domingo, 31 de julho de 2022

Facilitador

 


Quando lembrarmos da temporada 2022 da F1, provavelmente olharemos como Max Verstappen se tornou um piloto ainda mais completo depois de sua luta renhida com Hamilton ano passado, onde juntou à sua incrível velocidade, uma maturidade que o faz conseguir resultados muitas vezes fora dos padrões, como hoje, quando largou em décimo, rodou e ainda assim venceu com uma vantagem de 10s. Uma corrida de campeão ou melhor dizendo, de um digno bicampeão. Porém, quando formos dar uma olhada com mais cuidado para 2022, podemos perceber que Verstappen teve uma atenuante que facilitou bastante sua vida. E não foi a Red Bull. É impressionante a quantidade de tiros no pé que a Ferrari deu e continua dando nessa temporada, entregando pontos importantes para um quase imparável Verstappen. Hoje os italianos cometeram um erro estratégico bizarro com Leclerc, que tinha tudo para vencer a corrida e graças aos táticos da Ferrari, acabou numa opaca sexta posição.


O Grande Prêmio da Hungria viveu a expectativa de uma chuva que poderia vir a qualquer momento. Os radares meteorológicos eram mostrados várias vezes na transmissão, onde uma chuva na hora errada poderia ser decisivo na prova. Outro ponto era observar o comportamento de George Russell como poleman. E o jovem inglês da Mercedes se comportou muitíssimo bem nessa situação. O primeiro stint de Russell foi impecável, controlando a dupla da Ferrari sem maiores problemas, enquanto mais atrás ocorriam a recuperação decisiva de dois pilotos que tiveram problemas na classificação. Max Verstappen sofreu com problemas de motor e após uma largada limpa, começou a fazer várias ultrapassagens, deixando para trás a dupla da Alpine e Lando Norris, antes de ficar atrás de Hamilton. O inglês da Mercedes viu seu companheiro de equipe ficar com a pole, mas Hamilton teve problemas no seu DRS que o impossibilitou de largar mais à frente do que sua pálida sétima posição. Lewis fez uma super largada, superando as duas Alpines, mais preocupadas em lutar entre si e acabando por estender o tapete para Hamilton assumir a quinta posição e logo depois Lewis ultrapassou seu compatriota Norris para ser quarto, bem no momento das primeiras paradas. O clima estava frio e com muito vento em Budapeste, fazendo com que o asfalto estivesse gelado e clamando para uma borracha mais aderente. Russell largou com pneus macios e quando teve que trocar para médios, rapidamente foi atacado por Leclerc, que retardou sua parada e 'ultrapassou' nos pits um sorumbático Sainz. Charles imediatamente foi para cima de Russell, efetuando uma bela ultrapassagem sobre o inglês. Bela, mas anos-luz atrás da manobra de Piquet em Senna em 1986...


Ao ultrapassar Russell, Leclerc começou a abrir vantagem no que parecia uma resposta pelo erro que teve semana passada na França. Verstappen já tinha despachado Hamilton e se aproximava de Sainz para brigar pelo segundo lugar, já que o espanhol encostava também em Russell. Enquanto os pingos de chuva ficavam mais intensos, colocando ainda mais dúvidas na cabeça dos engenheiros nos boxes, a Ferrari começou sua operação de auto-sabotagem. Verstappen e Russell fizeram suas paradas de número dois, colocando pneus médios e indicando que iam até o final com essa borracha. A má parada de Russell somada a tática perfeita da Red Bull colocou Max na frente. O que pensou a Ferrari: tenho que responder a parada dos dois. No entanto, por ordem do regulamento, a Ferrari teria que colocar ou pneu duro ou macio no carro de Leclerc. Com muitas voltas a percorrer, a Ferrari açodadamente chamou Charles para colocar pneus duros. Como ficou nítido com a outra Ferrari, bastava deixar Leclerc algumas voltas a mais na pista e colocar os pneus macios e tudo seria mais prático. A Alpine foi uma a optar por uma estratégia de parada única e colocou pneus duros em seus dois carros beligerantes. Foi o caos, com Alonso e Ocon sem nenhuma aderência e sendo ultrapassados por vários carros. Os fatos estavam na cara dos estrategistas italianos, mas eles preferiram evitar um undercut e acabaram fazendo a besteira do final de semana. Completamente sem aderência, Leclerc viu Verstappen o ultrapassar com uma facilidade desconcertante. Talvez querendo dar um pouquinho mais de emoção, Max cometeu um raro erro e deu um 360 na penúltima curva, mas acabou perdendo só a posição para um desalentado Leclerc. A segunda e decisiva ultrapassagem não demoraria a acontecer. Com pneus médios e um ritmo ainda mais seguro, Verstappen partiu impávido para mais uma vitória e colocar gigantescos oitenta pontos no lombo de um sofrido Leclerc, que precisou fazer uma terceira parada para perder ainda mais terreno, trocando uma vitória certa por um horroroso sexto lugar.

