Quinze anos atrás, no último ano em que as equipes podiam testar praticamente sem limites, Williams-BMW e McLaren-Mercedes dominaram a pré-temporada com direito a recordes quebrados nos circuitos espanhóis. Enquanto isso, a Ferrari testava sozinha na Itália, longe dos olhos mais atentos. Schumacher havia vencido com dificuldades em 2003 e com Williams e McLaren tão fortes, a dúvida seria quem destronaria o alemão da Ferrari do trono em 2004. Veio a primeira corrida em Melbourne e novamente se falou em 'campeão de inverno'. A corrida e a temporada foi dominada de forma inapelável pela Ferrari e Schumacher, desfazendo o sonho de uma temporada disputada quinze anos antes.
Voltando a 2019 e para a mesma cidade australiana, havia a expectativa de que a Ferrari usasse a força mostrada em Barcelona para ser a nova dominadora da F1. A Honda finalmente fez um trabalho decente e a parceria com a Red Bull iniciou-se de forma promissora. Enquanto isso, também em Barcelona, a Mercedes fazia uma pré-temporada burocrática e só acumulando quilometragem. Somente no último dia os prateados entraram no rol dos mais rápidos. Dizia-se até que a Mercedes seria a terceira força de 2019. Melbourne mostrou um quadro totalmente distinto. Lewis Hamilton dominou os treinos como algum tempo não se via. Ferrari e Red Bull tomaram quase 1s dos alemães e pelo menos em ritmo de classificação, a Mercedes está bem superior às rivais, num cenário parecido com 2004.
A primeira classificação da temporada mostrou alguns respostas, até mesmo algumas que não queríamos ver. A Williams pode estar iniciando uma temporada tenebrosa, típica de uma equipe que está prestes a ser vendida ou até mesmo acabar. Se a F1 tem pelotões dentro do seu plantel, a Williams está sozinha como a pior equipe do ano, com ampla desvantagem para o compacto pelotão intermediário. Para piorar, Kubica não está fazendo uma reestreia das mais auspiciosas, tomando muito tempo do novato George Russell. Muitos anos fora e uma situação física complicada pode fazer desse retorno de Kubica à F1 algo que não queríamos ver. Entre as equipes top-3 e a Williams, é o que se pode dizer uma briga de foice no escuro. A diferença entre as equipes ditas intermediárias é bastante pequena e as posições são decididas por centésimos de segundo. O destaque inicial vai para Lando Norris, que colocou a McLaren no Q3, enquanto o já experiente Sainz ficou ainda no Q3, onde ficou o cativo Stroll e a grande decepção do dia. Pierre Gasly até estava num ritmo parecido de Max Verstappen nos treinos livres, mas ficar no Q3 com um Red Bull não pegou nada bem para o francês, que em sua estreia em equipe grande já terá uma corrida de recuperação pela frente.
Enquanto Gasly decepcionava lá atrás, na frente a Mercedes mostrava seu real potencial, com Hamilton garantindo sua 84º pole na carreira, tendo um pouco de trabalho para superar Bottas, muito bem nesse final de semana. Vettel superou Leclerc, que ainda foi superado por Verstappen na última volta voadora do holandês. Se serve de consolo, ano passado Hamilton garantiu a pole com uma volta tão assustadora como a de hoje, iniciando o que se convencionou chamar de 'modo fiesta', mas na corrida e ao longo da temporada não houve esse temido domínio. Resta saber se a Mercedes realmente casou muito bem com Melbourne (já aconteceu isso em 2018) ou se podemos nos preparar para outro domínio avassalador da Mercedes e de Hamilton.
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