terça-feira, 17 de maio de 2011

História: 30 anos do Grande Prêmio da Bélgica de 1981

O clima não era nada amistoso quando o circo da F1 chegou a Zolder para o Grande Prêmio da Bélgica de 1981. A briga entre FISA e FOCA não parecia ter fim e para piorar, a polêmica regra que deixava os carros 6cm acima do solo para acabar com o efeito-solo nos carros se revelou um fracasso total pela esperteza das equipes. Primeiramente a Brabham inventou através do genial Gordon Murray a suspensão hidropneumática, fazendo com que o carro ficasse na altura regulamentar em baixas velocidades, mas colado no chão quando a velocidade fosse alta. As demais equipes reclamaram bastante, mas na Bélgica, praticamente todas as escuderias já tinham sua suspensão hidropneumática e a Williams foi ainda mais cara de pau, ao colocar um dispositivo ao lado do câmbio para o piloto controlar a altura da suspensão, fazendo com que Jones e Reutemann liderassem na sexta-feira.

Contudo, esse não foi o principal elemento daquele dia. Os boxes naqueles tempos eram lotados de ‘aspones’ e como Zolder tinha um pit bastante estreito, a esperada tragédia ocorreu. Carlos Reutemann ia para a pista, quando o mecânico da Osella Giovanni Amadeo escorregou e acabou atropelado pelo argentino, morrendo mais tarde. Os mecânicos da F1 ficaram revoltados e prometeram um protesto. Dentro da pista, a Brabham copiou o polêmico sistema da Williams e imediatamente Nelson Piquet melhorou seu tempo em meio segundo, mas como choveu no sábado, o brasileiro teve que se contentar com o segundo lugar. Isto porque Alan Jones, que tinha sido o mais rápido na sexta, teve seu melhor tempo anulado por que seu Williams estava irregular, exatamente por defeito na nova suspensão hidropneumática. Na Renault, o péssimo rendimento do seu carro turbinado na travada pista de Zolder acabou afetando seus pilotos e René Arnoux, que não conseguiu tempo para se classificar na sexta, acabou se desentendendo com um fiscal de pista e acabou a noite na prisão!

Grid:
1) Reutemann(Williams) – 1:22.28
2) Piquet(Brabham) – 1:23.13
3) Pironi(Ferrari) – 1:23.47
4) Patrese(Arrows) – 1:23.67
5) Watson(McLaren) – 1:23.73
6) Jones(Williams) – 1:23.82
7) Villeneuve(Ferrari) – 1:23.94
8) Cheever(Tyrrell) – 1:24.38
9) Laffite(Ligier) – 1:24.41
10) Mansell(Lotus) – 1:24.44

O dia 17 de maio de 1981 tinha sol em Zolder, mas o clima nem sempre estável da Bélgica podia causar surpresa. Assim como foi surpreendente o que aconteceu quando os carros estavam alinhados no grid. Faltando cinco minutos para o início da volta de apresentação, todos os mecânicos se postaram em frente aos carros, impedindo a largada, em forma de protesto frente a falta de segurança nos boxes. Percebendo a confusão, Gilles Villeneuve e Didier Pironi saíram dos seus carros e se solidarizaram aos mecânicos. Juntos aos pilotos da Ferrari, seguiram para frente do grid Jacques Laffite, Jean-Pierre Jabouille, Eddie Cheever, Prost, Bruno Giacomelli, Andretti, Beppe Gabbiani, Piercarlo Ghinzani, Keke Rosberg, Siegfried Stohr, Marc Surer e Patrese. Jody Scheckter, presidente da GPDA, entregou um documento ao diretor da prova, Derek Ongaro, pedindo uma maior atenção da FISA e da FOCA às opiniões dos pilotos.

