domingo, 29 de maio de 2011

Sem anticorpos

Todo mundo duvidava de uma corrida emocionante e cheia de ultrapassagens em Mônaco. A pista é estreita e os pilotos ainda estavam assustados pelos dois acidentes fortes no final da reta do túnel, que deixou Sergio Pérez fora de combate neste domingo. Porém, Monte Carlo viu uma de suas melhores corridas na história e se o final foi agridoce, não foi por causa dos pilotos. Se a F1 mudou até a acunha de que é impossível ultrapassar em Mônaco, o que não mudou foi o vencedor. Sebastian Vettel não tinha o melhor carro e deu até sorte em conseguir a pole no sábado, sorte essa que se repetiu no domingo, quando teve que superar um erro de sua equipe nos boxes e arriscou uma estratégia arriscadíssima para vencer, mesmo com os mesmos pneus por mais de 60 voltas e com dois campeões mundiais e vencedores no principado no seu cangote nas voltas finais.






Os pilotos foram bastante calmos na largada, mas houve quem saísse bem ou mal no apagar das cinco luzes vermelhas. Se Vettel e Button mantiveram suas posições, Alonso ultrapassou Webber ainda na primeira curva e Schumacher ficou praticamente parada na largada, dando chances a Rosberg dar um pulo lá na frente. Porém, o heptacampeão fez uma ultrapassagem antológica em Hamilton na primeira volta na curva Loews, mas a Mercedes tinha sérios problemas de desgaste de pneus e seus pilotos logo criaram uma fila de carros atrás de si. Em outros anos, isso significaria uma enorme procissão por 78 voltas no principado, mas 2011 está bem diferente com relação a isso. Hamilton passou Schumacher na St Devote. Massa e o surpreendente Maldonado passaram Rosberg na Tabac. A F1 estava vendo ultrapassagens até mesmo em Mônaco. Enquanto isso, Vettel disparava na frente, mas pela primeira vez no ano, a Red Bull deu uma mancada nos boxes. Um cobertor térmico pregou num pneu de Vettel e o alemão perdeu muito tempo e para piorar, Webber entrou logo depois e ficou ainda mais tempo parado. Quanto Button e Alonso pararam, Vettel estava em segundo, mas havia a estratégia e foi aí que a Red Bull venceu a corrida. De forma surpreendente, a McLaren colocou pneus supermacios no carro de Button, enquanto o time austríaco colocou pneus macios no carro de Vettel. Claramente a Red Bull pensava num terceiro setor com pneus supermacios, mas quando Button colocou novamente pneus macios em uma segunda parada, a Red Bull arriscou deixar Vettel até o final da corrida. O alemão teria que andar mais de 60 voltas com o mesmo pneu. Para aumentar a dramaticidade, um safety car fez com que Alonso parasse uma segunda vez sem perder tempo. O final da corrida foi eletrizante. Ao contrário das suas demais vitórias, Vettel teve que lutar pelo primeiro lugar em condições de nítida inferioridade. O alemão, com pneus no talo, teria que suportar a pressão de Alonso e Button, dois pilotos que já venceram em Monte Carlo, e com pneus melhores. A bandeira vermelha destruiu a grande emoção do final da corrida, mas não maculou a grande exibição de Vettel, que venceu pela quinta vez em seis provas deste ano e só uma conjunção cármica tirará o bicampeonato do jovem alemão, que está pilotando como nunca e, para desespero dos rivais, parece evoluir cada vez mais!


