domingo, 4 de junho de 2023

Que venha Madri

 


Nas últimas semanas surgiu a notícia que a cidade de Madri estaria interessada em ingressar no concorrido calendário da F1 com um circuito de rua. Madri e Barcelona nutrem uma rivalidade gigantesca dentro da Espanha e como a capital espanhol centra o poder governamental, muitas vezes na história oprimindo o orgulho catalão, isso seria um golpe e tanto dos madrilenhos em cima de Barcelona. Independentemente das rivalidades, olhando para mais uma corrida completamente sem sal na pista de Montmeló, talvez uma mudança para Madri não seja assim tão ruim, mesmo em mais um circuito de rua. Não importa a geração de carros, motores, pilotos e até mesmo narradores e comentaristas. Correr na pista de Barcelona significa uma corrida tediosa. 'Ah, mas houve várias ultrapassagens hoj', alguém argumentará. Porém, basta olhar com mais atenção que mais de 90% das ultrapassagens ocorreram com o DRS aberto, que fez uma grande diferença na longa reta dos boxes de Barcelona, principalmente com os carros andando mais próximos mesmo com a modificação que transformou uma antiga chicane em novamente duas curvas rápidas no trecho final. Se houve ultrapassagem, Max Verstappen não viu nem pelo retrovisor, com o neerlandês dando outro passeio no parque.


A chuva era esperada para o final de semana catalão, talvez com toda a comunidade da F1 lembrando do histórico nada emocionante das corridas em Barcelona. O céu escureceu em alguns momentos, George Russel confundiu seu próprio suor com pingos de chuva, mas a corrida transcorreu com pista seca e sem grandes arroubos de emoção, com Max Verstappen só tendo interrompido seu 'sunday drive', mesmo que levemente, na largada. A diferença da Red Bull para as demais é tamanha hoje em dia, que os austríacos se dão o luxo de montar pneus mais duros em seus carros e ainda assim Max conseguir uma vantagem considerável para o resto do pelotão. Largando com pneus médios, enquanto os pilotos ao seu redor saíram com pneus macios, Verstappen teve que lidar com os ataques de Sainz nos primeiros metros da corrida, mas ao controlar o piloto da casa, Max colocou o braço para fora, sintonizou em seu rádio troca-fita 'Hotel California' e passeou por 306 km na pista de Barcelona. Houve uma bandeira alvinegra para Max por causa dos famigerados 'track limits'? Max nem sabia aonde tinha sido sua pisada fora da linha. Verstappen ainda se informou para marcar a volta mais rápida e garantir o Grand Chelem, onde marcou a pole, fez a volta mais rápida e venceu após liderar a corrida de ponta a ponta. Uma exibição de gala em sua vitória de número 40, onde Max Verstappen parecia entediado até mesmo no rádio pós-corrida.


Se nada aconteceu lá na frente, as movimentações da segunda posição para trás mostrava que o novo pacote de atualização da Mercedes significou um passo à frente para a trupe de Toto Wolff e companhia. Lewis Hamilton largou bem e tomou a terceira posição de Lando Norris, mas acabou levando um toque do compatriota na segunda curva e talvez com receio de ter um furo de pneu, praticamente não ofereceu resistência à Lance Stroll na luta pela terceira posição. Tudo certo, Lewis atacou o canadense e rapidamente se aproximou de Sainz. O espanhol da Ferrari dizia que seus pneus estavam em ordem, mas os táticos ferraristas resolveram colocar pneus médios no carro de Sainz, enquanto Hamilton preferiu ficar na pista mais tempo com os macios, num ritmo muito bom, deduzindo um ótimo trabalho do veterano. Ao fazer sua primeira parada, Hamilton voltou atrás de Sainz com os médios, mas rapidamente se aproximou novamente do espanhol para lhe tomar a segunda posição sem maiores problemas e ficar por ali até o fim da corrida, mesmo que tendo que fazer uma segunda parada, se defendendo de qualquer gracinha de Sainz. Para completar a festa mercediana, Russell saiu de 12º para terceiro com um ritmo igualmente muito bom. George teve sorte em sair da pista na primeira curva, pois ao pegar o atalho que está ali por regulamento, Russell saiu mais embalado da curva 3 e ganhou boas posições ainda na primeira volta. Com mais ritmo em seu Mercedes, Russell não teve que se preocupar com Sergio Pérez. Como falado anteriormente, a diferença da Red Bull para as demais hoje é tamanho, que mesmo fazendo uma corrida praticamente incógnito, Checo chegou em quarto sem fazer muita força.


Com a Mercedes dando um grande pulo com seu pacote, a Ferrari ficava ainda mais para trás. O bom primeiro stint de Sainz não lhe serviu para nada por causa da notável falta de ritmo de corrida da Ferrari, com o notório alto de desgaste de pneus. Sainz foi ultrapassado facilmente pela dupla da Mercedes e por Pérez, garantindo um quinto lugar com sabor agridoce para o piloto da casa. Largando dos pits por causa de sua classificação bisonha, Leclerc nem de longe fez uma corrida de recuperação avassaladora, terminando por ficar fora dos pontos. Num final de semana em que era esperado que a Aston Martin tivesse alguma chance frente a Red Bull (sério, falaram isso), o time verde teve seu pior final de semana na temporada, apesar da boa largada de Stroll, mas as limitações do canadense ficaram evidentes com o passar da corrida. Somente o fato de ser filho do dono não o fez perder mais uma posição, pois Alonso vinha mais rápido nas voltas finais, mas amargou uma sétima posição em casa. Muito pouco após vir da melhor posição em muitos anos para Alonso. Ocon fez uma corrida longe do brilhantismo monegasco semana passada, mas prova que a Alpine é a quinta força do campeonato, um degrau abaixo das quatro primeiras e um degrau acima das demais. Punido por vários blocks na classificação, Gasly só pontuou pela controversa punição à Tsunoda nas voltas finais, quando o japonês se defendeu de Zhou e o piloto da Alfa Romeo saiu ligeiramente da pista. Por sinal, Zhou salvou um pontinho para a Alfa, enquanto Bottas amargava as últimas posições, chegando a ficar mais de 40s atrás do companheiro de equipe. O toque na largada não justifica a corrida horrenda de Norris, que trocou o bico na primeira volta e depois não saiu mais das últimas posições. Cavalo paraguaio que chama?


E assim Barcelona viu mais uma corrida aborrecida em sua já longa história e mais uma vez um carro projetado por Adryan Newey dominou na pista catalã. Max Verstappen conta quando irá comemorar o tricampeonato, enquanto a Mercedes começa a ter esperanças de ter achado um caminho correto rumo ao enfrentamento com a Red Bull nesse ou no próximo ano. Já Ferrari parece perdida, enquanto a Aston Martin se glorifica todo dia por ter Stroll pai no comando e pragueja por ter Stroll filho no volante. Por mais que tenha havido ultrapassagens, a pista de Barcelona simplesmente é sinônimo de corrida aborrecida.

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