta à Yamaha e mais uma vez fora do top-10 hoje. Se na Honda há a 'Marquez-dependência', na Yamaha existe hoje uma 'Quartararo-dependência'.

Falando no espanhol, Márquez fez uma prova até de certa forma discreta após sua belíssima corrida em Austin, finalizando em sexto após uma ultrapassagem na volta final sobre seu irmão Alex para se tornar a melhor Honda do dia. E finalizar um dia onde os seis primeiros colocados usavam seis motos diferentes. Após uma largada ruim, Zarco teve paciência para ultrapassar a Suzuki de Mir para completar a dobradinha francesa em Portugal. Paciência que não teve Jack Miller, que mesmo já tendo ultrapassado Mir, escorregou na primeira curva e ainda levou o piloto da Suzuki junto. A batata de Miller dentro da equipe oficial da Ducati está em fogo alto. Isso fez com que Aleix Espargaró se recuperasse da exibição pífia em Austin e retornasse ao pódio com a Aprilia. Largando da última fila após errar a escolha dos pneus na classificação, Alex Rins escalou o pelotão rumo ao quarto lugar e na base da consistência, Rins lidera o campeonato junto de Quartararo, mesmo sem nenhuma vitória. Correndo em casa, Miguel Oliveira carregou sua KTM nas costas e finalizou num bom quinto lugar.

Com tanta alternância entre os pilotos, quem quiser ser campeão da MotoGP em 2022 terá que marcar todos os pontos possíveis num dia bom, além de mitigar o prejuízo em dias ruins. Por sinal, todos os vitoriosos estão tendo dias ruins na corrida seguinte, mas a pista de Jerez, palco da próxima etapa já na semana que vem, é um território da Yamaha e Quartararo sempre anda bem na pista andaluz. Poderia ser esse o momento de Fabio quebrar essa insana competitividade da MotoGP 2022?  

sábado, 23 de abril de 2022

Emoção fake

 


Com cinquenta anos de experiência na F1, logo no começo da Sprint Race desse sábado Reginaldo Leme deu a dica do que seria visto nos cem quilômetros de mini-prova: desse jeito, o DRS está deixando as ultrapassagens com artificialismo demais. A prova que definiu o grid para a prova de amanhã em Ímola foi cheia de ultrapassagens e para os gritos de Sergio Maurício, bastante emocionante. Será mesmo?

Para quem acompanha o blog sabe da minha opinião sobre o DRS. Os cultuados anos 1980 da F1 foram marcados pela Era Turbo e, sim, havia ajuda para realizar ultrapassagens já naquela época. Bastava aumentar a pressão do turbo para ultrapassar o adversário. Porém, isso estava nas mãos do piloto e numa época em que a confiabilidade não chegava a 20% da atual, os pilotos de então sabiam o resultado de ficar muito tempo com a pressão do turbo lá no alto. Em breve, ele enxergaria uma densa fumaça branca nos seus retrovisores. Portanto Piquet, Prost, Mansell, Senna e todos os grandes daquela época sabiam das consequências se apertasse demais o botãozinho mágico, mas nem por isso deixavam de usá-lo. O grande problema atual é a regra do uso DRS. Permitir o piloto usar o DRS apenas numa determinada posição da pista e se estiver a menos de 1s do rival causa a impressão deixada por Reginaldo Leme e ficou excessivamente clara numa pista que é notoriamente de difícil ultrapassagem. Com os carros feitos para andarem próximos uns dos outros, ultrapassar deixou de ser algo desafiante, mas uma mera questão estratégica, onde o atacado fica sem ter o que fazer. O piloto da frente fica, literalmente, de mãos atadas.

A regra existe faz mais de dez anos e sempre foi muito criticada pelos fãs mais puristas, mas com os novos carros a F1 precisa de uma reflexão sobre o DRS e da forma como é utilizada. Sempre defendi que a forma como a Indy usa o Push-to-pass, o seu 'DRS', é a mais inteligente. No começo da corrida os pilotos tem à disposição uma certa quantidade de 'Pushs' para usar quando, onde e como quiser durante a corrida. Como na F1 dos anos 1980, tudo fica na mão dos pilotos Uma regra mais justa, na visão desse humilde escriba. A F1 deveria imitar a Indy? Aumentar o range de um para dois segundos para usar o DRS? Eliminar de vez o aparato? O certo é que a F1 precisa rever provas como a Sprint de hoje, vencida por Max Verstappen ao cuidar melhor dos pneus após ser ultrapassado por Leclerc na largada, perseguir a Ferrari a uma distância segura para não superaquecer pneus e quando ficou menos de um segundo de Leclerc...  