Mattia Binotto foi visto indo para os fundos boxes com cara de poucos amigos. Se ele foi emular seus estrategistas no banheiro, não se sabe, mas provavelmente ele foi procurar saber o que cazzo os táticos estavam fazendo! A Ferrari saiu de favorito ao título no começo do ano a entregadora do ano, seja com erros dos seus pilotos, problemas de confiabilidade ou erros táticos inacreditáveis. As tintas dos jornais italianos estarão pesadas amanhã e com razão, enquanto a turma de Christian Horner sorri debaixo do pódio com mais uma vitória de Verstappen. Mesmo com Pérez fazendo uma corrida burocrática, dificilmente os austríacos perderão os dois títulos em contenda e com o anúncio de que a Porsche comprará 50% da equipe nos próximos meses, o futuro da equipe é belo, mesmo com a empresa Red Bull podendo estar de saída para a entrada da gigante montadora alemã. Enquanto isso, a equipe segue dando shows de eficiência tática, entregando às mãos habilidosas de Verstappen sempre a melhor solução para as corridas. Com o triunfo de hoje, Max já tem mais vitórias do que Jackie Stewart e vai colocando seu nome entre os grandes da F1. Nem em seu período de domínio a Red Bull fez dobradinha no Mundial de Pilotos, mas apesar da corrida medíocre de Pérez, o mexicano encostou ainda mais em Leclerc no campeonato. Do jeito que está, o monegasco deverá se conformar em segurar essa posição mesmo. São erros demais, de parte a parte, para uma equipe e piloto quererem ser campeões. Com os erros contínuos da turma de Maranello, fica claro que a Red Bull tem a Mercedes como uma adversária mais forte. Os alemães foram muito bem com seus dois pilotos e se Russell decaiu com os pneus médios, Hamilton cresceu de forma exponencial no fim da corrida. No terceiro stint com pneus médios, os mesmos do primeiro stint, Lewis se tornou o piloto mais rápido do dia, engolindo Sainz e Russell para ser segundo pela segunda corrida consecutiva, se recuperando de um campeonato que já beirava o ridículo no começo, enquanto Russell continua sua temporada sólida, com mais um pódio e ultrapassando Sainz no campeonato.


Na briga pelo resto, melhor para Lando Norris, que teve a péssima experiência de usar os pneus duros, mas ainda se manteve em sétimo, mas um minuto atrás dos líderes. A diferença entre as equipes tops e as demais só vai crescendo. Assim como a diferença entre os dois pilotos da McLaren, com Ricciardo fazendo outra corrida esquecível. Após uma briga forte, a dupla da Alpine marcou pontos com seus dois pilotos, Alonso à frente de Ocon e com algumas reclamações via rádio, lembrando que ser companheiro de equipe de Ocon não é a coisa mais agradável do mundo. Vettel fechou a zona de pontuação após ultrapassar Stroll nas últimas voltas. Numa corrida com apenas um abandono (de Bottas nas voltas finais), não houve margem para surpresas. Gasly largou dos pits para ser décimo segundo, enquanto Haas e Alfa Romeo bem que poderiam ter avisado à Ferrari que usar pneus duros hoje em Hungaroring não era uma boa ideia, pois elas também fizeram isso com seus pilotos e o resultado não foi nada bom. Tsunoda cometeu seu erro usual e as Williams não comprometeram ao tomar voltas.


A F1 entrará para as suas férias de verão com o título se encaminhando à passos largos para Max Verstappen. Mesmo quando erra, Max ainda consegue ficar na pista para marcar a volta mais rápida e ultrapassar na passagem seguinte. Verstappen tem uma equipe experiente e fortíssima lhe apoiando, onde erros são difíceis de acontecer. Mais do que isso, Verstappen e a Red Bull veem a Ferrari mais como uma facilitadora do que uma rival rumo a mais um título. 

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