domingo, 6 de maio de 2018

Homem de equipe. Só que não...

Quando Jorge Lorenzo foi contratado pela Ducati no final de 2016, muito provavelmente a marca italiana esperava que o tricampeão mundial da MotoGP fosse a ponta de lança para que a Ducati reconquistasse o título que só venceu uma vez com Casey Stoner no já longínquo ano de 2007. Claro que sempre correndo de Yamaha na sua carreira de MotoGP, Lorenzo teria que passar por um período de adaptação, mas para alguém do talento dele, rapidamente Jorge estaria na briga por vitórias. Contudo, as coisas saíram maravilhosamente ao contrário para a Ducati. A moto ainda tinha a cara da Ducati, com muito motor e pouco quadro, mas era competitiva. Só que ao invés de Lorenzo, a Ducati viu o inesperado crescimento de Andrea Doviziozo, que só ficou na equipe por ser um bom acertador de motos e, principalmente, por ter uma personalidade mais serena do que Andrea Iannone. 

Doviziozo brigou pelo título com Marc Márquez até a última corrida de 2017, derrotou o talentoso espanhol em vários momentos, enquanto Lorenzo se via num processo de adaptação mais longo do que o esperado. Isso deve ter doído no espanhol, afinal, Doviziozo foi um antigo rival seu dos tempos das 250cc e com certeza Lorenzo não via no italiano um rival real. A comparação entre os dois já estava pegando mal para Lorenzo. Com personalidade forte e difícil, Lorenzo já havia dificultado as coisas para Doviziozo na decisiva etapa de Valencia no ano passado, quando era claro que o espanhol deveria deixar Dovi passar e ele não o fez. Em meio às presepadas de Márquez na Argentina, Lorenzo deu uma entrevista-bomba para a imprensa espanhola, onde criticou acidamente Doviziozo.

No ano passado, se teve uma corrida onde Lorenzo andou bem foi em Jerez, onde subiu inclusive ao pódio. Novamente numa temporada difícil, Jorge Lorenzo resolveu escolher o pneu macio na frente, enquanto o resto escolhia o pneu duro, por causa do forte calor que fazia em Jerez. Lorenzo largou bem e liderou a corrida, mas até as zebras do circuito Jerez-Angel Nieto sabiam que aquela liderança, sustentada com maestria por Lorenzo, não duraria muito tempo pela força que a Honda tinha mostrado em todo o final de semana. Márquez, que largou apenas em quinto, já vinha em segundo, seguido por Pedrosa e Cruthlow, num trenzinho Honda. Márquez finalmente ultrapassou Lorenzo, Cruthlow caiu e Doviziozo, numa corrida como sempre bem calculada, encostou no pelotão, não demorando a ultrapassar Pedrosa.

Com Doviziozo liderando o campeonato e Márquez tendo um ritmo muito forte na ponta, o lógico era a Ducati mandar Lorenzo deixar Doviziozo passar. Era nítido que Lorenzo não apenas não tinha força para contra-atacar, como estava segurando Doviziozo e Pedrosa. Como dito acima, Lorenzo tem uma personalidade difícil e nunca foi um homem de equipe, vide a conflituosa relação com Valentino Rossi na Yamaha. Lorenzo também está em meio à uma difícil rodada de renovação com a Ducati, que já anunciou que a situação de Lorenzo não é a mesma de quando foi contratado. Para bom entendedor, meia palavra basta... Lorenzo não aliviava para o seu companheiro de equipe, enquanto Márquez disparava na ponta. Conhecido por seu temperamento sereno, Doviziozo perdeu paciência e forçou na Dry Sack, levando o xis como consequência. Lorenzo cortou Dovi, mas não contava com Pedrosa por dentro da curva e o toque foi inevitável, derrubando ambos. Por fora da curva, Doviziozo estava vendido quando foi acertado pela Ducati de Lorenzo. Um strike! E zero ponto para a Ducati!

Marc Márquez não teve nada com isso. Após uma classificação até mesmo decepcionante, Márquez não demorou a escalar o pelotão e já se preparava para assumir a liderança do campeonato, mas ajudado pelo incidente na briga pela segunda posição, a situação do espanhol da Honda melhorou bastante, começando a disparar na frente do certame, com o bônus da principal rival da Honda, a Ducati, ter ficado zerada hoje, sobrando para Zarco assumir a segunda posição. A Yamaha teve um final de semana horrível, onde Rossi só conseguiu o quinto lugar pelos abandonos à sua frente. Viñales chegou a ser décimo terceiro, mas ainda salvou um sétimo lugar. Incensado como futuro rival de Márquez, Viñales começa a demonstrar que peca num item essencial em todo campeão: a força mental. O jovem espanhol da Yamaha não consegue superar as dificuldades como Rossi, que quase beliscou um pódio, conquistado pela segunda corrida seguida pela Suzuki de Iannone.

Lorenzo não teve culpa no acidente que causou a queda tripla que marcou a prova em Jerez, mas sua atitude não ajudou a sua negociação com a Ducati. Um piloto deve lutar pelo o seu melhor, mas também tem que ter a exata noção de que está numa equipe e pensar no melhor para quem lhe paga o seu salário, que está longe de ser baixo. Lorenzo tem muitas virtudes e não é tricampeão à toa, mas suas atitudes o marcam como um grande piloto que será lembrado no rodapé da história. E Marc Márquez agradece. 

4 comentários:

  1. E é bom que a Suzuki tenha visto isso e não tarde a renovar logo com o Iannone...

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  2. Andam dizendo que a Suzuki poderia trazer Lorenzo pro lugar do Iannone. Depois dessa, acho que a Suzuki deveria repensar e manter o italiano lá...

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  3. Essa foto é bem esclarecedora. Mostra que Lorenzo tinha sim noção de que Pedrosa estava vindo por dentro.

    50% da culpa pra ambos.

    https://twitter.com/GabrielLima29/status/993113071865524224

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  4. https://motoworldbrasil.wordpress.com/2018/05/07/consideracoes-sobre-o-gp-da-espanha/

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