Se havia algum risco para Max Verstappen nesse domingo, era a largada. Após perder a pole por três milésimos de segundo para Lewis Hamilton, Max sabia que teria ao seu lado um arquirrival do qual tem um relacionamento difícil e com um histórico de acidentes, além de que Lewis não tem nada a perder no campeonato 2023 da F1. Com um novo pacote aerodinâmico, Max sabia que se sobrevivesse às agruras da primeira curva, tudo estava favorável a ele. E ficou ainda melhor quando Verstappen largou melhor do que Hamilton, colocou seu carro no mísero espaço que Lewis lhe deu, forçou na freada da primeira curva e mesmo com Oscar Piastri conseguindo uma ótima largada, se aproveitando da briga entre os protagonistas da primeira fila e Lando Norris, Verstappen emergiu na frente do Grande Prêmio da Hungria e esmagar seus adversário, com outra vitória acachapante, onde teve ao seu lado no pódio Norris e um recuperado Checo Pérez, que sonhou com uma dobradinha da Red Bull, mas no final teve que se defender de Hamilton.
A corrida de hoje em Hungaroring lembrou aquelas provas do começo dos anos 2000, quando se dizia que a pista magiar era palco das piores corridas do calendário da F1. Com uma sequência interminável de curvas e bastante estreita para os padrões atuais, Hungaroring sempre foi um local de ultrapassagens difíceis, mas que com o tempo, os fãs da F1 passaram a olhar para o circuito próximo à Budapeste com outros olhos, pois Hungaroring ainda tem um pouco das pistas 'old school'. No entanto, pelas características da pista, a corrida húngara nem sempre é das mais emocionantes e hoje foi o caso. Passado a tensa primeira curva, onde havia uma expectativa forte de um entrevero entre Hamilton e Verstappen, a corrida se tornou um passeio dominical para Max, que conseguiu mais uma vitória de ponta a ponta, só não conseguindo mais um Grand Chelem por três milésimos no sábado. Foi uma vitória esmagadora, onde numa prova sem maiores ocorrências ou interferências do Safety-Car, Verstappen meteu meio minuto goela abaixo de Norris ou de qualquer piloto que estivesse na posição de número dois. Com tudo isso, os recordes começam a cair e a Red Bull comemorou sua décima segunda vitória consecutiva, superando a mítica McLaren da temporada 1988, sendo que Verstappen está fazendo praticamente todo o trabalho que Senna e Prost construíram 35 anos atrás. Max já tem mais de cem pontos de vantagem sobre Pérez, cada vez mais sólido na vice-liderança, muito pelo efeito gangorra que sofrem as equipes que tentam chegar perto da Red Bull.
Aston Martin, Mercedes e Ferrari já ficaram com a segunda força por algum momento em 2023, mas oscilaram e a primeira citada já pode ser considerada a quinta força do ano. No último mês, meio que do nada, a McLaren saiu do fundo do pelotão para ultrapassar o feudo da família Stroll, a turma de Toto Wolff e a bagunça de Maranello para se estabelecer como segunda força da F1, pelo menos nesse momento. A própria McLaren tinha certa dúvidas se conseguiria repetir o ótimo desempenho na fluída pista de Silverstone na travada pista de Hungaroring, mas o time laranja emulou a performance da quinzena anterior com seus dois carros ocupando a segunda fila e rapidamente superando Lewis Hamilton, que se preocupou demais com Verstappen e se esqueceu da dupla de sua ex-equipe. Porém, foi Piastri que ficou em segundo no primeiro stint. O australiano foi bastante esperto ao ver Max, Lewis e Lando se espremendo na freada da primeira curva e Oscar se meteu por dentro, enquanto os três espalhavam na curva. Piastri subiu para segundo e chegou a emparelhar com Verstappen, mas Max rapidamente se impôs na curva e em ritmo de corrida, desaparecendo no horizonte de Piastri, que mantinha uma boa vantagem para Norris, Hamilton, Leclerc e Sainz, que se aproveitou muito bem da terrível largada da dupla da Alfa Romeo e pulou de décimo primeiro para sexto. A corrida ficou um pouco estática na frente, enquanto Pérez avançava com pneus duros e ultrapassava a decadente Aston Martin de Fernando Alonso, agora longe dos pódios.
