domingo, 14 de novembro de 2021

O que mais podemos falar?

 


Somos privilegiados por estarmos presenciando esse momento da F1 e ainda tem gente que fala que a F1 morreu ou esta morrendo. Morreu quando? Morreu por quê? Sim, estamos em meio ainda a um domínio absoluto da Mercedes e mesmo com a força de Max Verstappen e a Red Bull em 2021, a turma de Toto Wolff ainda é o campeão reinante, mas alguém pode reclamar das corridas dos últimos anos. Sim, no plural. Mesmo com o domínio da Mercedes, as corridas de F1 se mantém ótimas, não ver quem não quer. A grande diferença de 2021 é que o percentual de corridas ruins (que sempre existiram em TODAS as temporadas de F1) é mínimo e estamos vendo dois grandes piloto se digladiando como verdadeiros guerreiros nas pistas semana sim, semana não. Interlagos foi palco de mais um show de Max Verstappen e, principalmente, Lewis Hamilton. O inglês escreveu com letras douradas uma obra-prima não apenas na corrida, mas em todo o final de semana em São Paulo rumo a uma vitória épica.


Ao contrário de outros anos, o clima foi bastante sólido em Interlagos nos três dias de atividade e no domingo o sol veio forte em São Paulo, afastando qualquer possibilidade de chuva. Com o ritmo imposto por Hamilton na Sprint Race, estava claro que a corrida seria outro eletrizante mano a mano entre Lewis e Max Verstappen, que ao contrário de ontem, se colocou muito bem na largada e tomou a posição do pole Valtteri Bottas numa manobra agressiva na primeira curva, deixando o nórdico à mercê de Sergio Pérez, que completou a dobradinha da Red Bull ao final da reta oposta. Hamilton? Ele mostrou suas credenciais com uma ultrapassagem por fora no Laranjinha em cima de Pierre Gasly. Ali não havia DRS ou vantagem do motor novo da Mercedes. Hamilton usou seu talento absurdo em efetuar uma ultrapassagem fora do comum num lugar inimaginável em cima de um piloto muito bom. A escalada de Hamilton não tardou a coloca-lo em quarto lugar, que virou terceiro quando Bottas só faltou puxar o freio de mão ao final da reta dos boxes. O Safety-Car veio ainda nas primeiras voltas no toque de Tsunoda em cima de Stroll, espalhando detritos em todo o Esse do Senna. De certa forma, o japonês deu uma bela ajuda à Hamilton, que não precisou se esforçar muito para encostar em Pérez. 


Na relargada Hamilton foi para cima de Pérez, que empolgado com sua pilotagem de semana passada em casa deu trabalho ao piloto da Mercedes. Foi preciso Hamilton ultrapassar duas vezes Checo para chegar ao segundo lugar e nem quinze voltas haviam-se passado desde que Lewis largara em décimo. Porém, a vantagem de Verstappen chegava a bons 4s, que se manteve até a primeira parada, quando Hamilton parou primeiro e com pneus novos, cortou mais 2s de Max para iniciar uma eletrizante corrida de perseguição pelas curvas de Interlagos, com o público indo ao delírio. Com o novo motor Mercedes debitando muita potência, estava claro que no momento em que Hamilton tivesse à sua disposição o DRS e saísse da Junção ou do Sol próximo de Max, a ultrapassagem seria inevitável. Porém, quem disse que Verstappen entregaria a posição sem uma luta? Pensando racionalmente, Verstappen nem precisaria de tanto risco para se conformar com a segunda posição e conseguir bons pontos no campeonato, mas todo o contexto de punições à Hamilton daria tanto moral ao inglês em caso de vitória que Max não aliviou em nenhum momento. Num lance de esperteza de Hamilton, ele colocou ligeiramente de lado na primeira curva, fazendo Verstappen não fazer a trajetória ideal e deixando o piloto da Red Bull na alça de mira no caminho até a forte freada ao final da reta oposta. De forma até mesmo irregular, o neerlandês fez um zigue-zague na reta oposta e Hamilton chegou na frente por fora, mas Max forçou a barra e ambos saíram da pista. Lewis nem reclamou alguma punição. Ele tinha uma missão: ultrapassar Max na pista, sem se beneficiar de qualquer vantagem fora da pista. A vitória tinha que ser limpa, na pista. E Hamilton fez a mesma manobra, incrivelmente o frio Verstappen caiu na mesma armadilha e Hamilton entrou colado na reta oposta. Mais rápido pelo motor e pelo DRS, Hamilton nem esperou a freada para cortar Verstappen de forma impositiva, meio que dizendo: se tu vier de novo, não vou tirar o carro. Max não foi. E Hamilton venceu!


Venceu uma corrida histórica, onde esses dois grandes pilotos fizeram um verdadeiro recital por mais de sessenta voltas em Interlagos, que explodiu em emoção. Hamilton foi punido duas vezes nesse final de semana. Ganhou quinze posições na Sprint Race. Novamente punido, ganhou mais dez posições no domingo. Vinte e cinco no total. Hamilton ultrapassou cada um dos outros dezenove pilotos nesse final de semana de 405 km em Interlagos. No fim, a emoção. Como seu ídolo Ayrton Senna, Hamilton pegou uma bandeira brasileira e desfilou pela pista que consagrou duas vezes Senna, transformando Interlagos num verdadeiro caldeirão de emoções. Ao contrário do México, que tinha Sérgio Pérez para torcer e fez uma belíssima festa na Cidade do México, a torcida brasileira não tinha ninguém para torcer. Gostos apenas pontuais por este ou aquele piloto, mas nada que repetisse as cenas do circuito Hermanos Rodríguez. Mas Interlagos viu o autódromo explodir em emoção com a recuperação e vitória do inglês Lewis Hamilton, que subiu ao pódio enrolado na mesma bandeira brasileira. No meio daquele mar de gente, não havia muitos ingleses, mas, sim, apaixonados pela F1 que vibraram como nunca com uma corrida épica.


