Poucos mais de vinte e quatro horas após a polêmica manobra de Nico Rosberg na Mirabeau, o alemão da Mercedes confirmou a velha tradição de que conseguir a pole é meio caminho andado para se conseguir a vitória em Monte Carlo, vencendo a corrida em Mônaco e reassumindo a ponta do campeonato. Lewis Hamilton foi a sombra de Nico em 80% da prova, com a diferença nunca ficando acima dos 2s, mas um alegado problema na visão esquerda do inglês não apenas fez Hamilton se afastar do seu companheiro de equipe, como viu Daniel Ricciardo se aproximar e pressiona-lo pela segunda posição no finalzinho da corrida, mas Lewis sabe que ultrapassar em Monte Carlo é uma tarefa árdua e perigosa no principado e apenas se manteve na pista para garantir o segundo lugar e levar a briga que tem agora com Nico Rosberg a frente.
Fazia muito tempo que uma largada era tão aguardada como essa em Monte Carlo. As declarações de Hamilton para com Rosberg indicava um início de beligerância entre os dois ex-melhores amigos e a primeira batalha seria numa das primeiras curva mais complicadas, apertadas e propensas a acidentes do calendário da F1. Porém, ao contrário do que os apologistas do caos queriam, ambos carros da Mercedes largaram bem e como vem acontecendo em 2014, despacharam os rivais e passaram a corrida inteira colados. Daqui há alguns anos quando formos assistir a edição de 2014 do Grande Prêmio de Mônaco já sabendo o resultado, a briga entre Nico e Lewis será sem graça e sem sal, pois em nenhum momento Hamilton tentou uma manobra, sequer colocou o bico de lado. Contudo, havia uma tensão no ar de um ataque mais forte de Hamilton, mas isso nunca aconteceu. Na única oportunidade que teve para tomar a posição de Rosberg, Hamilton teve o azar de um safety-car entrar próximo do momento das paradas (únicas em Mônaco) e a Mercedes
preferiu trazer os dois carros na mesma volta, deixando Rosberg na ponta e Lewis contrariado, reclamando para todo mundo ver no rádio. Porém, ainda havia muita corrida pela frente e Hamilton não se desgrudou de Rosberg até a diferença estranhamente crescer vertiginosamente. Um alegado problema no olho esquerdo do inglês estaria impedindo Lewis andar no limite e com isso Rosberg pôde abrir diferença e vencer com imensa tranquilidade. No pódio, Hamilton não olhou para Rosberg e na tradicional foto no pódio, não abraçou seu amigo, ficando de lado. Enquanto Nico Rosberg comemorava de forma esfuziante, Hamilton mal estourava o champanhe. Para muitos, essa será a grande diversão do campeonato 2014. Antes da corrida, Prost relatou que não achava a manobra de Rosberg proposital, mas que todo o fuzuê feito pelos dois pilotos da Mercedes tem um aspecto mais psicológico do que bélico. E se o confronto for para o psicológico, Nico Rosberg estará, com certeza, em vantagem.
Após conseguir finalmente seu primeiro pódio válido, Daniel Ricciardo gostou do sabor do champanhe e pela segunda corrida seguida subiu ao pódio, mas o australiano contou com a sorte para chegar lá. Mais uma vez Daniel largou mal e de terceiro no grid caiu para quinto, mas Ricciardo contou com a quebra de Vettel ainda na primeira volta em ritmo de corrida e pelo misterioso problema de Kimi Raikkonen que o fez ir aos boxes logo após fazer sua parada programada. Antes da entrada do safety-car, Ricciardo já estava colado em Raikkonen e provava o quanto é difícil passar alguém em Mônaco, mas com Kimi nos boxes, Daniel partiu para uma corrida solitária na terceira posição até ser avisado que Hamilton estava mais lento e partiu para cima do inglês, mas novamente Ricciardo sentiu as dificuldades de Mônaco e terminou em terceiro, mas agora está à frente de Vettel no campeonato, que sente uma sensação diferente desde que entrou na Red Bull em 2009 e completou hoje sua centésima corrida. Além de não ter um carro muito bom, Vettel agora tem um companheiro de equipe fortíssimo e que a equipe o adora. Fernando Alonso fez uma corrida burocrática, onde mal apareceu e amealhou mais alguns pontos no campeonato com um discreto quarto lugar, mas se teve alguém que não teve uma corrida discreta, esse foi Kimi Raikkonen. O finlandês fez uma bela largada pulando para quarto, mas com os problemas de Vettel, estava solidamente em terceiro, mas um toque com uma Marussia furou seu pneu e Kimi caiu para as profundezas do pelotão intermediário, onde teve que passar a Caterham de Kobayashi e brigar pelas posições que marcam pontos. Porém, quando o finlandês encontrou a lenta McLaren de Magnussen pela frente, Raikkonen tentou passar o dinamarquês no grampo Loews e acabou quebrando o bico, tendo que fazer uma terceira parada e sair da zona de pontos. Neste final de semana ao menos Raikkonen andou mais próximo de Alonso, mas não teve, por incrível que pareça, a frieza de ficar na pista e capitalizar pontos numa prova que teve mais abandonos do que o normal.
