Após nove longos meses, a F1 finalizou sua incrível temporada 2024 no indigno palco de Yas Marina. Com Charles Leclerc largando da última fila, a briga pelo vice-campeonato ficou meio que definida, com Lando Norris largando da pole e dominando a corrida sem maiores problemas, vencendo pela quarta vez no ano e se consolidando tanto como vice-campeão, como se tornando o segundo maior vencedor do ano. Já o Mundial de Construtores teve um ligeiro drama com o toque sofrido por Oscar Piastri na primeira curva, atingido por um Max Verstappen pouco inspirado nesse domingo. Com a super primeira volta de Charles Leclerc somada a ótima corrida de recuperação do monegasco e o tranquilo segundo lugar de Carlos Sainz, qualquer vacilo de Norris poderia entregar o título para a Ferrari. Apesar dos melhores esforços dos italianos, Lando Norris esteve impecável e garantiu o primeiro título do Mundial de Construtores do século 21 da McLaren.
Mesmo com as mudanças no circuito de Yas Marina, eliminando chicanes sem serventia alguma, o autódromo suntuoso em Abu Dhabi ainda está muito longe de agradar aos fãs da F1. Um circuito sem graça e asséptico, que normalmente nos traz corridas sem muita emoção, como foi o caso desse domingo. Com grande parte dos pilotos relaxados, com suas vidas encaminhadas para 2025, provavelmente muita gente foi para a primeira volta da corrida com um pensamento nada conservador, partindo para cima como normalmente não acontece e por isso, a primeira volta foi o grande momento da prova. Lando Norris fez uma ótima largada vindo da pole, com Oscar Piastri o acompanhando. Beneficiado pela punição de Hulkenberg, Max Verstappen saiu da segunda fila e numa tentativa banzai, se jogou na primeira curva em cima de Piastri como se ainda houvesse disputa pelo título. Foi um mergulho tão insano, que Piastri não esperava a manobra e foi acertado pelo piloto da Red Bull, merecendo o irônico comentário de 'bela manobra de um campeão mundial'. Com os dois carros rodados, Lando abriu uma bela diferença para o pelotão, mas ainda havia mais. Correndo o risco de se juntar à Bottas, Zhou e Magnussen rumo às suas últimas corridas na F1, Pérez estava no meio do pelotão quando foi atingido por um insano Valtteri Bottas. Um toque aparentemente sem maiores consequências, mas resultou no triste abandono de Pérez, além do único momento de Safety Car, mesmo que virtual. Pérez abandonando o seu Red Bull melancolicamente representa muito bem o fim da parceria entre os austríacos e o mexicano, mesmo com Checo negando, lembrando do contrato de dois anos assinado no meio do ano. Algo que Horner já admitiu ter se arrependido...
Com toda a confusão, Charles Leclerc executou uma primeira volta daquelas inesquecíveis, pulando de 19º para oitavo, principalmente capitalizando o melê entre Bottas e Pérez, ganhando cinco posições no ocorrido. Com Piastri em último, agora era a Ferrari que tinha dois carros na zona de pontuação e a McLaren somente um, porém, Lando Norris fez uma corrida dominante na noite árabe, não sendo incomodado em momento algum, mantendo uma diferença de no mínimo 2s sobre Carlos Sainz, outro que fez uma corrida solitária, mas que ajudou a Ferrari se manter sonhando com o título. A cara que Sainz fez ao sair do carro mostrava uma certa melancolia, pois muito provavelmente ele demorará a ter um carro em condições de ir ao pódio normalmente. Por fim, Leclerc continuou sua subida através do pelotão. No primeiro stint, rapidamente subiu ao quarto lugar, ficando bastante próximo de Russell, que simplesmente não conseguiu ultrapassar Gasly, só se vendo livre do francês quando este fez sua parada. Quando George fez sua parada, Leclerc continuou na pista por mais tempo e rapidamente se estabeleceu na terceira posição, longe de Sainz, mas secando Norris, pois em caso de dobradinha, a Ferrari venceria o Mundial de Construtores, mas como isso não aconteceu, Leclerc saiu bem chateado da corrida, mesmo tendo sido o melhor piloto do dia. A McLaren cometeu inúmeros erros quando se viu com o melhor carro do grid, mas pôde comemorar uma grande reviravolta esportiva. Alguns anos atrás, a McLaren sofria com um motor Honda que quebrava loucamente e no desespero, partiu para o motor Renault. Tudo parecia dar errado ao time fundado por Bruce McLaren em 1963, mas a chegada de Zak Brown significou uma melhoria drástica no time, que foi melhorando com contratações não apenas de pilotos, mas de pessoal de staff, em especial Andrea Stella, engenheiro por muito tempo da Ferrari. Com as bençãos do inesquecível Gil de Ferran, a McLaren entrou 2024 ainda tateando, mas a partir da vitória de Norris em Miami, a McLaren se viu com o melhor carro. A falta de experiência do atual time nessa situação fez com que a McLaren perdesse pontos preciosos na tentativa de Lando Norris (que também vacilou em inúmeros momentos) de tentar enfrentar Max Verstappen. Se perdeu o título de pilotos, pelo menos garantiu o Mundial de Construtores depois de 26 anos, quando nem Norris, nem Piastri, eram nascidos. Mesmo o australiano tendo feito um quarto final de campeonato abaixo, incluindo a prova de hoje, onde foi décimo depois de levar uma punição por acertar a traseira de Colapinto na relargada, Piastri deverá crescer ainda mais em 2025, enquanto esperamos ver um Lando Norris mais maduro e menos infantil.
