domingo, 21 de agosto de 2022

Homem x Máquina

 


A MotoGP está vendo em 2022 a fascinante disputa do homem versus a máquina. Sim, a Ducati tem a melhor moto do pelotão, sem sombras de dúvidas, mas como o principal campeonato, o mais lembrado, é o Mundial de Pilotos, os italianos não tem, sem sombras de dúvidas, o melhor piloto. A vitória na Áustria nesse domingo ficou com Pecco Bagnaia, a terceira seguida do italiano, a primeira vez que o piloto da Ducati consegue esse feito, mas o nome da prova foi Fabio Quartararo, que mesmo numa pista com longas retas e correndo com uma moto nitidamente mais lenta, chegou em segundo lugar a meio segundo de Bagnaia, tendo que ultrapassar motos mais rápidas que a dele. Enquanto Bagnaia ainda luta para ser segundo no campeonato, Quartararo vai abrindo de Espargaró, que fez uma prova de sobrevivência e foi apenas sexto.

O modificado circuito de Red Bull Ring recebeu a MotoGP com a chuva sempre à espreita, a ponto da entrevista coletiva de Marc Márquez na quinta ter sido interrompida por causa de uma forte tempestade. Felizmente a chuva ficou restrita à sexta-feira na pista e de resto, mesmo com o tempo carrancudo, o final de semana austríaco foi com pista seca, mas nem por isso nuvens negras deixaram de assombrar a categoria. Numa decisão autoritária e no mínimo discutível, a Dorna outorgou a entrada das Sprint Races a partir de 2023 em todas as corridas. Apesar da inspiração na F1 (onde até o momento as Sprint Races simplesmente não pegaram), o Mundial de Superbike já usa o expediente a algum tempo e foi ali que a MotoGP se inspirou para a polêmica decisão. As equipes gostaram e apoiaram, por causa do maior tempo de exposição de patrocinadores, mas boa parte dos pilotos simplesmente detestaram a ideia, pois os colocam mais expostos a acidentes. A decisão repentina e sem maiores avisos da Dorna foi o estopim de outros problemas que vem incomodando os pilotos e isso pode ser o início de outros capítulos polêmicos nos próximos dias.

Voltando a 2022 e a pista propriamente dita, o esquadrão Ducati largou muito bem após dominar as primeiras posições no grid no sábado. O pole Bastianini não resistiu muito tempo ao compatriota Bagnaia e ainda na primeira volta Pecco tomou a ponta para não mais perdê-la, numa corrida de certa forma tranquila do principal piloto da Ducati. Com Bastianini sofrendo de problemas que o fizeram abandonar a prova cedo, Bagnaia contou com Miller a protegê-lo a maior parte do tempo e de certa forma, Jorge Martin, com esperanças de ficar com a vaga de Miller em 2023, não iria se arriscar muito lutando com as motos de fábrica. O que a Ducati não contava era que Quartararo estava num dia inspirado. Mesmo não largando muito bem, Fabio se aproveitou de um erro de Maverick Viñales para começar sua caçada às Ducatis, uma missão para lá de ingrata para um piloto que tem uma moto muito lenta em velocidade de ponta, cuja pista austríaca, mesmo com a chicane após a curva um, ainda é uma das mais rápidas do calendário.

Quartararo usou e abusou do seu talento. Extraindo os pontos fortes da sua Yamaha, o francês se aproveitou de um erro de Martin e fez uma ultrapassagem belíssima sobre Miller nas voltas finais, assumindo a segunda posição. A sensação que tinha era que se houvessem mais algumas voltas, Quartararo partiria para a briga pela vitória, mas o segundo lugar logo atrás de Bagnaia foi um prêmio para o francês, que mesmo com a perigosa aproximação de Bagnaia no campeonato, viu seu mais próximo perseguidor tendo problemas. Aleix Espargaró teve dificuldades na moto na largada e saiu mal. O espanhol ainda ficou em quinto nas primeiras voltas, mas a Aprilia não estava num bom dia. Viñales já vinha despencando no pelotão e Aleix contou com alguns problemas de rivais para salvar um sexto lugar. Na abertura da última volta, Martin forçou muito na briga com Miller e acabou no chão, dando mais alguns pontinhos a Bastianini na luta particular entre os dois para ficar com a vaga da Ducati oficial em 2023.

A vitória de Bagnaia o coloca cada vez mais próximo de Espargaró, que parece estar com o gás acabando, contudo, Quartararo vai fazendo um excelente trabalho de mitigar os danos de uma moto que só funciona com ele. Os demais pilotos da Yamaha simplesmente lutam para entrar na zona de pontuação. Com a aposentadoria de Rossi e o ano praticamente sabático de Márquez, Fabio Quartararo é o melhor piloto da MotoGP, mas ele tem que enfrentar um esquadrão de motos superiores a sua para tentar o bicampeonato. E até o momento, o homem vai vencendo a máquina na MotoGP.

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