Claro que as ações de Hamilton trouxeram reações. Max Verstappen foi vaiado no pódio. Talvez por ser o antagonista de Hamilton, talvez por ser 'aliado' à Nelson Piquet, eterno rival de Ayrton Senna e que ganhou de maneira espiritual através de Lewis Hamilton. Mas a corrida incrível de Lewis Hamilton não aconteceria sem outra pilotagem sublime de Max Verstappen. O neerlandês simplesmente não tinha carro para bater de frente com Hamilton, mas ainda assim ele liderou a corrida por três quartos a disputa e só foi ultrapassado no final. O novo motor da Mercedes colocou uma pulga na orelha da Red Bull e da Honda. Estaria na hora de trocar o motor de Max? O novo circuito de Jeddah tem uma zona de aceleração absurda e com a usina que Hamilton tem nas mãos, se a corrida fosse hoje Max tomaria um binóculo do piloto da Mercedes, que de sua vez, vê a tão falada confiabilidade alemã indo embora com outro motor Mercedes com problema, dessa vez com a McLaren de Ricciardo. Como chegará o motor de Hamilton para as três corridas finais? Qual mapa foi usado debaixo de um calor escaldante hoje? Se nesse final de semana se esperava a Red Bull superior, a Mercedes 'quebrou o saque' e venceu em território energético. São detalhes, pequenos detalhes, que estão fazendo uma diferença enorme num campeonato que já tem a tarja de histórico ao lado do seu nome.


Com tanta coisa acontecendo lá na frente, mais do que natural que os demais dezoito pilotos se tornassem instantâneos coadjuvantes. Após ser ultrapassado por Hamilton, Pérez esteve longe de acompanhar a disputa, mas tinha uma vantagem interessante sobre Bottas, mas o nórdico acabou beneficiado quando um SC Virtual apareceu bem no momento de sua segudna parada, fazendo com que Valtteri ganhasse a posição e completasse o festivo pódio, além de conseguir pontos importantes para a Mercedes no Mundial de Construtores. Pérez ainda tirou um potinho de Hamilton ao marcar a volta mais rápida na última passagem. A Ferrari abriu mais pontos para a McLaren, que logo na largada viu Lando Norris ter um pneu furado após um toque com Carlos Sainz e o inglês ainda foi capaz de marcar um único ponto, mas bem longe das Ferraris, que fecharam em quinto e sexto com Leclerc na frente de Sainz. Gasly marcou bons pontos numa corrida discreta, mas sólida, colocando a Alpha Tauri empatada com a Alpine praticamente sozinho, pois Tsunoda simplesmente é um peso morto dentro da equipe, enquanto a equipe francesa marcou pontos com seus dois pilotos. Vettel, outro que praticamente corre sozinho dentro da equipe, ficou na beira de marcar pontos, enquanto Stroll foi o segundo abandono do dia. Alfa Romeo e Williams mal apareceram na corrida, enquanto que na Haas, Mazepin só chegou na frente de Mick Schumacher por causa de um toque do piloto alemão, que trouxe o SC Virtual.


Com o campeonato contornando sua curva final e indo para a bandeirada, é difícil achar palavras para o que estamos vendo nas corridas e o quanto Lewis Hamilton e Max Verstappen estão andando. Os detratores de Hamilton diziam que ele era campeão sem concorrência e a sensação que existia era que Hamilton nem usava todo o seu potencial para empilhar títulos e recordes. Nesse ano Hamilton achou a motivação necessária para subir seu sarrafo ao máximo no desafio que é bater Max Verstappen e a Red Bull. O ainda jovem neerlandês sequer tem um título, mas suas atuações seriam assinadas sem sobras de dúvida pelos grandes campeões da F1. Até mesmo pelo seu sogro Nelson Piquet. Num campeonato que deverá ser decidido nas minúcias, as próximas três corridas serão incógnitas, pois Catar só recebeu corridas da MotoGP, Jeddah estreará seu circuito de rua com a F1 e Abu Dhabi recebeu grandes reformas em suas curvas, tentando salvar um circuito sem alma. Porém, dificilmente o público nesses três países árabes com muito dinheiro farão festas como nas corridas americanas, principalmente nas latinas. Hamilton ou Verstappen? Verstappen ou Hamilton? Não dá para dizer que vencerá o melhor, pois ambos merecem demais o título desse ano.

Um comentário:

  1. Quer uma curiosidade?

    Se o Hamilton vencer as duas próximas corridas e o Max terminar em P2 nas duas, ambos chegam em Abu Dhabi com o mesmo número de pontos (368.5)

    (Isso se nenhum deles pegar a volta mais rapidas nessas corridas)

    Ou se cada um pegar a volta mais rapida em cada corrida, ai ambos estariam com 369.5

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