sexta-feira, 28 de abril de 2023

Mexer no que está quieto

 


Os fãs mais puritanos não devem gostar muito do que irei escrever aqui, mas se teve algo que a F1 evoluiu foi na definição do seu grid. Antes a classificação tinha uma hora de duração e os pilotos tinham doze voltas à disposição para marcar seu tempo mais rápido. Tudo muito descomplicado, mas para quem assistia era nada empolgante, principalmente na primeira metade. Para quem acompanha a F1 desde antes de 2002 deve se lembrar do marasmo que havia na pista antes que um carro, normalmente uma Minardi, entrasse na pista. Alex Yoong sempre beliscava um P1. Então os pilotos entravam de uma vez para completar suas quatro tentativas e se as câmeras mostravam Schumacher, Barrichello e Montoya, os demais pilotos passavam praticamente incógnitos. Claro, se eles não atrapalhassem alguém brigando pelas primeiras posições. Por isso que prefiro a fase do Q1, Q2 e Q3, pois os pilotos tem mais de uma tentativa e podemos ver as várias brigas no pelotão.

Porém, a Liberty Media e a FIA não pensam assim. E quem sou eu para se achar o dono da verdade, mas as várias tentativas de 'trazer emoção' na definição do grid vão tornando esse item, que não precisa ser mudado, num verdadeiro circo. A chegada da Sprint Races foi mais uma tentativa disso e vem se tornando um retumbante fracasso por um motivo bem simples: ninguém quer arriscar a posição de pista numa corrida de 100 km que vale muita pouca coisa. E tirando as provas em São Paulo, as Sprints vão se tornando um sonífero de trinta minutos, com os pilotos preferindo manter suas posições após a largada. Percebendo isso, mas precisando de mais receitas, a Liberty insiste teimosamente com a Sprint. Para evitar a cautela dos pilotos, a Liberty e a FIA resolveram desmembrar Sprint Race da classificação, iniciando nessa sexta-feira um novo formato em mais uma tentativa de vingar a Sprint Race e quem sabe seguir a Dorna e colocar as corridas curtas em todo o calendário.

Com isso, a classificação em Baku ocorreu nessa sexta-feira pela manhã e deve ter trazido um senhor prejuízo para algumas equipes. Com apenas um treino livre (algo que a Liberty quer impor...), os pilotos não se ambientaram com o capcioso circuito urbano de Baku e o resultado foi um Q1 sem fim, com dois acidentes que atrasaram bastante a programação. Nyck de Vries sentiu um problema no freio, mas foi para a pista mesmo assim, apenas para destruir a frente do seu Alpha Tauri e colocar mais pressão do agora octogenário Helmut Marko no neerlandês. Quando a pista foi liberada, Pierre Gasly estampou seu carro no muro, no que foi uma grande pena para a Alpine. Gasly havia tido problemas em seu carro no único treino livre e seu bólido chegou a pegar fogo. A Alpine fez uma verdadeira operação de guerra para colocar Pierre na classificação. Tudo isso para Gasly bater e largar na última fila, de qualquer maneira. 

Falando no único treino livre, Leclerc ficou mais próximo do normal da Red Bull, mas com a superioridade atual dos austríacos, não faltou quem dissesse que isso seria fogo de palha. Porém, Charles tirou tudo da sua Ferrari e numa cena curiosa, empatou até mesmo nos milésimos com Verstappen durante o Q3. No desempate, Leclerc melhorou mais do que Max e ficou com a pole... de domingo. Não devemos esquecer esse detalhe! Um ligeiro arranhão no domínio da Red Bull, que já demonstrou outras vezes que em ritmo de corrida, é bastante superior à concorrência. Não importando quem seja. Além de ter o melhor carro do pelotão, a Red Bull vem se caracterizando por uma consistência muito grande, enquanto Ferrari, Mercedes e Aston Martin, suas mais próximas perseguidoras, patinam. Se Hamilton subiu no pódio corrida passada, o inglês quase ficou no Q2, deixando de fora justamente seu companheiro de equipe Russell por meros quatro milésimos. Se a Ferrari sofreu nas primeiras corridas, pelo menos Leclerc se sobressaiu hoje, enquanto Sainz faz até agora um final de semana esquecível. Em volto à cômicos comentários de que estaria namorando com a cantora Taylor Swift, Alonso sofreu com uma Aston Martin que tem problemas no DRS, que se recusou a funcionar. Num circuito de longas retas, isso é decisivo, com Alonso longe da briga pela pole.

Amanhã o dia será todo da Sprint Race. Haverá uma classificação separada e a mini-corrida logo em seguida. Já estão surgindo as primeiras críticas, mas amanhã nos debruçaremos sobre elas. No momento, Charles Leclerc comemora uma pequena pancada dada na Red Bull, mas que a tendência é que a virada venha fácil e rápida. Mas só depois de amanhã. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário