sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Deu match. Finalmente!

 


Os flertes entre F1 e Audi acontecem, no mínimo, há mais de vinte anos. Na época a F1 vivia a incontestável dominação da Ferrari com Schumacher, Todt, Brawn e companhia, enquanto que a Audi matava a tapa suas rivais nas corridas de Endurance. Parecia que somente uma montadora com a força da Audi poderia fazer frente à Ferrari, mas a cada vitória dos alemães em Le Mans, se repetia a mesma pergunta: vocês vão para a F1? E a resposta era a mesma: Não!

Porém, alguns fatores novos entraram na equação desse relacionamento que finalmente fez que ocorresse um match entre F1 e Audi. Quando venceu em Le Mans (e não faltaram vitórias...), a Audi apresentou várias novas tecnologias como motor a gasolina, diesel e híbrido. No começo do século 21 a F1 corria com seus possantes motores V10 que fazia a alegria dos torcedores, mas que não deixava nada animada a turma da ecologia, que via nesses motores uma mistura de barulho, desperdício e CO² no ambiente. Usando uma tecnologia até mesmo superior à F1 para triunfar em Le Mans, a Audi não se sentia atraída a entrar na categoria mais popular do mundo. No entanto, a F1 percebeu que para crescer e continuar cativando as montadoras, a categoria precisava entrar de cabeça nas novos tecnologias de motores e foi assim que surgiu os motores híbridos, para desgosto dos torcedores mais hardcore, mas que segurou Renault e Mercedes, além de atrair a Honda, mesmo que por um pequeno período de tempo.

A Audi já havia saído do Endurance, após um longo período de sucesso e estava na insípida F-E. A categoria elétrica é o sonho teórico de dos arautos da sustentabilidade, porém, nem sempre a teoria se comprova na prática, pois a realidade é que o ecologista do século 21 não está nem aí para carros. E muito menos para corridas. A F-E permanece estancada na sua plataforma de 'categoria do futuro' que parece nunca chegar. Porém, os novos motores da F1 além de não serem muito populares, se mostraram muito caros e a saída da Honda mostrava que outra mudança seria necessária, ainda que mantendo a mentalidade de sustentabilidade. Foi então que a VW, dona da Audi e da Porsche, começou a vislumbrar sua entrada na F1 usando suas marcas mais esportivas. Na realidade, um escândalo com resultados adulterados de motores a diesel postergou um pouco esse interesse, mas o fato da F1 usar motores com tecnologia de ponta pensando na sustentabilidade e com a proposta do carbono zero era bom demais para uma montadora querendo sair de um escândalo e se mostrar no pináculo das corridas. Outro detalhe é que a F1 está atingindo níveis até mesmo inéditos de popularidade em lugares até pouco tempo tabu, como os Estados Unidos e seu interessante mercado.

Quando a Audi saiu da F-E e oficialmente do DTM, o destino parecia claro: a F1. Mas como entrar numa categoria inflacionada? Montar uma equipe do zero parecia arriscado demais. Então a Audi (para não dizer a VW) procurou as chamadas equipes independentes. Primeiro bateu na porta da McLaren, que durante a pandemia perigou fechar as portas, mas com uma ótima engenharia, a tradicional equipe conseguiu se segurar muito bem e para não perder a pose, disse não aos alemães. Pensou-se na Williams, mas a equipe inglesa recém comprada preferiu se manter independente. Por enquanto. Então surgiu a Alfa Romeo. Sim, a Alfa Romeo by Sauber. Todos sabem que a velha equipe Sauber constrói seus carros e o nome Alfa Romeo é apenas uma parceria, que é boa para ambos os lados. A Alfa ganhava uma plataforma incrível de marketing, enquanto a Sauber era financiada para fazer o que sempre fez na F1: construir carros competitivos, ali na meiuca do pelotão. Mesmo assim a situação financeira da Sauber não era um mar de rosas, tanto que quase foi vendida à Andretti. Então chegou a Audi com toda a sua força e tradição. Era demais para o velho Peter Sauber e o chefe Fred Vasseur.

Após se livrar da Alfa Romeo, que hoje mesmo anunciou que só fica na Sauber até 2023, o caminho estava livre para a Audi. Numa apresentação histórica nesta manhã, a Audi anunciou que finalmente entrará na F1, mesmo que apenas em 2026, quando os novos motores estrearão. O que a Sauber fará entre 2024 e 25 ainda é um detalhe a ser discutido, principalmente com a Ferrari talvez não tão animada em entregar seus belos motores à Audi. Ainda não há maiores detalhes de como será o negócio, mas fala-se que a Audi adquiriu 75% das ações da Sauber, que continuará construindo seus carros e a parte aerodinâmica, enquanto os alemães se encarregarão da parte mecânica e do novo motor. Já de cara, a Audi deu uma cutucada na rival Mercedes, dizendo que construirá o primeiro motor de F1 na Alemanha em muitos anos. Ouch Toto!

O importante disso tudo é a chegada de uma montadora de comprovada qualidade técnica e de tradição gigantesca no automobilismo, com vitórias no Mundial de Rali, DTM, Trans-Am e ter dominado Le Mans de forma poucas vezes vistas. Ainda é cedo para especular qual será o tamanho do investimento e de quem liderará dentro e fora das pistas a Audi. Contudo, o esperado namoro entre F1 e Audi finalmente deu certo e todos esperam belos filhos pela no final dessa década. 

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