segunda-feira, 11 de abril de 2022

Figura(AUS): Charles Leclerc

 O próprio monegasco já tinha admitido que não gostava muito da pista de Melbourne, contudo, com o melhor carro do pelotão, como Leclerc poderia deixar escapar a chance de dominar? A Ferrari dominou o final de semana australiano de forma tão enfática como nos gloriosos tempos de Michael Schumacher e mesmo estando bem longe dos louros do alemão, Leclerc teve um final de semana em que Michael assinaria. Mesmo não gostando da pista, Leclerc nunca saiu do rol dos favoritos e mesmo com a Red Bull pressionando e até mesmo Carlos Sainz andando bem nos treinos livres, Charles conseguiu uma pole enfática no último momento. Enquanto Sainz teve seus problemas no Q3 e pisou na bola no pouco tempo em que esteve na pista no domingo, Leclerc administrou a vantagem sobre Max Verstappen andando em média meio segundo mais rápido e tudo ficou ainda mais fácil quando o neerlandês viu seu motor Red Bull falhar. Sem muito com o que se preocupar, Leclerc levou o carro para a vitória, a segunda em três corridas e uma liderança mais do que confortável no campeonato. Leclerc olha de lado e vê a Mercedes sofrendo com um carro de dificilíssimo acerto, um companheiro de equipe titubeante nesse início e uma Red Bull com sérios problemas de confiabilidade. O resultado é que Leclerc já é grande favorito ao título mesmo com o campeonato ainda em seu início. 

Figurão(AUS): Aston Martin

 A mistura é tão capciosa, que chega a impressionar como uma equipe tão promissora chegou à uma situação como essa. Dentro desse caldeirão chamado Aston Martin em 2022, há um dono de equipe que obteve muito sucesso fora das pistas e está impaciente para repetir o mesmo padrão na F1, um piloto fraquíssimo, que por ser filho do dono dessa equipe é intocável e por último, um piloto em franca decadência e em má fase fazem quase quatro anos. Lawrence Stroll é apaixonado por corridas e extremamente bem sucedido em praticamente tudo em que se envolveu, porém, o canadense crê que seu rebento seja um piloto de sucesso e por isso, investe tubos de dinheiro numa equipe que até pouco tempo atrás de chamava Force India e com uma gestão melhor, tinha tudo para crescer. Quando Lawrence entrou no time, havia a esperança de que o time conseguiria seu norte, mas Stroll faz questão que Lance esteja no time. E isso é um handicap enorme. Lance Stroll já conseguiu bons resultados esporádicos, mas está mais cristalino que as águas de Maragogi que o jovem canadense não merece estar na F1. Mas como mexer no filho do homem? Enquanto jovens talentosos saem da F1 por falta de espaço, Lance fica numa equipe média atrasando-a por ele próprio ser um estorvo. Porém, Lawrence não poderia focar somente no seu filhote e para mostrar que está na F1 para ficar, contratou Sebastian Vettel para liderar a equipe. O problema é que Vettel nunca se recuperou totalmente de sua saída de pista em Hockenheim em 2018 e o alemão, prestes a completar 35 anos, está numa vibe diferente de quando dominou a F1 no começo da década passada. Procurando se envolver em assuntos extra-pista Vettel é uma sombra de si mesmo e em Melbourne teve um final de semana abaixo da crítica, com seguidos erros que envergonhariam até mesmo um piloto estreante. Para não ficar atrás do seu companheiro de equipe, Lance se envolveu em vários incidentes completamente evitáveis e onde o talento do piloto é exigido e, sem surpresas, Stroll falhou. Enquanto isso, Lawrence cobra resultados imediatos e tudo que pode ver é um zero ponto ao lado do nome de sua equipe, por sinal, o único entre todas as equipes. Lawrence sabe como administrar negócios, mas querer que Lance seja a ponta de lança da equipe junto a um decadente Vettel é querer demais. O resultado está com a Aston Martin zerada e completamente sem rumo.

domingo, 10 de abril de 2022

Emoção na praia

 


Corrida em Long Beach é sinônimo de tradição e nostalgia, numa das corridas mais emblemáticas do mundo e a segunda prova mais importante do calendário da Indy, perdendo obviamente para as 500 Milhas de Indianápolis. Porém, por se tratar de uma pista de rua, muitas vezes tudo isso não representa também uma corrida emocionante e cheia de alternativas. Não foi o caso nesse ano. A corrida realizada nesse domingo foi das melhores e recheada de emoção, com Josef Newgarden segurando Romain Grosjean nas voltas finais para vencer pela segunda vez em 2022 e se tornar líder do campeonato.

