domingo, 29 de maio de 2022

Quem diria?

 


Marcus Ericsson saiu da F1 com a fama de piloto pagante do mesmo nível de um Lance Stroll ou Nicholas Latifi, que horas antes tinham aprontado poucas e boas no piso molhado de Mônaco. Ericsson ficou cinco temporadas na F1 usando mais a fortuna de sua família do que seu talento e trazendo muita antipatia por parte dos brasileiros por ter enterrado a carreira de Felipe Nasr na F1, nos tempos em que os dois dividiram a Sauber. Nasr sempre foi mais piloto, mas como Ericsson pagava as contas, ele era beneficiado dentro da equipe. Com a compra da Sauber pela Alfa Romeo, Ericsson foi defenestrado da F1 e ninguém parecia sentir falta do sueco, que foi tentar a sorte na Indy. Após um ano numa equipe média, Ericsson conseguiu um lugar na gigante Ganassi, mas se enganam que Ericsson tinha feito uma temporada extraordinária. Chip Ganassi se encantou muito mais com a grana do que com os belos olhos claros de Marcus.

E Ericsson foi ficando na Indy e na Ganassi, claramente na sombra da lenda Scott Dixon e da sensação Alex Palou. O sueco não era um zero à esquerda, conseguiu algumas vitórias eventuais, mas numa escala dentro da Ganassi, ele é o terceiro piloto da equipe de forma clara. Em Indianápolis nesse ano, a Ganassi se esmerou no preparo para a grande corrida americana para acabar não apenas com um jejum de dez anos na prova, como também dar uma merecida segunda vitória à Dixon, que venceu as 500 Milhas em 2008 e de lá para cá, bateu na trave várias vezes. Os cinco carros da Ganassi, completados por Tony Kanaan e Jimmie Johnson, sempre foram os mais rápidos em Indiana, com Dixon marcando a pole mais rápida da história centenária da corrida. Ericsson estava no bolo, andando na mesma balada dos líderes, mas alguém em sã consciência apostaria no sueco como favorito à corrida?

Pois as 500 Milhas de Indianápolis tem seus truques e armadilhas. A Ganassi confirmou seu favoritismo, mesmo com os ataques da equipe McLaren no fim, mas não foi com o piloto esperado. Dixon liderou o maior número de voltas, quebrou um recorde histórico de Al Unser Sr como o piloto que mais voltas liderou nas 500 Milhas, mas um erro no último pit-stop pôs tudo a perder. Dixon entrou forte demais no pit-lane, queimando o limite de velocidade. A punição veio rapidamente e não havia mais tempo para o neozelandês, que vai rivalizando com Mario Andretti no quesito 'sorte' em Indianápolis.

Tudo levava a crer que a vitória ficaria com Pato O'Ward, completando o que seria um dia inesquecível para o México, pois Sergio Pérez havia vencido em Mônaco horas antes. Contudo, após a última parada, Ericsson ligou o botão 'turbo' e disparou para cima da dupla da McLaren. Sempre entre os cinco primeiros na prova, Ericsson em nenhum outro momento da corrida parecia que daria um bote tão certeiro como fez nas últimas voltas. O sueco atacou O'Ward e o compatriota Rosenqvist para assumir a ponta da corrida, abrindo até mesmo raros 4s sobre o segundo colocado, algo que esse novo regulamento da Indy não proporciona. Porém, Jimmie Johnson fez um gol contra a sua equipe ao bater nas voltas finais para trazer uma bandeira amarela, que se transformou em vermelha com o fim da corrida tão próximo.

Ericsson parecia que seria um alvo fácil na última relargada, mas o sueco, que largou com um capacete em referência à Ronnie Peterson, foi muito agressivo, ziguezagueando de forma acintosa na frente de O'Ward e Kanaan. Na abertura da última volta O'Ward chegou a colocar de lado, mas arregou e Ericsson se garantiu com uma bandeira amarela no final do pelotão. 

Uma vitória das mais surpreendentes dos últimos anos. Não pela equipe. Dixon dominou boa parte da corrida e Palou poderia ter tido mais sorte, quando foi prejudicado por uma bandeira amarela fora de hora no começo da corrida. Kanaan andou junto de Ericsson, mas não teve força para brigar pela vitória, ficando com um bom terceiro lugar. Lembrando que Tony não tem nada acertado para 2023, podendo ser essa sua última corrida da Indy, mas em se tratando de TK, nunca se pode duvidar nada, o mesmo acontecendo com Helio Castroneves, que largou em 27º e finalizou em sétimo, mas ele nunca teve condição de lutar por muito mais do que isso. Pelo histórico de Helio, mesmo tendo todo um campeonato pela frente, dificilmente ele fará algo a mais do que a bela corrida em Indianápolis. A Penske decepcionou deveras, assim como a Andretti. 

Porém, Marcus Ericsson? Ninguém poderia prever que um piloto que saiu pelas portas dos fundos da F1 pudesse chegar na Indy e conquistar uma 500 Milhas. São essas vitórias um pouco difíceis de explicar no futuro, mas se Indianápolis escolhe seus vitoriosos, hoje foi a vez de Marcus Ericsson. 

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