domingo, 18 de junho de 2023

Esquentando o campeonato

 


Com a Ducati massacrando as rivais na MotoGP, a montadora italiana já se dá o luxo de ver seus pilotos brigarem livremente entre si para ver quem será o campeão. Hoje, dos nove primeiros colocados em Sachsenring, oito portavam Ducati e mesmo assim, Jack Miller (KTM) esteve longe do pódio. Ano passado Jorge Martin dizia aos quatro ventos que queria uma vaga na equipe oficial Ducati, mas o surpreendente ótimo desempenho de Enea Bastianini acabou com os sonhos do espanhol, que ficou meio a contra-gosto na Pramac, principal equipe satélite da Ducati. Conhecido pelo talento e estilo agressivo, Martin também é reconhecido pelo pouco trato com os pneus e mesmo vencendo a Sprint na Alemanha nesse sábado, era esperado que Jorge sucumbisse a maior experiência e melhor trato com a borracha de Bagnaia. Porém, Martin surpreendeu ao segurar o ímpeto de Pecco e ainda esquentou o campeonato com seu final de semana perfeito.

Antes da largada já havia grande movimentação, com a notícia que Marc Márquez perderia mais uma corrida em 2023, após sua quinta (!) queda em Sachsenring, pista onde o espanhol havia vencido nada menos do que onze vezes, mas a ruindade da moto da Honda faz com que Marc queira compensar as dificuldades com o seu talento e isso resulta em quedas em sequência. A falta de uma maior ambição das montadoras japonesas nos dá um cenário inacreditável no momento na MotoGP, onde não apenas a Ducati, mas também KTM e Aprilia dominam o campeonato, deixando para trás o eterno domínio de Honda, Yamaha e Suzuki. Se antes os pilotos corriam atrás dos nipônicos, não demorará para ocorrer o contrário. O reconhecidamente talentoso Fabio Quartararo, campeão em 2021, chegou em décimo terceiro, logo atrás do seu companheiro de equipe Morbidelli, que semana passada até mesmo duvidou se era interessante renovar com a Yamaha na situação atual. Uma situação que reverbera na saúde dos pilotos, que tentam tirar a diferença e acabam no chão, fazendo com que a Honda largasse com apenas um piloto hoje, já que os demais estavam inaptos por problemas físicos. Márquez sabe que é um piloto para estar brigando, no mínimo, pela vitória. Em condições normais, estaria dominando. Mas Marc, que sempre correu com a Honda desde que estreou na MotoGP, se vê numa situação onde a montadora que o acolheu simplesmente não tem condições de lhe dar um bom equipamento e parece perdida para achar um caminho de volta aos bons tempos.

A realidade atual é a Ducati dominando e isso foi visto mais uma vez na Alemanha. Num dia de muito calor no começo do verão europeu, Bagnaia era visto como favorito, mesmo com a ótima exibição de Martin no sábado, mas como Jorge não cuida lá muito bem dos pneus, Pecco poderia usar essa vantagem para derrotar o espanhol e dar uma resposta no campeonato. Martin vem num momento ascendente no campeonato, já superando o outro piloto satélite da Ducati Marco Bezzecchi e assumindo a vice-liderança. Martin chegou ao domingo em alta e como atual campeão, Bagnaia tinha a obrigação de dar um basta nas gracinhas de Jorge e impor não apenas seu status de campeão vigente, como de piloto da equipe de fábrica Ducati. Como esperado, Martin não demorou muito para assumir a ponta da corrida, ultrapassando Bagnaia. Miller largou melhor, errou na curva 11 e depois sucumbiu a superioridade das Ducatis. Brad Binder fazia um trabalho melhor e era terceiro, quando saiu da pista sozinho e de forma estranha, deixando Zarco em terceiro. E longe da briga pela ponta.

Vendo a corrida era claro que Bagnaia não forçava em nada, esperando que Martin queimasse seus pneus, como ocorreu semana passada em Mugello. Pecco apenas seguia o espanhol e se aproximava quando queria, mas o que Bagnaia não contava era com a valentia de Martin. O primeiro ataque de Bagnaia veio faltando dez voltas, quando os pneus de Martin já estariam no teoricamente no talo. Na teoria. Martin não se abateu com a ultrapassagem e continuou forçando, até conseguir a ultrapassagem faltando sete voltas para o fim. Muito cedo? Talvez, mas Martin soube segurar a enorme pressão de Bagnaia, que chegou a tocar na traseira de Martin na abertura da última volta e terminou menos de um décimo de segundo atrás de Martin na bandeirada, que com a vitória diminuiu bastante a desvantagem para Bagnaia, ganhando uma confiança que lhe pode ser bastante interessante no resto do certame. Talvez Bagnaia tenha subestimado Martin e seu controle de pneus, perdendo uma chance de colocar Martin 'no seu lugar'. Cerebral como é, Pecco não deverá cometer o mesmo erro novamente. O certo é que o GP da Alemanha foi excepcional e provavelmente viu os dois pilotos que lutarão pelo título. Tudo dentro do guarda-chuva da Ducati.

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