Após o Grande Prêmio da Espanha na semana passada, o clima da Red Bull não estava completamente feliz, mesmo com a dobradinha conquistada em Barcelona. Sergio Pérez não estava contente em ter que ceder sua posição à Max Verstappen e prometeu uma conversa com a equipe depois da prova. Não sabemos o teor desse colóquio, mas pode-se afirmar que Pérez respondeu da melhor forma possível ao que aconteceu em Barcelona e de forma rara, superou Verstappen em praticamente todos os treinos em Mônaco e venceu a prova no principado, em outra corrida em que a Ferrari estragou tudo para Charles Leclerc.
Havia previsão de chuva para a corrida, mas o dia até havia amanhecido com tempo firme no principado, indicando uma corrida tranquila para Leclerc, que largava na pole e tinha o ritmo mais forte nos treinos. Só que a chuva veio faltando cinco minutos para a largada e a previsão era que a precipitação ficasse ainda mais forte minutos depois. A corrida foi atrasada e quando os carros saíram, a esperada tempestade chegou e a bandeira vermelha veio. Como não poderia deixar de ser, logo apareceram os 'nostálgicos' com algumas comparações esdrúxulas, mas uma coisa não há como negar: os carros atuais de F1 tem uma incompatibilidade preocupante com o piso muito molhado. Pode ser devido aos pneus de chuva forte ruins ou aos carros muito compridos aumentando a chance de aquaplanagem, o correto é que não é de hoje que a F1 tem sérias dificuldades com piso encharcado e parece que nada é feito para consertar isso. Após quase uma hora de espera, a largada foi dada com os pilotos tendo muito cuidado e a pista bem menos molhada, mas não menos traiçoeira. O ritmo inicial era lento, mas com um tom bem claro com as duplas de Ferrari e Red Bull bem à frente das demais. Leclerc parecia confortável com o piso molhado e abria sobre Sainz, que mantinha Pérez e Verstappen a uma boa distância. A corrida era estática, como sempre aconteceu em Mônaco, mas com a pista secando, era claro que muita coisa ainda rolaria numa corrida que terminaria no limite de duas horas.
Gasly foi um dos primeiros a colocar pneus intermediários e o francês da Alpha Tauri estava muito mais rápido, ultrapassando quem via pela frente. Mesmo em Mônaco. O avanço de Gasly e outros pilotos que colocavam os intermediários parecia um sinal de que estava na hora dos líderes trocar de pneus, mas Sainz teve uma ideia melhor. Já que não havia mais previsão de chuva, o espanhol tentaria colocar diretamente os pneus slicks. Seria uma jogada arriscada, mas decisiva, assim como o momento certo de fazer a manobra envolvendo não apenas o espanhol, mas todos os quatro primeiros colocados. Pérez foi o primeiro a visitar os pits, mas colocou intermediários, porém, o mexicano exibia um ritmo muito superior aos demais, o que acabaria sendo determinante. Leclerc e Verstappen pararam junto, com a Ferrari se atrapalhando um pouco, fazendo o monegasco perder a posição para Pérez, que emergia à frente da Ferrari. Com a tática determinada de só parar para colocar os slicks, Sainz ficou mais tempo na pista. O espanhol parecia que daria o pulo do gato, mas a Red Bull não perdeu tempo e chamou seus pilotos para os boxes. Sainz entrou e Leclerc foi chamado ao mesmo tempo. Ou não. A Ferrari acabou se atrapalhando com o piloto da casa, que ficou possesso com a confusão no rádio. Sainz acabou atrapalhado por um retardatário na volta de entrada dos boxes, fazendo com que Pérez fosse para a ponta por muito pouco, com Sainz em segundo, seguido por Verstappen e um furibundo Leclerc.
Quando a corrida caminhava para um fim tranquilo, Mick Schumacher estampou sua Haas nos Esses da Piscina que dividiu seu carro e trouxe uma nova bandeira vermelha para consertos na barreira. Mick saiu ileso, mas desse jeito a Haas terá muito trabalho para ficar dentro do teto orçamentário com tantos carros destruídos pelo jovem alemão. A bandeira vermelha fez com que a Red Bull colocasse pneus médios nos carros dos seus pilotos, enquanto a Ferrari terminaria com os compostos duros. Isso faria diferença no fim, mas não mudou a ordem dos fatores. Pérez chegou a abrir 4s para Sainz, mas seus pneus foram embora no fim e o espanhol colou no mexicano, trazendo a fila Verstappen e Leclerc. Os quatro andaram várias voltas colados, num final de corrida apertado, mas sem mudanças. Numa bela resposta ao dissabor sofrido semana passada, Pérez teve um final de semana exemplar e venceu pela terceira vez na carreira, se isolando como o piloto mexicano com mais vitórias na F1. Checo se emocionou no pódio e não deixou de embolar o campeonato, pois ele está em terceiro, poucos pontos atrás de Verstappen, que terminou em terceiro numa corrida para chegar, onde pela primeira vez viu a bandeirada sem estar sem ser primeiro.
A Ferrari sai de Monte Carlo com o um gosto parecido de Barcelona, pois mais uma vez vacilou quando esteve com a corrida nas mãos e a principal vítima foi Leclerc, que vinha num tranquilo primeiro lugar e terminou fora do pódio, mas se serve de consolo, pelo menos Charles finalizou sua primeira corrida em casa, enquanto Sainz foi esperto na estratégia, mas acabou atrapalhado por um retardatário. Pontos importantes perdidos para a Ferrari em ambos os campeonatos num circuito que lhe era favorável e que poderão fazer muita falta. Na luta pelo melhor do resto, Norris e Russell brigaram o tempo todo e no fim o piloto da Mercedes se sobressaiu, mesmo Lando tendo parado nos boxes por uma terceira vez e ter chegado colado no compatriota. Hamilton esperava por chuva, ela veio, mas isso não mudou uma corrida sem sal do heptacampeão, que sempre ficou empacado atrás de uma Alpine. No meio da prova, atrás de Ocon, que com pneus ainda de chuva forte, chegou a dar um chega-pra-lá no inglês e acabou punido por isso. Depois, na última relargada, Hamilton ficou empacado atrás de Alonso e nada pôde fazer para atacar o espanhol. Com a punição de Ocon, quem se beneficiou foram Bottas e Vettel, que fecharam a zona de pontuação.
Claro que o primeiro piloto da Red Bull ainda é Max Verstappen e não seria nenhuma surpresa em ver o neerlandês sendo beneficiado num futuro próximo pela equipe austríaca, porém Sergio Pérez provou que pode se confiar nele quando for necessário e o mexicano se aproveitou de outra pisada de tomate da Ferrari para conseguir uma bela vitória, no dia em que usou o capacete de Pedro Rodríguez, de quem ultrapassou como o maior mexicano na F1.
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