Os treinos viram o domínio da equipe Andretti e o pole Colton Herta parecia ter a prova nas mãos no primeiro stint, com uma tocada segura e firme. Newgarden comboiava o jovem compatriota, enquanto Alex Palou acompanhava à distância. Parecia que os três seriam os candidatos únicos a vitória. Os pneus macios tinham problemas de desgaste excessivo, mesmo o dia californiano não tenha sido dos mais quentes. A velha raposa felpuda Scott Dixon, tendo largado apenas em 16º, deu o tom da estratégia quando foi um dos primeiros a fazer o pit-stop e com pneus duros novos, se tornou o mais rápido da pista. A dica estava dada: quem parasse logo, poderia dar o que se convencionou de chamar 'undercut'. Enquanto os pilotos do pelotão intermediário visitavam seus pits, as câmeras não prestaram muita atenção no pit de Palou, se preocupando apenas com Herta e Newgarden. Bobinhos. Quando a primeira rodada de paradas terminou, era Palou quem liderava, com Newgarden mantendo a posição e um furioso Herta em terceiro.

Com o recado dado, era esperado ver como se comportariam as equipes na segunda rodada de paradas. Antes disso, Herta achou o muro e parecia que outro dia triste era destinado à equipe Andretti, que já vira o horroroso Devlin Defrancesco bater e Alexander Rossi ter problemas nos pits. Newgarden parou depois de Palou, mas surpreendentemente o piloto da Penske voltou na frente do atual campeão. O segredo? Os pneus duros, que todos colocaram na primeira parada, não se desgastavam tanto. Palou tentou de todas as formas e mesmo com pneus mais aquecidos, permaneceu em segundo, quanto uma bandeira amarela trouxe um novo player para a disputa. Romain Grosjean fazia uma corrida até mesmo discreta, mas com a corrida imobilizada, o francês da Andretti encostou nos líderes e havia um fato novo: Grosjean estava com pneus macios. Foi o início de um quarto de corrida final de tirar o fôlego. Primeiro Grosjean ultrapassou Palou e partiu para cima de Newgarden, que chegou a errar e viu o carro de Grosjean lado a lado algumas vezes.

Duas bandeiras amarelas nas voltas finais trouxe a tensão das relargadas, mas a vantagem dos pneus de Grosjean tinha terminado. Mesmo com a pista imunda de detritos e restos de borracha, Newgarden segurou a pressão e venceu pela segunda vez em 2022, consolidando um início perfeito para a Penske nessa temporada. O então líder Scott McLaughlin teve um dia ruim, onde rodou sozinho no hairpin quando se preparava para colocar uma volta na chicane ambulante chamada Tatiana Calderón. Saindo do top10, o neozelandês viu Newgarden o superar no campeonato. Dixon fez outra corrida de cabeça e ganhou dez posições, enquanto Marcus Ericsson, que vinha fazendo uma boa corrida, bateu sozinho, deixando Palou na luta pelo título. Com o acidente de Herta, Grosjean salvou o dia da Andretti. Com Power fazendo um campeonato regular ao terminar em quarto, a Penske tem três pilotos entre os quatro primeiros no campeonato, tendo apenas um piloto da Ganassi entre eles. E incrivelmente ele não se chama Scott Dixon! Palou tentará defender seu título, mas a fase da Penske faz dos seus pilotos os favoritos mais uma vez ao título.

Desequilibrando o jogo


 Na Argentina Aleix Espargaró chocou o mundo da movelocidade ao conseguir uma vitória categórica, onde a Aprilia, até pouco tempo atrás o patinho feio da MotoGP, angariou seu primeiro triunfo na categoria principal do Mundial. Era a prova de como a MotoGP estava incrivelmente equilibrada, principalmente com nove pilotos diferentes subindo ao pódio nas três primeiras corridas. No entanto, numa categoria de nível tão alto, em algum momento esse equilíbrio penderia para um lado. E pendeu para a Ducati, que não emulou o domínio da classificação quando conseguiu as cinco primeiras posições, mas permitiu a Enea Bastianini uma bela vitória e o retorno do jovem italiano à liderança do certame desse ano.