A Mercedes preparou vários belo vídeos para a despedida de Lewis Hamilton, mesmo o inglês largando apenas na penúltima fila em mais uma classificação infeliz do inglês. Lewis saiu com pneus duros, numa decisão acertada, pois ao esticar o seu primeiro stint, foi o único com pneus médios nas voltas finais. Melhor 'calçado', Hamilton partiu para cima dos rivais e ainda teve tempo para alcançar Russell na volta final, chegando ao quarto lugar, numa disputa bem sossegada com o companheiro de equipe, que um dia lhe pediu autógrafo. As cenas de Hamilton após a corrida demonstram que mesmo estando de vermelho em 2025, sua alma tem a cara da Mercedes.
A Red Bull teve um domingo bem miserável, com Verstappen tendo que pagar uma punição pelo toque com Piastri na primeira curva e Pérez abandonando alguns quilômetros depois. Max fez o que pode para ser sexto. Marcando o mesmo número de pontos que Pérez amealhou nas últimas nove corridas. Isso demonstra que Max levou a Red Bull nas costas, mas como será em 2025, sem Newey e Wheatley? A equipe filial Racing Bulls não foi muito diferente, com Tsunoda ficando sem pneus nas voltas finais e saindo da zona de pontuação e Lawson ficando, literalmente, sem pneu, quando saiu dos pits com uma roda solta, tendo que fazer um pit-stop tardio que estragou de vez a corrida do neozelandês. Com a iminente saída de Pérez, será que a Red Bull confiará em um dos dois? Provavelmente não será Colapinto. Após toda a comoção das primeiras corridas do argentino, as batidas sofridas pareceram mexer na confiança de Franco, que não mais performou e a despedida via rádio antes da largada também foi um indicador que Colapinto dificilmente estará como titular em 2025.
Na briga pelo sexto lugar no Mundial de Construtores, a Alpine se saiu melhor com a ótima exibição de Pierre Gasly, um dos principais pilotos das últimas provas. O francês ficou boa parte do primeiro stint em terceiro, segurando os ataques de Russell e quando fez sua parada, Gasly começou a pensar mais no campeonato, deixando-se ultrapassar por Russell e Leclerc, mas garantindo um sétimo lugar que o pôs em décimo lugar no Mundial de Pilotos, além de garantir a Alpine num excelente sexto lugar, algo inimaginável no começo do ano. Porém, a Alpine tem com o que se preocupar, pois Jack Doohan teve uma estreia muito longe de impressionar, terminando em último. Hulkenberg foi outro destaque do dia, levando sua Haas aos pontos, mesmo que perdendo o décimo lugar para Gasly. Magnussen se despediu da F1 com a melhor volta da corrida, depois de ter sido acertado por Bottas, que abandonou após dois toques e a 'inteligente' punição de 10s para a próxima corrida, que muito provavelmente nunca virá. Alonso fez o que pôde com a Aston Martin, chegando em nono e esperando ansiosamente por 2025 e algum toque de midas de Adrian Newey no novo carro. Zhou e Albon chegaram a andar na zona de pontos, mas sucumbiram a ruindade dos seus carros.
E a temporada surpreendente de 2024 termina com uma nova equipe vencendo o Mundial de Construtores. A McLaren se tornou a primeira equipe cliente a vencer o campeonato desde a Brawn em 2009. Mais do que isso, a McLaren iniciará 2025 com bastante força e com a moral de atual campeã, mas enfrentará uma Ferrari que terminou o ano forte, além da motivação de receber Hamilton, uma Mercedes ainda tentando se recuperar das doloridas derrotas desde a entrada do novo carro, além de uma Red Bull que perdeu muita gente importante de staff, mas permanece com seu maior trunfo: o novo papai Max Verstappen. Um campeonato de 2025 que promete uma briga com quatro cavalos por cada vitória. Se 2024 já foi bom, 2025 poderá ser ainda melhor.
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