Quando Daniel Ricciardo saiu do carro ontem, após conquistar uma pole enfática em Mônaco, ele imediatamente falou que hoje iria finalizar o negócio que não havia terminado em 2016. Dois anos atrás o australiano da Red Bull liderava com facilidade o Grande Prêmio de Mônaco após conquistar sua primeira pole na F1 quando a sua equipe se atrapalhou num pit-stop e Ricciardo perdeu uma corrida que estava inteiramente nas suas mãos. Foi uma judiação na época e quase aconteceu algo parecido hoje, quando um problema no sistema híbrido de Ricciardo quase jogou sua vitória de ponta a ponta fora.
Além da paisagem e do glamour, o que mais chama a atenção do Grande Prêmio do Mônaco é a sua excepcionalidade. É uma corrida sempre tensa, pois além de todas os tipos de intempéries que podem afetar uma corrida normal, Monte Carlo ainda traz o sórdido questionamento: quem e quando vão bater? Os guard-rails próximos fazem com que a corrida em Mônaco seja um show de precisão e concentração, pois qualquer erro, até mesmo por cansaço, pode mudar tudo. Dos vinte carros que largaram hoje, dezessete chegaram ao final, sendo que dois abandonaram já no finalzinho da prova devido a um disco de freio explodido de Leclerc na freada da Chicane do Porto e que acabou por atingir Hartley num acidente perigoso, mas sem maiores consequências. Os seis primeiros do grid foram exatamente os mesmos da quadriculada, sem nenhuma mudança entre eles. Para quem acompanhou ao vivo, havia a tensão do que poderia acontecer na prova, mas para quem for ver a prova no futuro, pode preparar energético para uma corrida em que pouquíssima coisa aconteceu, por sinal, algo que normalmente acontece nas corridas em Mônaco. Um dos focos de atenção foi justamente Daniel Ricciardo. Com uma dominação pela Red Bull não vista desde os tempos do tetracampeonato de Vettel, Ricciardo era o grande favorito à vitória e ao largar bem, o australiano tratou de impor o ritmo que queria na frente, por sinal, mais lento do que o esperado. Então, após sua única parada, Ricciardo perdeu ainda mais o seu ritmo e Vettel encostou de vez. Rádios entre Ricciardo e Red Bull denunciava um problema no sistema híbrido do carro do líder e o cronometro mostrava Vettel ganhando até meio segundo nos trechos da reta dos boxes e no túnel. Isso, ainda faltando mais quarenta voltas para o final. Ricciardo resistiria? Se o ritmo do australiano já era baixo, ele ficou ainda mais lento. Ricciardo passou a corrida inteira virando no casa de 1:19, com Vettel placidamente atrás dele. Vindo de dois resultados ruins, Vettel não tinha o privilégio de perder mais pontos no campeonato e mesmo claramente mais rápido, praticamente não atacou Ricciardo uma única vez. A diferença entre eles ficou sempre na casa de 1s, mas sem nenhum ataque efetivo.
O conformismo de Vettel era tamanho, que o alemão deixou o retardatário Vandoorne ficar à sua frente no período de safety-car virtual e Ricciardo abriu 5s nas voltas finais rumo a bandeirada. O simpático australiano fez a festa no pódio, pena que a Globo não tenha mostrada os momentos hilários que Ricciardo proporcionou. A comemoração de Daniel valia muito a pena. Após toda a decepção de dois anos atrás, Ricciardo finalmente venceu em Mônaco, tendo que driblar um problema mecânico em seu carro e pela primeira vez o australiano venceu sendo o favorito à corrida, não tendo que esperar pelos vacilos alheios. Um handcap importante para Ricciardo, que negocia em várias frentes para 2019. Era esperado que Verstappen desse um show largando de último, incluindo aí alguns toques e entradas do safety-car, mas pode-se afirmar que o holandês foi bastante comportado em sua corrida de recuperação que o colocou nos pontos com um nono lugar, numa prova em que apenas um carro à sua frente abandonou. Vettel garantiu bons pontos com o segundo lugar e tirou um pouco a diferença para Hamilton, que terminou num obscuro terceiro lugar. Quando o inglês da Mercedes sai de sua zona de conforto, é incrível como tudo incomoda Hamilton. Sendo o primeiro a trocar os pneus e já sabendo que se aproximava dos dois primeiros colocados por causa do problema de Ricciardo, Hamilton teimava em fazer uma segunda parada por causa do seu desconforto com os pneus. Era nítido que a parada era desnecessária e a Mercedes fez apenas o trivial ao deixar Hamilton na pista até o final, até por que o ritmo nunca foi forte na corrida de hoje. A dupla finlandesa passou praticamente a corrida inteira próximos, mas resumindo bem a preguiça dos pilotos em fazer algo mais hoje, mantiveram suas posições a ponto de encostar em Hamilton no final, mas Bottas já via Ocon em seus retrovisores nas voltas finais, numa corrida muito boa do piloto da Force India.
Outro destaque da prova foi Pierre Gasly. O piloto da Toro Rosso fez uma prova segura para ser sétimo e ainda viu Fernando Alonso, que desprezou o motor Honda nos últimos três anos, abandonar bem à sua frente. A trupe da Honda agradece. Hulkenberg foi o último a parar e com pneus mais novos encostou em Gasly no final, mas o alemão não tinha vida fácil, pois atrás dele vinha Verstappen fazendo a melhor volta da corrida. Do terceiro colocado Hamilton ao nono Verstappen, os carros chegaram praticamente juntos. Carlos Sainz fechou a zona de pontuação numa corrida burocrática e ficando bem atrás do seu companheiro de equipe que largou atrás dele. Sauber, McLaren, Haas e Williams não pontuaram, todas com corridas medíocres. Lance Stroll chamuscou ainda mais sua imagem com uma atuação bisonha no circuito em que o piloto faz mais diferença no calendário. Apesar de toda a preparação que teve, Stroll provou que nem todo o dinheiro do mundo pode comprar o talento. Felizmente.
Ricciardo tomou o afamado shoey no pódio e apesar das expectativas, ele ofereceu ao príncipe Albert o champanhe na garrafa, não em sua suada sapatilha. Foi uma corrida longe de ser emocionante, mas bem ao estilo de Mônaco. Mesmo com Ricciardo muito mais lento por causa dos seus problemas mecânicos, ele soube utilizar bem as características únicas do traçado monegasco para se manter na ponta e somente em Mônaco isso seria possível. Ricciardo finalmente prestou suas contas com Monte Carlo e assume a terceira posição no Mundial de Pilotos, provando que com o carro certo, pode brigar mais do que ser apenas o piloto mais simpático da F1.
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