domingo, 30 de julho de 2023

Brincando de vencer

 


No meio da corrida, Max Verstappen teve algumas discussões com seu engenheiro de pista. Nada demais, mas a temperatura subiu algumas vezes. Largando em sexto devido a uma punição por troca de câmbio, Max assumiu a ponta ainda antes da metade da corrida e imprimia um ritmo muito mais forte do seu companheiro de equipe Sergio Pérez. Meio que para acalmar os ânimos com seu engenheiro Gianpiero Lambiase, Max sugeriu uma terceira parada unicamente para 'treinar pit-stops'. Em 2023, Max Verstappen brinca de massacrar seus adversários com uma facilidade desconcertante. A F1 já viu inúmeros domínios, principalmente nos últimos vinte anos, mas o que Max vem executando em 2023 já pode ser considerado o maior já vivido, se mantiver esse ritmo até a última corrida do ano.


A corrida da F3 tinha sido afetada pela chuva em Spa, mas na F2 ocorreu tudo normalmente e o céu não estava muito carrancudo na hora da largada, mesmo havendo uma expectativa de chuva. Sabedor do seu potencial, Max Verstappen só tinha um receio nesse domingo, que era a sempre apertada primeira curva de Spa. E realmente houveram problemas. Oscar Piastri, grande sensação de sábado, colocou seu carro por dentro da Ferrari de Carlos Sainz, mas provavelmente o espanhol não viu a McLaren no apertado hairpin da Surcis e houve o toque que acabou com a corrida de ambos. Piastri quase que imediatamente e Sainz, com a lateral bastante afetada, apenas mais tarde. Verstappen se afastou ao máximo do entrevero da primeira curva, mas já havia ganho duas posições de graça. Com Hamilton e Leclerc, Verstappen usou a força do seu Red Bull e uma zona de DRS longa e cedo demais para ultrapassar a Mercedes e a Ferrari com uma facilidade de cair o queixo. A diferença entre as velocidades máximas de Max e Lewis na reta Kemmel superou os 30 km/h. Com Pérez a situação foi menos tranquila, mas nem de longe fez com que Max suasse seu macacão. Após a primeira parada de ambos, Max encostou no mexicano, usou o DRS na reta Kemmel e assumiu a liderança na volta 17 de 44 do Grande Prêmio da Bélgica. Ponto final? Ainda não, pois a chuva caiu muito de leve em Spa, a ponto dos pilotos que estavam entrando nos pits nem no momento da chuva nem colocarem pneus intermediários, mas Verstappen levou um baita susto quando pegou a zebra úmida na Eau Rouge e chegou a ficar ligeiramente de lado. Talvez esse momento tenha feito Max suar mais do que ultrapassar Pérez e abrir 22s sobre o mexicano. Quase 1s por volta. Tanta diferença que motivou Verstappen a brincar a fácil situação onde se encontra. Max só não levou os 100% de pontos porque Hamilton colocou pneus novos no fim para marcar a volta mais rápida e encostar de vez em Alonso na luta pelo terceiro lugar do campeonato, pois Sergio Pérez começa a desgarrar novamente na vice-liderança. Checo parece ter colocado na cabeça que lutar pelo título contra um Max Verstappen iluminado não passou de um devaneio de verão e tudo o que o mexicano precisa fazer é garantir o vice-campeonato e uma inédita dobradinha para a Red Bull.


Se perdeu Carlos Sainz praticamente na primeira curva, a Ferrari fez um bom serviço com Leclerc, lhe proporcionando uma corrida tranquila rumo ao possível terceiro lugar. O monegasco largou bem, mas ainda na reta Kemmel foi superado por Pérez com incomplexidade. Charles sabia que sua corrida não era contra a Red Bull, mas a Mercedes de Hamilton, que se manteve sempre perto de Leclerc durante toda a corrida, mas sem ameaçar. Nos dois pit-stops de Lewis, a Ferrari não inventou a roda e trouxe Leclerc imediatamente aos pits e tudo ocorreu de forma tranquila para outro pódio para Leclerc no ano. Hamilton perdeu na sua luta direta com Leclerc e da mesma forma do que o ferrarista, teve uma corrida extremamente solitária, sem atacar muito e tendo Alonso bem atrás para se preocupar. Porém, Hamilton já enxerga o terceiro lugar no Mundial como um fato bastante possível, ficando apenas a um ponto de Alonso, que vê a Aston Martin engolida por Ferrari e Mercedes nesse momento. Os pódios consecutivos de Fernando no começo do ano só duraram um terço do campeonato, mostrando à Aston Martin a diferença entre construir um bom carro e desenvolver um carro vencedor. Alonso segurou um quinto lugar muito pela escolha da McLaren em apostar na chuva que nunca veio nesse domingo. Piastri saiu na primeira volta e Norris sofreu com um carro com muito arrasto na reta, sendo alvo fácil durante as primeiras voltas, fazendo com que o inglês da McLaren chegasse a ocupar a última posição. Quando a corrida se assentou, Norris recuperou bastante posições e ainda garantiu um sétimo lugar, logo atrás do seu compatriota George Russell. O inglês da Mercedes foi atrapalhado por Piastri, que se arrastava com problemas em sua McLaren após o toque com Sainz, fazendo Russell cair para 11º. Com um bom ritmo, Russell galgou muitas posições, terminando a prova num bom sexto lugar, ajudando a Mercedes se garantir cada vez mais na segunda posição do Mundial de Construtores.


Pressionado pela presença de Daniel Ricciardo, Yuki Tsunoda fez sua melhor corrida no ano, acabando a corrida em décimo e marcando um pontinho importante. Stroll fez uma prova dentro das suas limitações e tomando 23s de Alonso, ainda terminou em nono, superado nas voltas finais por Esteban Ocon. A Alpine viveu um final de semana conturbado com a demissão em massa de toda a cúpula da equipe, mas na corrida se provou que pelo menos de pilotos, a equipe gaulesa vai bem, obrigado. Ocon e Gasly fizeram boas ultrapassagens, com Pierre prejudicado por ter sido o último a parar, esperando pela chuva que não veio. Ocon terminou em oitavo e já se aproximava de Norris, mas falta a Alpine dar um bom carro aos seus pilotos, só que antes, falta fazer o dever de casa, melhorando a gestão do time. O pelotão intermediário teve muitas trocas de posição pelas várias táticas e acertos escolhidos, muito pela previsão incerta do clima, mas também, como citada acima, pela longa zona de DRS, com os carros usando o artefato por um longo tempo na reta Kemmel, deixando o piloto da frente ainda mais indefeso do que o normal. Algo a melhorar no futuro.


As vitórias de Verstappen estão acontecendo tão ao natural, que até mesmo suas corridas de recuperação não tem nada de emocionante. Algumas pessoas se incomodaram com as falas de Toto Wollf, quando disse que 'Verstappen parece correr com um F1, enquanto os demais guiam carros de F2', mas o dirigente austríaco não está tão longe da realidade. Com performances de tirar o fôlego, Verstappen vai se colocando como um dos grandes da história da F1 a ponto de fazer brincadeiras durante a prova.  

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