Marc Márquez já tem seu nome entre os gigantes do Mundial de Motovelocidade, vencendo seis títulos da categoria principal de forma dominante, passando por cima de uma geração forte, que tinha Lorenzo, Pedrosa e Doviziozo, além da aurora da Era Rossi. Usando seu incrível talento, Márquez tinha como característica sua agressividade em cima da moto e sabendo que tinha uma joia nas mãos, a Honda investiu no espanhol desde a entrada dele na MotoGP, após uma passagem gloriosa pela Moto3 e Moto2. E desde as categorias de base algo chamava atenção em Márquez: suas quedas. O espanhol não é daquele tipo de piloto que vai crescendo aos poucos, mas vai ao limite logo de cara e só descobria quando ultrapassava essa linha quando Márquez caía. Em 2011 Márquez poderia ser campeão da Moto2, mas uma queda lhe rendeu uma diplopia. Mesmo na gigantesca MotoGP, Márquez manteve a sua mentalidade, não se impressionando que a velocidade na queda seria ainda maior.
A Honda projetou uma moto para Márquez, tanto que absolutamente ninguém conseguiu domar a Honda como o espanhol. A Honda simplesmente focou apenas em Márquez e em suas impressões, mesmo que o talento de Márquez muitas vezes camuflasse as deficiências da moto da asa dourada. Então veio 2020. Logo na primeira corrida de uma temporada entrecortada pela pandemia, Márquez sofreu o acidente que marcou sua carreira e lhe rendeu quatro cirurgias no braço direito. Sem seu principal piloto, a Honda esperou por Márquez, enquanto as demais montadoras trabalharam forte e de uma forma diferente dos nipônicos. Ducati, KTM e Aprilia tinham visão distinta e mais ágil de gerir seus problemas e as motos europeias foram melhorando cada vez mais, enquanto a Yamaha usava a mesma estratégia da Honda com Quartararo e a própria Honda aguardava a chegada do seu 'messias'. Márquez tentou várias vezes, mas seu corpo o segurava. Após sua quarta e aparentemente definitiva cirurgia no braço direito, Marc voltaria com tudo à MotoGP. O que Márquez não esperava era encontrar uma moto Honda completamente obsoleta frente às demais.
Com uma mentalidade vencedora, Márquez foi à luta e tentou tirar a diferença no braço. Está sendo o caos! Márquez simplesmente não pára de cair em sua luta para se manter em posições altas e isso está lhe cobrando contusões seguidas, o deixando de fora de várias corridas. Após cair cinco vezes semana passada na Alemanha, nesse final de semana foram mais duas quedas em Assen, agravando uma fratura na costela, fazendo Márquez desistir de mais uma corrida. Uma situação que deixa não apenas frustração, como também uma raiva crescente em Márquez. O espanhol se vê impotente em lutar com a Ducati e a Honda parece completamente sem norte. Nesse domingo, Alex Puig falou que a Honda 'não trabalha com pessoas infelizes', numa clara e forte indicação para Márquez, que se retirou de Assen com uma declaração padrão, sem maiores polêmicas, mas pelo o que falou Puig, há uma clara tensão entre a Honda e seu principal piloto. Com contrato até o final de 2024, Márquez muito provavelmente deverá procurar uma nova moto, antes que algo ainda mais grave lhe ocorra tentando fazer a Honda andar. Dentro das montadoras europeias, não há tantas vagas fortes, que absorvam alguém como Márquez. A Honda está em sua pior crise desde que retornou ao Mundial de Motovelocidade no início da década de 1980 e tem uma moto ruim e com uma fama ainda pior: de destruidora de pilotos.
Tendo ainda trinta anos, Marc Márquez se vê numa situação complicada na carreira, onde por um lado tenta se manter fiel à Honda, mas a montadora não está fazendo a sua parte. Por outro lado, no quadro atual, se quiser retornar às boas posições, Márquez terá que procurar uma nova moto. Quem o abrigará? Márquez diminuirá seu alto salário? O que a Honda fará para retornar aos bons tempos? Essas perguntas serão respondidas ao longo do tempo.