A prova em Austin, que teve parte do circuito recapeado, foi de altíssimo nível e com vários pilotos mostrando o seu melhor na bela pista texana. Jorge Martin já pode ser considerado o 'rocket man' da MotoGP com suas poles, mas ainda falta ao jovem espanhol uma melhor administração dos pneus. Contudo, Martin tinha várias Ducatis ao redor. Num domínio raro, a montadora italiana conquistou as cinco primeiras posições no grid e na largada, foi o ameaçado Jack Miller quem se sobressaiu e ficou boa parte da prova na ponta. Atrás do australiano, não faltou briga por posições, numa belíssima prova de MotoGP. Martin se segurou enquanto pôde, mas o espanhol foi caindo na medida em que os pneus iam embora. O sexto colocado no grid Fabio Quartararo simplesmente não tem motor para enfrentar a potência da Ducati, mas uma moto se mostrou ter o equilíbrio para bater de frente com as motos italianas. Bebendo da mesma fonte da Yamaha, a Suzuki conseguiu incluir potência no equilíbrio de sua moto e com Alex Rins adorando a pista de Austin, o espanhol foi escalando o pelotão entre as Ducatis, trazendo a tiracolo o seu companheiro de equipe Joan Mir.

Mais atrás, Marc Márquez fazia uma corrida fabulosa de recuperação após uma largada horrorosa, onde apontou na curva um em último. O espanhol da Honda tem Austin como 'pista-fetiche' e Márquez foi escalando o pelotão rapidamente, enquanto sua diferença para o líder nunca superou os 6s, tamanho o equilíbrio da corrida na sua primeira metade. Arriscando muito e tirando tudo de sua Honda, Márquez chegou ao sexto lugar nas voltas finais, mas não tinha como avançar e com seu equipamento desgastado, o espanhol sofreu uma forte pressão de Quartararo, que é outro que carrega sua moto nas costas. Honda e Yamaha dependem única e exclusivamente de Márquez e Quartataro, com os seus demais representantes ficando na segunda página da classificação.

E Aleix Espargaró? Após dominar a corrida portenha semana passada, o piloto da Aprilia sequer foi ao Q2 no sábado atrapalhado por uma queda e sequer ficou no top10, inclusive superado pelo seu companheiro de equipe Maverick Viñales. O antigo vice-líder Brad Binder sofre com uma KTM muito abaixo do esperado e nada pode fazer para se manter entre os primeiros da classificação.

Miller forçou o quanto pôde, mas quando Bastianini assumiu a segunda posição ainda antes da metade da prova, o italiano preparou o bote e de forma cirúrgica, ultrapassou o italiano com uma facilidade encabuladora. Como um veterano, o piloto da Gresini liderou as últimas voltas e se tornou o primeiro piloto a vencer duas vezes em 2022, além de reassumir a liderança do campeonato. Para desconsolo de Miller, ele ainda foi ultrapassado por Alex Rins na última curva da última volta, mas o australiano ainda cruzou à frente de Bagnaia, que fez uma corrida discreta e terminou apenas em quinto.

Com um campeonato onde o vencedor inconteste de uma corrida termina a prova seguinte fora do top10, a consistência poderá ser essencial para definir o título da MotoGP 2022. Bastianini provou hoje mais uma vez que tem a cabeça necessária para assumir os riscos necessários para vencer quando tem equipamento. Essa mentalidade pode lhe render frutos no final do ano.

Novo dono?


 Mesmo quando Max Verstappen estava na pista, a diferença para Charles Leclerc era grande. O monegasco dominou como nos bons tempos ferraristas de Michael Schumacher e a junção de mais um abandono de Verstappen e o sofrimento da Mercedes (apesar do pódio), Leclerc começa a abrir uma diferença interessante no campeonato e se tornar o grande favorito ao título de 2022. Pérez ainda salvou a honra da Red Bull em outro final de semana problemático para o time dos energéticos e Russell se aproveitou de um Safety Car na hora certa para superar Hamilton e garantir seu primeiro pódio com a Mercedes.


