domingo, 28 de agosto de 2022

Escalada sem graça

 


Ainda no começo do final de semana, a Red Bull anunciou que Max Verstappen trocaria seu motor e por isso largaria no final do grid. Em todos os treinos, o neerlandês mostrou um ritmo um patamar acima de todos os outros dezenove pilotos e mesmo saindo em 15º no grid (que viraria 13º com os problemas da Alpha Tauri momentos antes da largada), era esperado uma corrida de recuperação de tirar o fôlego, relembrando a mítica remontada de Michael Schumacher em 1995. Ok, a vitória de Max veio, mas não teve um décimo do brilhantismo de Schumacher 27 anos atrás. Pode-se afirmar sem meias palavras que Verstappen conseguiu uma vitória tranquila, mesmo saindo do meio do pelotão, mas a Red Bull tem hoje um carro superior aos demais, uma equipe entrosada ao extremo e um piloto que está numa fase esplendorosa. Enquanto isso, os rivais da Red Bull ora falta, carro, estratégia ou piloto. 


Havia uma expectativa de chuva no dia da corrida em Spa, o que antigamente era motivo de alegria para os fãs da F1, hoje causa calafrios, lembrando o papelão que aconteceu ano passado. Porém, a chuva ficou restrita praticamente na sexta e se no sábado estava nublado, nesse domingo abriu-se um sol brilhante que praticamente afastava uma corrida caótica. No entanto, com o grid embaralhado pelas punições ao atacado, era esperado uma corrida ótima e cheia de disputas, certo? Errado! Há uma frase não escrita na F1 que diz que uma pista boa é sinônima de corrida boa, o mesmo acontecendo ao contrário. Porém, nem sempre essa equação é tão simples assim. Spa é a pista favorita entre dez de dez pilotos na F1 que por lá correram e felizmente teve seu contrato renovado, contudo, 2022 não ficará marcado por uma corrida legal, como já ocorreu tantas vezes na pista cercada pela floresta de Ardenas. Sainz largou bem, o mesmo não acontecendo com Pérez, que ao tentar fechar Alonso, abriu as porteiras para a dupla da Mercedes. Foi então que ocorreu o momento mais polêmico do final de semana. Hamilton estava mais rápido e ultrapassaria Alonso a qualquer momento, porém Lewis preferiu acabar com a disputa o mais rápido possível, na forte freada da reta Kemmel. O que Hamilton calculou muito mal foi ter tentado a manobra por fora em cima de alguém como Alonso. O contato foi inevitável, jogando a Mercedes de Hamilton para o alto, forçando o primeiro abandono do inglês em 2022. Contudo, o que aconteceu depois foi mais interessante. Pelo rádio, Alonso chamou Lewis de idiota e fuzilou: esse cara só sabe andar quando está em primeiro. Ouch! Porém, Fernando estava de cabeça quente, o que não era o caso de Hamilton, que foi cutucado por Mariana Becker quando foi confrontado pelas palavras de Alonso via rádio. Hamilton obviamente se acusou pela manobra desastrada da Les Combes, mas não deixou de soltar uma farpa para Alonso: nossas carreiras tiveram diferentes números de conquistas. E todos sabem que Alonso odeia quando tocam no assunto número de títulos. Ouch!


Mais atrás, Verstappen já escalava o pelotão como faca quente na manteiga. O ritmo do piloto da Red Bull era tal, que rapidamente estava em quinto e antes das primeiras paradas, era terceiro e muito próximo dos líderes. Logicamente Max não teve trabalho para ultrapassar Pérez e após a primeira rodada de paradas, ultrapassou o pole Sainz com uma facilidade desconcertante. E abriu. E como abriu! Antes da metade da corrida Verstappen já liderava de forma inconteste a corrida da casa de sua mãe (e dele também, pois Max na realidade nasceu na Bélgica...). Pérez não se fez de rogado e poucas voltas depois ultrapassou Sainz de forma dominante, não dando qualquer chance ao piloto da Ferrari, que teve outro dia daqueles. Não com Sainz, que fez uma corrida dentro das possibilidades que seu carro lhe apresentou e chegou em terceiro. Mas com o para-raio de problemas do Leclerc... O monegasco também foi um dos punidos por troca de motor, mas durante o Safety-Car provocado por Bottas e Hamilton, Leclerc conseguiu a proeza de uma sobre-viseira entrar em um duto de freio do seu carro, causando um superaquecimento e provocando uma parada não-programada para Charles. Como se dizia antigamente, Leclerc foi à luta e de forma até mesmo convencional, foi ganhando vantagem sobre os demais carros até alcançar a quinta posição possível e razoável pelo seu problema. Só que o estrategista da Ferrari teve a brilhante ideia de ganhar um pontinho no campeonato pela melhor volta. Ele usou seu ábaco e trouxe Leclerc para os boxes e lhe colocar pneus macios para garantir um pontinho. Mais um pontinho no bolso certo? Errado! Leclerc voltou à pista logo atrás de Alonso na abertura da penúltima volta, só conseguindo a ultrapassagem na última passagem, tendo perdido toda a área em que a Ferrari tinha clara vantagem na pista de Spa e com isso, Leclerc não conseguiu marcar a melhor volta. Para tornar a vida de Leclerc e da Ferrari ainda mais plena, foi mostrado uma punição por excesso de velocidade dentro dos pits, causando uma punição para Charles e ao invés de ganhar um ponto... perdeu dois! Se não fosse a Red Bull um carro tão dominante nesse meio de temporada, 2022 seria marcado como uma equipe pode entregar um campeonato de bandeja, por oferecimento da Ferrari.