Numa corrida de duas paradas e com pneus se desgastando bastante, a hora correta de parar poderia fazer bastante diferença. No seio da McLaren, para evitar uma escandalosa troca de posições, tudo se resolveu na primeira parada da sua dupla, com Norris saindo na frente de Piastri e se estabelecendo na segunda posição. Hamilton não conseguia se aproximar da McLaren, enquanto a Ferrari fazia sua usual confusão, quando se atrapalhou na parada de Leclerc, jogando o monegasco para trás de Sainz. Quando as posições voltaram ao normal, foi a vez de Leclerc exagerar na entrada do pit-lane e receber 5s de pênalti. Enquanto isso, Pérez já alcançava as primeiras posições ao esticar ao máximo sua primeira parada e quando o fez, já aparecia sexto, que viraria quinto quando ultrapassou Sainz. O mexicano se aproximava de Hamilton, que se aproximava de Piastri, que não conseguiu imprimir o mesmo ritmo do primeiro stint. Quando Pérez tinha Hamilton na alça de mira, ele antecipou sua parada, mas não contava com Piastri, tentando melhorar seu ritmo, fazer a mesma coisa. A briga entre o veterano piloto da Red Bull e o novato da McLaren foi o melhor momento da corrida, com Pérez executando uma bela ultrapassagem sobre Piastri na curva 2. Hamilton ficou mais tempo na pista, porém, mesmo sabendo que perderia posições para Pérez e Piastri, teria pneus em melhores condições nas voltas finais. Usando a força do seu Red Bull, Pérez esboçou uma pressão em cima de Norris. A briga pelo segundo lugar prometia, mas os pneus de Pérez não seguraram a barra e o mexicano parou de avançar quando estava 3s atrás de Lando. Já Hamilton ultrapassou facilmente Piastri e engoliu a desvantagem que tinha para Pérez, chegando na última volta próximo de Checo, mas sem chances de ultrapassar. No fim, Norris e Pérez subiram ao pódio, com Hamilton logo atrás. Russell, largando apenas em 18º, fez uma baita corrida de recuperação, somando boa estratégia com um ritmo forte, atacando a dupla da Ferrari no final e terminando em sexto, beneficiado pela punição de Leclerc. Enquanto isso, lá na frente, Verstappen só soube de tudo isso enquanto via os melhores momentos da prova na antessala do pódio.
Com as cinco melhores equipes terminando com seus dez carros, simplesmente nenhuma outra equipe teve chance de pontuar. A Alfa Romeo chegou a sonhar com um resultado melhor após um sábado de sonho, mas tudo virou pesadelo quando Zhou pareceu largar com o freio de mão puxado e isso acabou por atrapalhar Bottas, que largava logo atrás. Para completar, Zhou acabou provocando o acidente que destruiu a corrida da Alpine na primeira curva, com os dois pilotos gauleses abandonando ao final da primeira volta. Zhou caiu para as últimas posições com a péssima largada, o incidente provocado por ele e o pênalti leve que levou, após provocar um acidente que resultou em dois abandonos. Albon fez outra corrida acima da média ao ficar na P11, segurando os ataques de Bottas nas voltas finais. enquanto Sargeant rodava sozinho na penúltima volta e mostrava mais uma vez que a passagem do americano pela F1 será bastante efêmera. O destaque do final do pelotão intermediário foi mesmo Ricciardo. Envolvido no melê provocado por Zhou, o australiano caiu para último, mudou sua estratégia e mesmo seis meses fora das corridas, Ricciardo ainda achou uma décima terceira posição, bem à frente de Tsunoda, que passa a ser o piloto ameaçado dentro da Alpha Tauri se continuar assim.
Foi outra corrida onde Max Verstappen esmagou a concorrência e o tricampeonato virou apenas uma questão matemática de quando será a festa. Com as equipes do patamar abaixo da Red Bull trocando de guarda a todo momento, Pérez ficará tranquilo para conseguir uma inédita dobradinha para a Red Bull, mesmo Checo estando longe de fazer uma temporada brilhante. Para parar Verstappen? Só se algo anormal acontecer com ele, como Norris fez no pódio, que sem querer quebrou o belo troféu do neerlandês, no único incidente registrado com Max Verstappen no domingo.
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