A corrida em Melbourne não foi das mais emocionantes, algo que já acontecia com frequência no traçado antigo. Mesmo com a eliminação da chicane no setor dois e o alargamento de várias curvas, a pista de rua australiana continuou difícil de ultrapassar, mas Leclerc simplesmente ignorou isso. O piloto da Ferrari mandou na corrida como quis e o único susto de Charles foi numa relargada, quando escorregou na saída da última curva e foi atacado por Max Verstappen na reta dos boxes, mas rapidamente Leclerc controlou a situação, assim como fez em toda a prova. A diferença de ritmo de Leclerc para Max era em torno de meio segundo por volta e Verstappen entrou na mesma situação que sofria até 2020, onde por mais que se esforçasse, não era o suficiente para vencer. Para piorar as coisas, Verstappen largou sabendo de um problema em seu carro e já no final da prova o neerlandês encostou seu Red Bull para abandonar pela segunda vez em três corridas, colocando-o numa incômoda sexta posição no campeonato e longe, muito longe do líder inconteste do certame, o até agora dominador Charles Leclerc. O domingo ferrarista só não foi melhor por causa da péssima e curta corrida de Carlos Sainz. O espanhol largou mal, teve dificuldades em aquecer os pneus duros e perdeu ainda mais posições na primeira volta. Quando finalmente a corrida de Sainz iria assentar, o espanhol errou sozinho no Esse de alta velocidade e quase provocou uma grave acidente quando saiu da pista no meio do pelotão. Felizmente Sainz foi a única vítima, mas com um começo de campeonato tão hesitante, enquanto seu companheiro de equipe faz o que quer com a concorrência, Sainz fica numa posição de inferioridade dentro da Ferrari, onde o adjetivo de 'segundo piloto' fica ainda mais forte na testa do espanhol.


O abandono de Verstappen foi outro soco no estômago da Red Bull, que mesmo tendo um ótimo motor, sofre com a confiabilidade da primeira unidade de potência que pode chamar de sua. Nesse momento Max tem apenas os pontos da vitória conquistada na Arábia Saudita, mas os potenciais 36 pontos perdidos nos dois abandonos podem ser decisivos, mesmo o campeonato mal tendo começado. Menos mal que Sérgio Pérez salvou a lavoura austríaca e conseguiu um distante segundo lugar. O mexicano fez outra corrida ao seu estilo, onde Pérez entra numa enrascada e depois vai conseguindo belas ultrapassagens para se recuperar. Checo largou mal e teve que lutar com Hamilton, que lhe tomou o terceiro lugar na largada. Foi uma bela ultrapassagem, mas nas paradas de boxes, a Mercedes conseguiu colocar Lewis na frente e novamente Pérez teve que enfrentar o multi-campeão para retomar a posição. A briga estava muito bonita, mas terminou com o segundo SC e Pérez teria pela frente a outra Mercedes, também ultrapassando Russell após longa disputa com o jovem inglês. Preocupado com o problema de Max, Pérez apenas levou o carro para casa e o pódio, mas a falta de confiabilidade da Red Bull a coloca apenas em terceiro no Mundial de Construtores, o que não significa a realidade da situação de forças atuais da F1. A Mercedes mitigou bastante o prejuízo nesse domingo e marcou bons pontos com seus dois pilotos, permanecendo em segundo lugar nos dois campeonatos. Sim, George Russell não apenas superou Hamilton por causa do SC como que o seu pódio, juntamente com a consistência nesse ano, faz de George o vice-líder do campeonato. No entanto Russell não brilhou em nenhuma das três corridas e se não fosse a batida de Vettel e o consequente Safety Car, George teria sido quinto colocado. Hamilton ousou na largada, imprimiu um ritmo interessante numa Mercedes ainda carente de equilíbrio e quando se preparava para lutar com Pérez, foi acertado pelo SC fora de hora e teve que se contentar com a quarta posição. 


Falando no pelotão intermediário, precisamos falar de Sebastian Vettel. Desde a fatídica corrida em Hockenheim em 2018, quando Vettel bateu quando liderava a corrida e o campeonato, o alemão nunca mais reconquistou a confiança necessária para manter o alto nível que mostrou outras vezes. E em qualquer esporte, a confiança faz bastante diferença. Vettel está casado, tem três filhos e age de forma legal fora das pistas, mas isso parece afetar o foco do alemão, que deveria ser na pista e melhorar sempre. Vettel é uma sombra de si próprio e em Melbourne cometeu dois erros que afetou ainda mais o final de semana da Aston Martin, que depende de Seb para conquistar bons resultados. Já que Lance Stroll é um caso quase perdido. Vettel irá completar 35 anos e talvez veja o final de sua carreira cada vez mais próximo e cometendo erros como os desses três dias na Austrália, a última impressão que ficará será de um piloto decadente e errático, bem diferente do ótimo piloto que destruía quando tinha uma boa máquina nas mãos.


