Ao lado de Pedro Lamy, Tiago Monteiro foi o piloto português mais forte na história da F1, mesmo que seu protegido Antonio Félix da Costa tenha mostrado várias vezes ter, no mínimo, o mesmo talento do seu mestre. Tiago começou sua carreira relativamente tarde, mas após disputar vários tipos de categorias, o português conseguiu subir à F1 e ter resultados decentes, principalmente pelo equipamento que Monteiro tinha em mãos. Após sua breve passagem na F1 Monteiro se dedicou às corridas de turismo com sucesso e está lá até hoje. Completando 45 anos no dia de hoje, vamos ver um pouco a carreira de Monteiro.
Tiago Vagaroso da Costa Monteiro nasceu no dia 24 de julho de 1976 na cidade do Porto. Inspirado pelo pai, Tiago começou a correr relativamente tarde. Mesmo tendo um circuito muito bom no Estoril, Portugal não tem uma grande tradição de pilotos. Além de Nicha Cabral nos anos 1950 e 1960, apenas Pedro Lamy conseguiu resultados consistentes no automobilismo internacional, sem contar sua passagem conturbada na F1. Monteiro começou a se destacar já com 21 anos de idade e numa competição de turismo, quando foi o estreante do ano no Campeonato Francês de Porsche. Ainda muito novo, Monteiro se mudou no ano seguinte para a F3 Francesa, mas ao contrário do habitual, o português ficou longas quatro temporadas na categoria, sem conquistar o título e tendo dois vice-campeonatos em 2000 e 2001. Contudo, no ano 2000 o campeonato francês correu junto com os certames inglês e alemão em Spa e Tiago Monteiro conseguiu uma bela vitória, derrotando na ocasião o badalado Antonio Pizzônia. No Superprix da Coreia, Monteiro chegou em segundo lugar, chamando a atenção de todos. Mesmo tendo perdido o título francês para Ryo Fukuda em 2001, Monteiro conseguiu um bom lugar na F3000 em 2002, na tradicional equipe Supernova, mas os resultados do lusitano foram muito abaixo do esperado, principalmente em comparação ao seu companheiro de equipe Sebastien Bourdais, que se tornaria campeão daquela temporada, enquanto Monteiro só tinha um quinto lugar em Hockenheim como melhor resultado.
Mesmo com resultados bem abaixo do esperado, Monteiro teve seu primeiro contato com a F1 ainda em 2002, fazendo um teste com a Renault, mas sentindo que não teria chances naquele momento na F1, Tiago faz uma aposta arriscada na carreira. A CART tinha falido no final de 2002 e para o campeonato não acabar, alguns chefes de equipe se juntaram para formar um novo certame, mas em nenhum momento a força do antigo campeonato da Indy se fez presente. Várias equipes foram formadas na época de forma até mesmo atabalhoada e uma delas teria como chefe simplesmente Emerson Fittipaldi, que fez uma sociedade com James Dingman para formar a Fittipaldi-Dingman. Mesmo com toda a grife Fittipaldi, a equipe era bastante modesta, porém, Monteiro mostrou sua velocidade em alguns momentos, como a primeira fila no circuito Hermanos Rodríguez e a liderança em duas corridas. A lógica dizia numa continuação de Tiago nos Estados Unidos, porém a equipe se desfez no final de 2003 e a Champ Car se mostrava num nível sofrível. Monteiro então retornou à Europa e mostrou um ótimo trabalho na World Series by Nissan, onde conquistou cinco vitórias e foi vice-campeão em seu primeiro ano, perdendo o título para Heikki Kovalainen. Graças a patrocinadores, Monteiro também conseguiu um cargo de piloto de testes da Minardi em 2004, mas o melhor estava por vir.
