Nos últimos vinte anos, a sessão classificatória tornou-se cada vez mais importante, com as dificuldades de se ultrapassar durante as provas, tornou-se imperativo conseguir uma boa posição na pista. Porém, neste Grande Prêmio da Inglaterra sem nenhum problema com o clima, o pódio foi formado por três pilotos que não largaram no top-5, algo bastante inusual nos últimos tempos. Apesar de largar em sexto, a vitória de Hamilton não foi nenhum surpresa, mas o inglês teve sua vida facilitada quando capitalizou os problemas de Nico Rosberg, o primeiro nessa temporada, para vencer sua corrida caseira novamente, além de encostar no seu companheiro de equipe na briga pelo título de 2014. Já Bottas e Ricciardo fizeram corridas de recuperação, cada um ao seu modo, para voltarem ao pódio. E se Silverstone é conhecido por não facilitar nas ultrapassagens, devemos glorificar a mítica pista inglesa pela disputa mais emocionante dos últimos tempos valendo o quinto lugar entre Sebastian Vettel e Fernando Alonso, que durou longas e lindas voltas, para deleite de quem assistia.
Porém, a corrida começou com uma hora de atraso devido ao forte acidente de Kimi Raikkonen ainda na primeira volta, quando o finlandês saiu da pista e quando retornou, encontrou um degrau no gramado fazendo-o perder definitivamente o controle de sua Ferrari e bater muito forte no guard-rail, a ponto de danificar a estrutura, causando uma bandeira vermelha de praticamente uma hora. Apesar de ter saído de sua Ferrari aparentemente sentindo dores, Kimi está bem e ainda contando com muita sorte, pois o acidente poderia ter sido de proporções ainda maiores. Quando Raikkonen bateu forte, sua Ferrari voltou à pista e por muito pouco não foi atingido em cheio por Kobayashi e Massa, que mesmo evitando o pior, tiveram que abandonar no incidente. Com o guard-rail consertado, o pole Nico Rosberg disparou na frente, pois ele sabia que com pista seca, Hamilton não tardaria a escalar o pelotão. Mesmo com toda a superioridade dos carros da Mercedes nesse ano, Silverstone se casou perfeitamente com as flechas de prata e a diferença da Mercedes para o resto foi ainda maior. Quando Hamilton facilmente assumiu o segundo posto, ele estava 5s atrás de Rosberg, começando o jogo de gato-e-rato que os dois pilotos da Mercedes vem protagonizando neste ano. Quando Hamilton cortou essa diferença para pouco mais de 2s, Rosberg resolveu fazer sua parada, indicando que pararia duas vezes, ao contrário de Hamilton, que esticava sua parada e indicava que faria apenas um pit-stop. Foi então que Nico avisou à sua equipe de problemas de câmbio que impediram-no de manter um ritmo mais forte, até faze-lo abandonar logo após Hamilton fazer sua parada. Foi um golpe para as pretensões de título de Nico Rosberg. O alemão sabe que Hamilton é mais rápido, mas da mesma forma conhece o ponto fraco do seu rival, que é o fator psicológico. Nico Rosberg tentou a todo custo se mostrar indestrutível, tanto que nas oito corridas anteriores, seu pior resultado foi um segundo lugar. Com esse revés, Rosberg teve sua liderança fragilizada, pois agora Hamilton tem apenas quatro pontos de desvantagem com o impulso de motivação por ter vencido em casa, algo que ele buscava desde 2008, quando venceu em Silverstone pela primeira vez.
A diferença da Mercedes para as outras equipes era tal, que Hamilton se deu o luxo de fazer uma parada por precaução quando faltavam dez voltas e ainda receber a bandeirada com mais de 20s de vantagem sobre Bottas, outro nome forte deste domingo. O finlandês naufragou na estratégia da Williams de ontem e largou em posições intermediárias, mas uma largada muito boa e muita velocidade nas retas elevou rapidamente Bottas às posições pontuáveis. Sem ter medo de cara feia, Bottas foi ultrapassando quem via pela frente, como as Red Bulls de Ricciardo e Vettel, além das McLarens de Button e Magnussen, subindo para um tranquilo terceiro lugar, que se transformou em segundo com o abandono de Rosberg. Valtteri vem se mostrando um ótimo piloto e hoje é o piloto com o maior número de pontos da Williams, fazendo com que a equipe suba para o quarto lugar no Mundial de Construtores, apenas dois pontos atrás da Ferrari. Massa pouco pôde fazer no seu 200º Grande Prêmio, além de mostrar bom poder de reação e não bater em cheio em Raikkonen na primeira volta. Quando foi dada a relargada, a Red Bull optou em colocar pneus duros, talvez pensando em esticar ao máximo a parada de seus pilotos, mas sem ritmo o suficiente, seus pilotos procuraram os boxes mais cedo do que o ideal. Foi aí que Ricciardo conseguiu dar o bote em Vettel. Enquanto o alemão procurou os boxes ainda nas primeiras voltas para colocar os pneus macios, Ricciardo esticou um pouco mais seu stint com os pneus duros, mesmo perdendo tempo em relação ao demais e quando colocou os pneus macios, garantiu uma quilometragem suficiente para que aquela se tornasse sua única parada nos boxes, ao contrário de Vettel, que teve que fazer uma segunda parada. E protagonizar a disputa do ano até agora!