Depois de um final de semana horroroso no Bahrein e uma melhora na Arábia Saudita, a McLaren se recuperou muito bem na Austrália e levou seus dois carros ao quinto e sexto lugares sem maiores problemas. Na verdade, por muito tempo Norris e Ricciardo andaram próximos da Mercedes de Russell, mas quando colocaram pneus duros, a McLaren ficou para trás, mas longe de ser atacada pela Alpine, sua mais forte perseguidora. Após uma classificação potencialmente mágica, Fernando Alonso teve uma corrida bem abaixo do esperado. Largando com pneus duros, Alonso acabou atrapalhado pelas intervenções do SC real e virtual, acabando no meio do pelotão com pneus médios novos, mas sem condições de ultrapassar ninguém. Com os pneus superaquecidos, Alonso desistiu de qualquer coisa e fez uma parada para marcar a melhor volta. Nem isso conseguiu. Ocon fez uma corrida discretíssima, onde ficou um terço da prova atrás da Williams de Alexander Albon sem conseguir ultrapassar um piloto que fez a prova inteira com um set de pneus. Pelo menos o francês marcou pontos, algo que Albon também o fez, para júbilo da Williams. Arriscando uma tática maluca, Albon parou na penúltima volta para colocar macios após os pneus duros durarem a prova inteira. No final a aposta se pagou e Albon conseguiu o primeiro ponto da Williams no ano, ficando atrás de Bottas e Gasly, que completaram a zona de pontuação. A Haas não repetiu as boas exibições das corridas anteriores e seus dois pilotos ficaram fora da zona de pontos, enquanto Stroll segurou por muito tempo (e de forma inconsequente) uma fila de carros, atrapalhando a estratégia de muita gente. Resumindo, Stroll está na F1 apenas para atrapalhar...


A F1 pode ter encontrado um novo dono em 2022. Charles Leclerc não teve um ano brilhante em 2021 e ter sido superado por Carlos Sainz já colocavam dúvidas da capacidade do monegasco, mas quando pegou um carro realmente forte esse ano, Leclerc está mostrando toda a plenitude de sua capacidade. Mais um hat-trick para Leclerc e liderança incontestável do campeonato. O bastão da liderança simplesmente mudou de mãos? Verstappen, se a Red Bull deixar, tentará mudar isso.

sábado, 9 de abril de 2022

Alcançando seus objetivos

 


A F1 tinha bem claro quando mudou radicalmente seus regulamentos técnicos em, primeiro, mexer no status quo da categoria após anos de domínio da Mercedes, e depois tornar a F1 mais imprevisível. Nessa pequena amostra de três finais de semana não se pode negar que a F1 vem conseguindo seus objetivos. A dominadora Mercedes está claramente fora de ritmo, mesmo que em ligeiro viés de alta, enquanto as equipes variam de circuito a circuito seus objetivos. Lógico, com exceção de Ferrari e Red Bull, constantemente na luta pela ponta, com vantagem para os italianos no remodelado circuito de Melbourne.

A classificação dessa madrugada foi bem acidentada, com duas bandeiras vermelhas e drama antes mesmo dos carros irem marcar seus tempos. Sebastian Vettel finalmente estreará na temporada 2022, mas um motor quebrado na sexta e um acidente no terceiro treino livre deixaram o alemão sem praticamente nenhum contato com a pista australiana. Quando tudo levava a crer que Vettel nem marcaria tempo, ele acabou 'ajudado' pelo seu companheiro de equipe. Lance Stroll está na F1 única e exclusivamente por causa do bolso fundo do seu pai, o mesmo ocorrendo com Nicholas Latifi. No final do Q1 os dois canadenses tiveram um mal entendido e acabaram se acidentando numa comédia pastelão dos dois piores pilotos do grid. Vettel ainda foi à pista, mas nada pode fazer para ir ao Q2. Já no Q1 ocorreram algumas mudanças do que vinha ocorrendo, com Kevin Magnussen ficando de fora após ótimos desempenhos do nórdico nas duas primeiras corridas.