Após alguns anos de penúria, finalmente Eddie Jordan vendia sua querida equipe no final de 2004, vendendo-a para um obscuro grupo russo chamado Midland. Com os bons resultados na WS e na Champ Car, Monteiro se credenciou a estrear na F1 pela Jordan/Midland, já contando com 29 anos de idade em 2005. A Jordan já tinha feito um ano medíocre em 2004 e mesmo com a venda, o carro de 2005 não era melhor. A Jordan brigaria com a Minardi maior parte do tempo para não fechar o grid, porém, Tiago Monteiro mostrava muita consistência ao levar o carro até a bandeirada em dezoito das dezenove corridas no ano. Na Turquia, Monteiro quase não correu devido a uma dor de dente, mas como o chefe de equipe Colin Kolles também era um excelente dentista, Tiago foi operado no local e correu normalmente. No meio da temporada a imprensa brasileira 'descobriu' seu sobrenome do meio (Vagaroso) e Monteiro sofreu muita zoação, mas o lusitano daria a volta por cima da forma mais imprevisível possível. Nos treinos para o Grande Prêmio dos Estados Unidos, na época realizado em Indianápolis, as equipes clientes da Michelin perceberam que os pneus franceses não estavam aguentando as forças G na curva inclinada no oval, provocando perigosos acidentes por estouros de pneu. Tendo apenas três equipes no grid, com problemas de desempenho ao longo do ano e sem contar com nenhum incidente em Indianápolis, a Bridgestone (apoiada fortemente pela Ferrari) bateu o pé e não aceitou qualquer modificação na pista para ajudar a Michelin, resultando no vergonhoso abandono dos carros com pneus Michelin. Dentre as equipes com pneus Bridgestone estava a Jordan e tudo o que Tiago Monteiro precisava fazer era superar seu companheiro de equipe Narain Karthikeyan para assegurar um incrível pódio. Tiago o fez com tranquilidade e levando seu carro com cuidado, terminou em terceiro e se tornou o primeiro e até agora único português a subir ao pódio! Enquanto a dupla da Ferrari mal comemorava devido às vaias do público e o entrevero que Schumacher e Barrichello tiveram na pista, Monteiro vibrou intensamente e foi o único aplaudido do dia! Provando o quão bom foi a temporada de estreia de Tiago Monteiro na F1, ele ainda conseguiu marcar um pontinho em Spa, uma de suas pistas favoritas, com todos os pilotos no grid dessa vez.
Tiago Monteiro tinha o recorde de chegadas para um estreante na F1, mas nem isso lhe garantiu um lugar melhor para 2006 e o luso teve que se contentar em mais um ano na equipe, que passaria a se chamar Midland a partir daquela temporada. Porém, o carro se mostraria ainda pior e Monteiro não pontuaria, mesmo tendo ficado em nono (na época os oito primeiros pontuavam) no chuvoso Grande Prêmio da Hungria. Para complicar ainda mais, Tiago teria como companheiro de equipe o irascível Christjian Albers, com quem Monteiro não se daria bem e teria um toque em Montreal. Novamente a equipe seria vendida no final de 2006 e a compradora seria a pequena montadora holandesa Spyker, cujo dono era sogro de Albers. Mesmo tendo feito um trabalho decente, Tiago Monteiro acabou definitivamente fora da F1 com 37 corridas, 7 pontos e o pódio em Indianápolis.
Voltando às origens, Tiago Monteiro retornou às corridas de turismo e participou ativamente do forte campeonato do WTCC. Em 2007 ele fez algumas corridas na equipe oficial da Seat, sendo contratado em definitivo no ano seguinte. Monteiro havia participado das 24 Horas de Le Mans em 1999, quando estava militando no automobilismo francês, conquistando um bom quarto lugar em 2001, mas ele retornaria em 2009, sem os mesmos resultados de antes. Quando a Seat sai do WTCC em 2010, Tiago fica numa equipe privada nas duas temporadas seguintes, até ser contratado pela Honda para 2012. Após conseguir sua melhor temporada em 2016, Monteiro sofre um seríssimo acidente em Barcelona 2017, que colocou sua carreira em risco, mas ele retornaria de forma miraculosa em 2018, sendo aplaudido por todo o paddock em seu retorno. O WTCC se fundiu ao TSR e hoje Tiago Monteiro corre com um Honda Civic no novo campeonato, o WTCR. Além de suas atividades na pista, Tiago Monteiro se tornou manager de Antonio Félix da Costa, que faz sucesso na F-E e tenta um lugar na Indy em 2022. Piloto cerebral e com uma carreira consistente, Tiago Monteiro vê em AFC como seu verdadeiro sucessor nas pistas como o principal piloto português da história.
Parabéns!
Tiago Monteiro
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