Fico imaginando se há 35 anos atrás, quando se comemorou a épica batalha entre Gilles Villeneuve e René Arnoux em Dijon, houvesse rádio e a regra do 'track limits'. Hoje, foi interessante a forma como Alonso e Vettel dialogavam com a direção de prova, esperando ganhar uma vantagem na árdua disputa que protagonizaram, com vários momentos lado-a-lado. Primeiro Alonso ganhou a posição de Vettel enquanto este retornava dos boxes com os pneus frios, mas quando a borracha nova da Pirelli ganhou temperatura, Vettel partiu para cima de Alonso com gosto, trazendo toda a atenção para a disputa pelo quinto lugar nas últimas voltas. Vettel tentou uma, duas, três vezes colocar de lado na reta, utilizando o DRS, mas o seu raquítico motor Renault o impedia de finalizar a manobra, somado a pilotagem soberba de Alonso, meio que tirando a diferença da asneira que o espanhol fez na primeira largada, quando estacionou sua Ferrari no lugar errado e perdeu 5s em sua parada como punição. Alonso jogava duro, mas sem ser desleal. O mesmo fazia Vettel. Outra coisa em comum foi a reclamação de um contra o outro da forma como defendiam e da forma como pilotavam, pois não faltaram vezes que Alonso e Vettel colocaram as quatro rodas além da linha branca. Foi uma disputa espetacular, com vantagem para Vettel, que mais uma vez superou Alonso na pista. Quem saiu ganhando com tudo isso, além do público, foi Jenson Button. Largando em terceiro, o inglês sabia que sua McLaren não tinha condições para disputar o pódio, mas homenageando seu pai, ele correu como nunca e com a briga ocorrendo atrás dele entre Vettel e Alonso, garantiu o quarto lugar, ainda tendo tempo de tirar proveito dos pneus gastos de Ricciardo e iniciar uma tardia aproximação no australiano, mas sem briga. Magnussen foi um espectador privilegiado da briga entre Vettel e Alonso, torcendo que um toque pudesse tirar ambos da corrida e o dinamarquês se aproveitar de um hipotético incidente, mas com dois grandes pilotos brigando à sua frente, Magnussen ficou mesmo em sétimo lugar.
Largando em quarto lugar, Nico Hulkenberg largou mal e durante a prova a Force India provou que a boa posição do alemão aconteceu mais pelo talento de Nico em piso molhado e as circunstâncias de ontem. Sem ritmo, Hulkenberg não teve condições de brigar por posições melhores do que o oitavo lugar que conquistou, enquanto Pérez não repetiu as boas recuperações que vem lhe caracterizando e ficou fora dos pontos. A Toro Rosso colocou seus dois carros nas duas últimas posições pontuáveis, com Vergne finalmente marcando pontos, mesmo que ficando atrás de Kvyat. As péssimas temporadas de Lotus e Sauber continuaram, inclusive com um toque entre dois de seus pilotos (Gutierréz bateu com gosto em Maldonado, talvez se lembrando do sórdido acidente provocado pelo venezuelano no Bahrein) e ficaram longe dos pontos. Jules Bianchi chegou a ficar em décimo na relargada, mas o francês foi perdendo rendimento não por culpa sua, mas pela ruindade do seu carro. Com Koba abandonando na primeira volta e Ericsson tendo problemas ainda cedo, a venda da Caterham parece não ter feito tão bem assim para a pequena equipe.
Com a Copa do Mundo chegando em sua reta final, a F1 ficou meio que de lado nos últimos tempos, mas essa boa corrida mostrou um pouquinho da magia da F1, mesma ela estando em dificuldades fora das pistas. Alonso e Vettel nos brindaram com uma disputa que entrará na história da temporada 2014, enquanto Hamilton mostrou que teremos campeonato até o final do ano.
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