Havia um certo suspense se a Mercedes passaria ao Q3, mas ambos os carros foram no finalzinho do Q2, deixando de fora Alpha Tauri e Alfa Romeo, com destaque para a último, pois Bottas vinha andando muito bem nos treinos e vinha numa incrível sequência de 113 classificações seguidas no Q3, que foi quebrada hoje. As boas surpresas foram o ótimo desempenho da McLaren, vislumbrando as boas performances do ano passado e colocando seus dois pilotos no Q3, além de Fernando Alonso. O veterano piloto da Alpine não apenas colocou Esteban Ocon no bolso como vinha claramente andando mais do que o carro nesse final de semana, conseguindo posições acima do potencial do carro gaulês. No Q3, Alonso estava com o melhor tempo do segundo setor quando seu carro apagou e o espanhol foi para o muro, causando a segunda bandeira vermelha do dia, mas fica a sensação de que Fernando ainda tem muita lenha para queimar. Hamilton ainda tirou um filhote de coelho da cartola ao ficar em quinto e olhando onde ele largou na quinzena anterior, ele fez muito, com Russell logo à seguir.

Com muita diversidade no pelotão intermediário, o Q3 marcou a briga Ferrari e Red Bull, mas lembrando o que ocorreu em 2021, Leclerc parecia sozinho na sua luta contra a Red Bull. Carlos Sainz não se encontrou em nenhum momento e atrapalhado pela bandeira vermelha do compatriota Alonso, largará apenas em nono amanhã, deixando Leclerc sozinho contra dois Red Bulls fortes. Pérez está definitivamente andando no patamar de Max Verstappen e isso é uma ótima notícia para Christian Horner, porém, Leclerc se sobressaiu na sua última volta e ficou com a pole, com um insatisfeito Verstappen completando a primeira fila. Numa F1 bem interessante em todos os lugares, existe a boa expectativa de outra briga forte entre os jovens Charles e Max. A F1 está alcançando seus objetivos.  

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Início de uma Era

 


Vinte anos atrás a MotoGP iniciava mais uma temporada, mas naquele 7 de abril de 2002 havia algo de especial. Após anos correndo com motos dois tempos de 500cc na chamada categoria rainha do motociclismo, a Dorna promoveu uma importante mudança com a entrada das gigantes motos quatro tempos 990cc. Foi um movimento significativo, onde apenas as equipes de fábrica tinham à disposição das novas máquinas e isso fez muita diferença.

Valentino Rossi confirmara tudo que dele se esperava ao vencer com sobras o campeonato de 2001 e o italiano da Honda rapidamente se adapta à sua nova RC211V nos treinos de pré-temporada e ao lado da Yamaha de Max Biaggi, dominou os treinos. A primeira corrida da nova era do Mundial de Motovelocidade aconteceria em Suzuka e mesmo chovendo, Rossi não tomou conhecimento dos rivais e venceu, à frente de Akira Ryo e Carlos Checa. Seria a primeira vitória de dez vitórias de Vale que lhe garantiram o bicampeonato da categoria Premier e a honra de ser o primeiro vencedor da nova MotoGP. Alguns pilotos receberam as novos motos quatro tempos, com destaque para Alexandre Barros, que venceu duas corridas no final do campeonato. Rossi ter vencido aquela corrida e aquele campeonato é a prova de que o italiano é mesmo o homem que marcou essa Era que completa vinte anos hoje.

domingo, 3 de abril de 2022

Fruto do trabalho

 


Aleix Espargaró nunca foi um piloto talentoso ou super veloz, inclusive tendo visto alguns companheiros de equipe chegar no seu time e com a mesma moto vencer corridas. Por isso soava presunçoso algumas de suas declarações, donde se dizia com condições de vitórias e títulos. No entanto, algo não se pode negar do piloto espanhol: sua capacidade de trabalho. E Aleix Espargaró trabalhou como nunca para tornar a Aprilia, primeiro numa moto decente, para depois torna-la competitiva. Foram anos de luta e decepções, com algumas quebras, mas a evolução da moto italiana era nítida e dessa vez Aleix começava a colher os resultados. O primeiro top5, primeiro pódio, primeira pole no último sábado. Numa MotoGP sem nenhuma referência técnica com a aposentadoria de Valentino Rossi e uma nuvenzinha negra que persegue Marc Márquez desde 2020, a Aprilia apareceu em Termas de Rio Hondo como a moto a ser batida e Aleix Espargaró venceu sua primeira corrida na MotoGP numa luta tensa com Jorge Martin, deixando todo o paddock da MotoGP emocionando com a enorme força de vontade do mais velho dos irmãos Espargaró se pagando finalmente.