Com tanta gente punida, a Mercedes tinha sérias esperanças de conseguir sua primeira vitória no ano, mas com dificuldades de aquecer os pneus na janela correta, ainda mais em ritmo de classificação, os alemães amargaram uma corrida bem aquém das expectativas, mesmo com a pista mais quente no domingo, ajudando a Russell a ensaiar uma pressão em cima de Sainz pela última vaga no pódio nas voltas finais, mas o espanhol segurou o rojão e diminuiu a chance de outro vexame para a Ferrari. Com a diarreia mental da trupe de Maranello, Alonso conseguiu um inesperado quinto lugar, aumentando a vantagem da Alpine em cima da McLaren, sua nova arqui-rival, no Mundial de Construtores. Ocon fez uma ultrapassagem belíssima sobre Gasly e Vettel, mostrando que os franceses tem hoje o quarto melhor carro do ano, enquanto a McLaren saiu da Bélgica com as mãos abanando e Piastri talvez comece e pensar em rever seu twitt e ficar pela Alpine mesmo. Por sinal, hoje Ricciardo deu outra demonstração do motivo de ter sido dispensado pela McLaren, pois o australiano largou em sétimo, onze posições à frente de Norris, e ainda chegou atrás do companheiro de equipe. Ricciardo não se adaptou bem aos novos carros e já contando com 33 anos de idade, talvez uma mudança de categoria poderia trazer seu sorriso de volta. Vettel ficou no Q1 por meros dois milésimos, mas a enxurrada de punições o fez largar em décimo e ainda na primeira volta deu um chega pra lá em Stroll (Seb deve ter sorrido nesse momento) e se manteve a corrida inteira na zona de pontos, terminando em oitavo. Gasly largou dos boxes por causa de um problema de última hora em seu carro, mas ainda conseguiu um bom nono lugar, ficando á frente de Albon. Nos treinos, ficava claro que a Williams tinha acertado seu carro para ser muito veloz nas retas e isso se mostrou decisivo na corrida. Nas voltas finais Albon tinha uma fila de carros atrás de si, mas com uma boa velocidade em reta, o anglo-tailandês conseguiu segurar o precioso pontinho para ele e a Williams, que viu Latifi provocar o Safety-Car ao se tocar com Ocon na primeira volta e ainda envolver o aniversariante Bottas, deixando o nórdico da Alfa Romeo atolado na brita.


Mesmo com o vencedor da corrida tendo largado apenas em 14º, não houve disputas de levantar as sobrancelhas envolvendo Max Verstappen. Seu ritmo era tão avassalador, que os demais pilotos preferiam nem perder tempo se defendendo. Junto a isso, a linha do DRS sendo ainda no início da reta Kemmel fez com que o artificio da Asa Móvel ainda mais relevante, tornando as ultrapassagens uma questão de sair próximo da Radillon. Além disso, a Red Bull se beneficiou de uma junção de rivais tendo problemas de estratégia (Ferrari), falta de ritmo (as demais) e erros com pilotos (Mercedes) e hoje Pérez assumiu a segunda posição no campeonato. Claro que nem o time de Christian Horner e muito menos Max Verstappen tem culpa de transformar o sempre animado GP da Bélgica numa corrida sonífera em boa parte do tempo, além de reduzir uma corrida de recuperação em mera formalidade. 

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