A confusão estava formada. A largada estava atrasada e no lugar de mostrar uma corrida de carros, as TVs de todo mundo mostrava uma pequena rebelião do baixo clero da F1, incomodando Bernie Ecclestone, que mandou Nelson Piquet dar partida em seu Brabham. Foi o início de outra confusão. Quando mecânicos e pilotos acharam que seus objetivos foram alcançados e resolveram voltar aos seus postos, foi dado o sinal para que a volta de apresentação se iniciasse. Quem não se solidarizou com os mecânicos, como Piquet, iniciaram a volta de apresentação, enquanto alguns pilotos ainda estavam sendo amarrados em seus carros. Piquet e Jones chegaram rapidamente aos seus lugares no grid, enquanto havia pilotos ainda no meio da pista. Temendo que sua embreagem queimasse, Piquet foi esperto e iniciou uma segunda volta de apresentação, para desespero dos organizadores, que estavam em meio a um verdadeiro caos. O pole Reutemann se desespera quando percebe que aquela demora estava queimando sua embreagem e Frank Williams corre em socorro ao seu piloto. Quando Piquet finalmente chega ao seu lugar, alguns pilotos estavam claramente com problemas em suas embreagens, como Prost e Patrese, que deixou seu Arrows morrer. O italiano acenou freneticamente que estava com o carro morto, mas isso não comoveu Derek Ongaro, que deu a ordem de largada. O mecânico-chefe da Arrows, David Luckett, saiu correndo em socorro ao seu piloto, tentando fazer o carro da Arrows retornar à vida. Quando o sinal verde apareceu, muitos pilotos conseguiram evitar o carro parado de Patrese. Largando seis filas atrás do companheiro de equipe, Siegfried Stohr pensou que poderia ganhar posições através daquele espaço vazio e acelerou forte para a esquerda. Numa infeliz coincidência, Stohr deu de cara com o carro de Patrese parado, com Luckett ainda trabalhando, e atingiu a traseira da Arrows em cheio.

Apesar deste nome, Stohr era italiano e sua reação latina deu ainda mais dramaticidade a cena, enquanto Lucktett jazia imóvel atrás do carro de Patrese. Inicialmente os mecânicos da Ligier deram os primeiros socorros e a corrida foi paralisada na segunda volta. Mais atraso, algo indesejável a Ecclestone, que inutilmente permitiu Piquet dar outra volta quando a bandeira vermelha já estava em ação. Apesar do impacto, Dave Luckett teve bastante sorte em ter apenas as pernas machucadas e a tragédia de sexta não se repetiu. Depois de 40 minutos, a segunda largada foi dada (sem a presença da Arrows) e Didier Pironi aproveitou a potência de sua Ferrari para assumir a primeira posição ainda antes da primeira curva. Reutemann e Piquet vinham logo em seguida. Assim como aconteceu em Ímola, Pironi liderava a corrida, mas dava claras indicações de que não tinha ritmo o suficiente para se manter na ponta e via um trenzinho se formar atrás dele. Pironi, Reutemann, Piquet e Jones ficaram dez voltas andando colados, até Piquet dar o bote em Reutemann, trazendo consigo Jones. E então ocorreu outro lance polêmico.

Na volta seguinte, Jones tocou claramente em Piquet para tirá-lo da corrida e o brasileiro abandonou ali mesmo, ficando preso nas telas. Piquet ficou furioso e deu essa declaração a Quatro Rodas. “O Alan Jones só foi campeão ano passado com muita sorte e por ter me tirado da pista na penúltima prova. Só que ele é uma besta e está desesperado porque está correndo atrás de Reutemann. (...) Prometi a ele depois da corrida que nunca irei estragar uma corrida minha, mas na próxima vez que ele estiver me dando uma volta de vantagem eu ponho ele para fora.” Uau! Já pensaram algum piloto atual dizendo isso? Porém, o castigo de Jones viria poucas voltas depois. Após ultrapassar Pironi e marcar a melhor volta da corrida, o australiano da Williams errou uma marcha e passou reto, batendo forte num guard-rail e queimando sua perna quando uma mangueira do radiador estourou. Após todos esses problemas, a corrida ficou monótona. Reutemann assumiu a liderança da corrida, seguido por Laffite e o surpreendente Nigel Mansell, cujo carro a Lotus teve que fazer as pressas após não correr em Ímola. O tempo foi fechando e a chuva deu as caras quando faltavam quinze voltas para o final e com medo de mais problemas, a direção de prova determinou o fim da corrida, com Reutemann vencendo e batendo o recorde que era do seu compatriota Juan Manuel Fangio, ao marcar pontos por quinze corridas consecutivas. Mansell também tinha o que comemorar, pois marcava seus primeiros pontos e logo com um pódio. Porém, Carlos Reutemann chorava enquanto o hino argentino tocava. Mesmo com a vitória, o recorde e a liderança do campeonato, aquele tinha sido um final de semana extremamente dolorido a Il Lole.

Chegada:
1) Reutemann
2) Laffite
3) Mansell
4) Villeneuve
5) De Angelis
6) Cheever

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