Depois de tomar uma volta em casa e ter participado de uma semana tumultuada, Fernando Alonso conseguiu um grande resultado em Mônaco e o segundo lugar não deixou de ser um suspiro para a crise ferrarista deste ano. Mesmo sendo o mais rápido na sexta-feira, Alonso sabia que não tinha muitas chances de vencer no domingo, mas a Ferrari não errou na estratégia e pressionava fortemente Vettel quando veio a bandeira vermelha. Bons pontos para o espanhol, que disse que não desistiria do título tão cedo, mas no íntimo, sabe que o máximo que irá fazer será brigar pelo vice. Felipe Massa fazia uma corrida razoável, ultrapassando Rosberg e postergando sua primeira parada, mas acabou perdendo um pouco de tempo nos boxes que o deixou atrás de Webber na volta à pista e, pior, na alça de mira de um Lewis Hamilton endiabrado. O inglês da McLaren estava num dia meio estabanado, mas não achei a tentativa de ultrapassagem de Hamilton tão absurda assim como disseram os homens globais hoje. O próprio Hamilton havia levado uma ultrapassagem na curva Loews mais cedo e a diferença foi que ele deu espaço, algo que Felipe não o fez, sendo que o piloto da Ferrari se deu pior e acabou se espatifando no muro do túnel e provocando a primeira entrada do safety-car. Apesar dos sorrisos no pódio, Jenson Button pode muito bem reclamar de sua equipe, que tirou uma vitória certa sua. Numa chance rara de vencer, o inglês da McLaren estava com a faca e o queijo na mão, quando sua equipe colocou pneus supermacios numa segunda parada, o deixando atrás de Vettel e Alonso, tendo que fazer mais uma parada por obrigação. Não tendo o mesmo ímpeto de Hamilton, estava na cara de Button não iria forçar uma situação de risco e o terceiro lugar no pódio acabou sendo um mero premio de consolação ao inglês. Hamilton teve uma corrida complicada e acidentada, sendo que em muitas situações, foi o próprio inglês que provocou as confusões em que se meteu. A briga com Schumacher foi belíssima, com os dois campeões trocando de posição duas vezes. Porém, o toque com Maldonado pode ocasionar uma punição a Hamilton e ainda foi uma pena pela bela corrida do venezuelano, que faria seus primeiros pontos na F1 numa corrida sólida e inteligente.


Mark Webber perdeu uma enormidade de tempo após a besteira de sua equipe nos boxes e o australiano parecia ser fadado a ter uma corrida medíocre, atrás de carros bem mais lentos, quando o piloto da Red Bull ressurgiu agressivo na última relargada e ultrapassou de forma bela Kobayashi, salvando um quarto lugar, mesmo posição que completou a primeira volta. E ainda fez a melhor volta da corrida. Num momento difícil da Sauber, Kobayashi conseguiu seu melhor resultado na carreira e também de sua equipe no ano com um quinto lugar, mostrando muita agressividade também na hora de defender posições, pois já era conhecido o quanto o japonês era bom em ultrapassar. Com apenas uma parada, Kobayashi está mostrando uma grande competência em fazer corridas de paciência, sabendo aproveitar todas as chances que lhe aparecem. Adrian Sutil estava com a mesma estratégia de Koba e passou boa parte da corrida em quarto, mas seus pneus não resistiram e quando foi ultrapassado pelo japonês, Sutil perdeu muito rendimento e ainda se envolveu no acidente que trouxe a bandeira vermelha para a prova, depois de muitos anos sem interrupções em uma corrida de F1. Petrov foi o maior prejudicado e acabou no hospital com dores na perna, apesar do acidente não ter sido muito espetacular visualmente. O russo estava marcando pontos, mas a Renault, num final de semana difícil, não saiu de mãos abanando e marcou pontos com Heidfeld, discretíssimo após sua boa corrida semana passada. Outro que foi discreto e eficiente foi Barrichello. Se seu companheiro de equipe fazia uma corrida espetacular, Barrichello preferiu uma estratégia de uma parada e com os acidentes no final da prova, o brasileiro marcou seus primeiros pontos no ano e também da Williams. Mesmo que Maldonado merecesse mais...


A Mercedes fez uma corrida terrível, com seus carros desgastando muito os pneus e não se recuperando mais durante a prova, tanto que Rosberg não marcou pontos mesmo com vários carros abandonando no final. Schumacher abandonou com problemas mecânicos no início, mas seu destino não seria muito diferente, já que estava próximo do companheiro de equipe quando saiu da corrida, mas Schummy não passou impune e praticamente inaugurou um novo ponto de ultrapassagem na Loews. Por algum motivo que ninguém sabe ao certo, deixaram a Hispania largar mesmo sem ter participado da Classificação e o carro espanhol era claramente mais lento que os demais, mesmo Lotus e Virgin. Buemi ainda salvou um pontinho, enquanto Alguersuari bateu no engodo no final da prova. Porém, na comparação entre os dois pilotos da Toro Rosso, no qual um dará seu lugar a Daniel Ricciardo, Buemi está bem melhor no momento.


Se ano passado teve um campeonato espetacular e corridas monótonas, 2011 tende a ser exatamente o contrário. Hoje Vettel teve que suar o macacão para ganhar pela quinta vez, mas o seu título em 2011 já pode ser considerado favas contadas. As novas regras trouxeram uma grande variedade de estratégia e esse era o real objetivo da Pirelli. Os três primeiros de hoje tiveram três estratégias diferentes, mostrando que um piloto pode usar os pneus de forma diferente e obter sucesso a sua maneira. E não faltaram ultrapassagens. Num futuro, podemos olhar 2011 e lembrar um campeonato chato, mas para quem viu as corrida deste ano, não podemos reclamar nada desta temporada.

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