Se Sérgio Pérez andou apenas algumas curvas até ser acertado por Jenson Button ainda na primeira volta, a Force India foi recompensada por outra grande corrida de Nico Hulkenberg, que garantiu um ótimo quinto lugar com uma estratégia diferente (largou com pneus macios e finalizou com os supermacios) e marcou pontos preciosos para a Force India. Após corridas decepcionantes, a McLaren finalmente fez uma prova decente e se não for punido pelo toque com Pérez, Button assegurou uma boa sexta posição, colado em Hulkenberg, enquanto Magnussen sofreu com o noviciado quando ultrapassou Vergne ainda em situação de safety-car, mas quando foi devolver a posição para o francês, permitiu a ultrapassagem de Hulkenberg e isso afetou toda a sua corrida, perdendo muito rendimento o final, acabando por fechar a zona de pontuação. Porém, em termos de posições ganhas, quem mais se destacou foi Felipe Massa. Largando apenas em 16º e com uma estratégia conservadora, o brasileiro parecia fadado a uma corrida burocrática na estreita pista de Mônaco, mas tudo mudou quando resolveu ficar na pista durante o safety-car, subindo para quinto. Porém Massa não tinha ritmo para andar junto com Ferrari e Red Bull (Mercedes então...) e quando ele fez sua parada, saindo da zona de pontuação, tudo parecia perdido para o brasileiro, mas então a sorte começou a ajudar Massa, que viu Bottas quebrar o motor, encerrando a sequencia de pontuações do jovem piloto da Williams, enquanto Raikkonen e Magnussen se encontraram, fazendo Massa subir para sétimo. Para Mônaco, ganhar nove posições em relação aonde você largou é um feito notável e mesmo usando muito da sorte, Felipe Massa foi um dos destaques positivos da prova, porém, o dono do maior feito do domingo foi Jules Bianchi. Largando dos boxes com sua nanica Marussia, o francês fez a corrida de sua vida e de sua equipe ao chegar em oitavo, mesmo sendo punido duas vezes. Como ninguém viu Bianchi parar para cumprir sua punição, a chance do francês ser punido nas próximas horas é grande, mas Bianchi se destacou e fez um 'algo mais', ou seja, saiu da caixa de estar sofrendo com um carro ruim e de uma equipe pequena e fez uma corrida bem superior as expectativas. Isso pode garantir Bianchi na F1 nos próximos anos. Adrian Sutil fez belas ultrapassagens, mas acabou batendo forte na saída do túnel e trazendo o único safety-car do dia. Porém, Esteban Gutierrez tinha tudo para marcar os primeiros pontos da Sauber no ano quando bateu bisonhamente na Rascasse e abandonou. A Lotus teve sua evolução travada com Grosjean não tendo ritmo para sequer ameaçar Bianchi, mas ao menos marcou mais alguns pontinho para o time aurinegro, enquanto Pastor Maldonado, além de maluquinho, ainda vem tendo azar ao ter problemas na saída da volta de apresentação e abandonar ali mesmo. A Toro Rosso tinha boas chances de pontuar, mas viu seus dois carros abandonarem por problemas mecânicos. Se até ano passado a Caterham tinha uma boa vantagem sobre a Marussia, deve ter sido doloroso ver a rival menor marcando (ou não) os primeiros pontos na frente dos malaios.
Esse final de semana poderia ser marcado apenas por mais uma vitória dominante da Mercedes, que manteve o 100% de aproveitamento da temporada, mas Monte Carlo pode ter sido um divisor de águas para o time com a tensão entre seus dois pilotos. Nico Rosberg disse que precisava de algo para tentar superar Hamilton. Se a manobra de ontem foi deliberada ou não, Nico conseguiu seu feitio e agora tem a Mercedes dividida e, mais importante, mexeu no delicado psicológico de Lewis Hamilton, que parecia ter o título nas mãos, mas agora vê Nico não apenas com um bom amigo e um bom piloto. Agora, ele é um rival capaz de lhe tirar o sonhado bicampeonato.
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