O que lembraremos de Sebastian Vettel? Do piloto doutrinador do começo dos anos 2010 ou o piloto de certa forma melancólico dos últimos anos? Se a última impressão é a que fica, será uma injustiça com um piloto que parecia imbatível anos atrás. Vettel quebrou alguns recordes que olhando em retrospectiva, o colocam entre os grandes da história da F1, mesmo que devido à algumas condições que convergiram para o seu estilo de pilotagem e de trabalhar, fazendo-o conquistar quatro títulos consecutivos. Dos quatro triunfos, dois foram bem renhidos e os outros dois foram conquistados com imensa tranquilidade. Em 2011 e 2013, Vettel desfilou na F1, conquistando vitórias em cima de vitórias, algumas com uma facilidade desconcertante. Desde novo conhecido como 'Baby Schummy', Vettel parecia fadado a ser ele quem quebraria os recordes do seu compatriota. Ainda mais com suas vitórias em 2010 e 2012, onde derrotou Alonso por muito pouco e de forma dramática. Ninguém vence Alonso duas vezes de forma fortuita. Vettel teve méritos, mesmo que para muitos, principalmente em 2012, o alemão tivesse o melhor carro, fazendo com que Alonso dissesse que o vencedor daqueles anos teria sido Adryan Newey, o mago da aerodinâmica e o homem atrás dos carros da Red Bull.
E essa sensação aumentou com a chegada da Era Híbrida e o começo do domínio da Mercedes. Por mais que Vettel não tivesse muito o que fazer com tamanha vantagem da Mercedes, sua atuação na Red Bull frente ao novato Daniel Ricciardo chamou a atenção dos críticos. Quando esteve ao lado de Mark Webber, Vettel soube dominar o australiano usando seu talento, assim como dominava dentro da Red Bull. Com sangue novo ao seu lado, Vettel não se deu muito bem com um piloto mais novo e muito rápido. Isso desmotivou Vettel dentro da Red Bull e acendeu um antigo sonho de seguir os passos do ídolo Michael Schumacher. Assim como o compatriota, Vettel saiu da sua zona de conforto e foi para a Ferrari, liderar a equipe frente ao domínio da Mercedes. Vettel chegou como piloto número um e por duas temporadas, chegou a enfrentar Hamilton e a Mercedes. Por sinal, por muito tempo era esperado um confronto entre Vettel e Hamilton, dois dos pilotos mais talentosos que surgiram em meados dos anos 2000. Ambos já contando com títulos, mas de estilos bem distintos, seria um encontro épico. Infelizmente, ficou na expectativa. Hamilton usou a experiência da dolorida derrota para Nico Rosberg e toda a potência da Mercedes para derrotar a Ferrari e Vettel sem muita briga.
Para piorar, houve um episódio que pode ser colocado como um turning point para Sebastian Vettel. O alemão vinha de uma vitória em Silverstone, lugar onde Hamilton sempre andou muito bem e após derrotar o inglês, Seb foi para Hockenheim com expectativa de vencer e se consolidar como líder do campeonato de 2018. Correndo em casa, Vettel liderava, enquanto Hamilton fazia uma tremenda corrida de recuperação quando uma chuva fina começou a cair. Vettel, tendo vencido sua primeira corrida de F1 na Toro Rosso num final de semana chuvoso em Monza, parecia que não teria problemas com essa situação, mas Sebastian acabou saindo da pista sozinho no setor do Estádio, na frente de sua torcida. Hamilton venceu rumo ao quinto título, enquanto Vettel entrou numa espiral negativa e de repente se tornou um piloto errático, com várias saídas de pista e atuações decepcionantes. A política sempre efervescente da Ferrari começava a duvidar de Vettel. O alemão tinha ao seu lado Kimi Raikkonen, um piloto que era não apenas amigo de Vettel, como também era uma pessoa mais controlável, como era Webber nos tempos de Red Bull. A Ferrari decidiu substituir Kimi, para insatisfação de Vettel, e trouxe o jovem Charles Leclerc. Assim como Ricciardo em 2014, Leclerc teve um efeito parecido com Vettel. Um jovem piloto protegido pela equipe chegando e querendo mostrar serviço. Vettel foi definhando cada vez mais. Erros e toques com Leclerc foi minando a confiança do alemão.
Enquanto isso, Vettel passou a ter uma visão mais holística da vida, entrando de cabeça em causas sociais e ambientais. Se as vitórias rarearam, Vettel passou a ter tempo de olhar para outras coisas fora das pistas, apoiando Hamilton em sua luta por inclusão e igualdade. Dentro das pistas, Vettel cada vez mais era uma sombra de si e após seis anos de Ferrari, ele se mudou para a Aston Martin, que retornava na F1 após vários anos, mas que na verdade é um projeto de Lawrence Stroll para ver seu filho ser campeão. Algo que nunca deverá acontecer não por falta de dinheiro e empenho, mas por fraqueza de Lance. Após treze anos Vettel voltava a uma equipe média, mesmo que com muito potencial, porém, isso não fez do alemão um piloto mais combativo. Aqui e ali, Seb conseguia mostrar sua antiga magia, mas isso estava virando mais exceção do que regra. Construída em torno de um piloto fraco, a Aston Martin não desabrochou como esperado e Vettel via que correr à sombra de Lance Stroll era demais para ele, mesmo Sebastian sendo obviamente melhor e mais rápido do que o canadense. As fechadas que levou do fedelho na França na última semana deve ter tirado de vez a paciência do alemão.
Após dizer que tinha tudo para renovar com a Aston Martin, Vettel abriu um Instagram para anunciar sua aposentadoria, iniciando uma queda de dominós no mercado de pilotos. Com uma vaga sobrando, talvez surja a oportunidade de Oscar Piastri, enquanto Alonso poderá ficar mais um ano na F1.
O anúncio de Vettel fez com que homenagens brotassem de toda a F1. Mesmo tendo dominado a F1, Vettel parece ser uma pessoa do bem e afável, fazendo-o bastante popular no paddock da F1. Além da causas que abraçou nos últimos anos, Vettel tem um grande conhecimento da história da F1, saindo um pouco da alienação de alguns pilotos, que mal sabem da história de onde está. Vettel sempre teve a exata noção de onde esteve e com outra cabeça, focará em outras prioridades. Os números de Vettel entram na verdadeira ciranda da F1 do século 21, com muitas corridas, poucas quebras e domínios. Vettel se aproveitou muito bem dos seus anos de Red Bull e foi imbatível quando teve as condições certas a seu favor, marcando seu nome na história do esporte a motor.
Danke, Sebastian!
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