A corrida na Argentina, que retornava ao calendário da MotoGP devido à Covid após dois anos, foi uma batalha técnica e retesada entre Aleix Espargaró, que já tinha feito história ao marcar a primeira pole da Aprilia na categoria principal em mais de vinte anos, e Jorge Martin. Dois pilotos completamente diferentes. Como falado anteriormente, Aleix é um piloto lutador e acertador de motos, enquanto Martin é fruto da incessante fábrica de pilotos talentosos da Espanha. Enquanto Aleix já tem 32 anos e largou hoje para a sua 200º corrida na MotoGP, Jorge tem apenas 24 anos e está apenas em sua segunda temporada na categoria principal. Mesmo Pol Espargaró largando muito bem, a disputa pela vitória ficou exclusiva aos dois. Martin tomou a ponta na largada, mas Aleix não saía do seu encalço. Com a Aprilia mostrando uma força incrível nos poucos testes por problemas logísticos, a sensação era que Aleix apenas esperava os pneus de Martin acabarem para dar o bote no fim da corrida. Porém, o piloto da Aprilia não estava acostumado a disputas por vitórias, afinal, seu último triunfo datava do distante ano de 2004, quando ainda competia no campeonato espanhol das 125cc. Como esperado, Martin derreteu seus pneus e Espargaró lutou na forte freada no final da reta oposta para consumar a ultrapassagem na terceira tentativa e ir até a bandeirada para fazer história. A Aprilia já foi muito forte nos anos dos Mundiais das 125cc e 250cc, mas com o advento da Moto2 e Moto3, a fábrica italiana até se mudou para Mundial de Superbike com sucesso, particularmente com Max Biaggi. Debaixo do guarda-chuva do Grupo Piaggio, a mesma dona da Ducati, a Aprilia retornou à MotoGP após muitos anos de ausência e depois de muita luta, finalmente a marca italiana venceu na MotoGP. 

O equilíbrio da MotoGP em 2022 é tamanho que Aleix não apenas ganhou sua primeira corrida no Mundial e fez história com a Aprilia, como assumiu a liderança do campeonato. Os dois primeiros vencedores (Bastianini e Miguel Oliveira) estiveram longe de qualquer luta por vitória hoje, enquanto outras protagonistas sofreram. Pol Espagaró largou bem e estava em terceiro, liderando o esforço da Honda que terá Marc Márquez mais uma vez de fora de algumas prova por diplopia, quando caiu. Ao menos ele se emocionou com a bela vitória do irmão mais velho. Enquanto Martin lutava pela vitória, os pilotos de fábrica da Ducati sofriam. Bagnaia ultrapassou Maverick Viñales para ser quinto nas últimas voltas, enquanto Jack Miller fazia outra corrida sofrível. A Yamaha continua em seu calvário e Quartararo só conseguiu um oitavo lugar bem apagado, enquanto as demais motos da marca de Hamamatsu foram ainda piores. Muito preocupante para a Yamaha não ser possível dar uma moto para o atual campeão defender seu título. A KTM vai se salvando com Brad Binder que com o sexto lugar, subiu para a vice-liderança do campeonato e apenas uma subida no pódio. Após corridas abaixo das expectativas, a Suzuki foi bem na Argentina e Alex Rins fechou o pódio já próximo de Martin, com Joan Mir logo atrás.

Num campeonato tão aleatório, apostar num próximo vencedor da MotoGP é uma verdadeira temeridade. Ou alguém poderia prever que um piloto da Aprilia seria líder do campeonato, seguido por Brad Binder da KTM e Enea Bastianini, que corre com uma Ducati 2021? Sem grandes referências e Quartararo sofrendo com sua Yamaha, alguns pilotos que não são muito cotados estão conseguindo resultados inesperados. Aleix Espargaró ralou muito, mas conseguiu sua melhor corrida na carreira, mas é viável em apostar no espanhol da Aprilia como campeão? Ou até mesmo vencedor da próxima corrida em sete dias em Austin? Impossível dizer, mas o que dá para apostar sem sombra de dúvida é que Aleix trabalhará bastante para se manter entre os primeiros.