domingo, 31 de agosto de 2025

Futuro repetindo o passado


 Voltando nove anos no tempo, Lewis Hamilton liderava o Grande Prêmio da Malásia de 2016 e se aproveitando de um toque recebido por Nico Rosberg na primeira curva em Sepang, estava prestes a assumir a ponta do campeonato pela primeira vez, quando o motor Mercedes explodiu sem aviso. Mesmo vencendo as últimas quatro provas do campeonato 2016, Hamilton foi incapaz de superar o zero ponto na Malásia e o título ficou com Nico. Retornando para 2025 e mesmo sem sabermos quem será o campeão dessa temporada, podemos estar vendo o passado se repetindo. Lando Norris liderou todos os treinos livres, perdeu a pole por milésimos e fazia uma corrida equilibrada contra seu companheiro de equipe e rival pelo título Oscar Piastri quando o mesmo motor Mercedes dos tempos da briga Hamilton/Rosberg abriu o bico quando faltavam sete voltas para o fim do animado Grande Prêmio dos Países Baixos. Um zero ponto para Lando Norris que pode fazer toda a diferença a favor de Oscar Piastri, vencedor da prova desse domingo.


A esperada chuva em Zandvoort, falada desde o início da semana nos três dias de Grande Prêmio ficou na ameaça e apenas alguns pingos caíram que pouca diferença fez para a corrida. Com nuvens carregadas no horizonte, a largada foi dada sem maiores problemas e Piastri quase que imediatamente foi para direita, cortando qualquer ameaça de Norris. Correndo em casa e tentando criar qualquer chance para fazer algo a mais, Max Verstappen optou pelos pneus macios e isso foi uma vantagem na largada, com o neerlandês pulando para segundo e chegando a ficar lado a lado com Piastri na primeira curva, que não teve maiores pudores em fechar o anfitrião do dia. Norris por pouco recuperou a segunda posição, mas Verstappen mostrou sua magia ao seu manter na posição carregando muita velocidade entre as curvas 2 e 3, perdendo a aderência do seu carro, porém, segurando o carro e a posição com maestria. O único incidente aconteceu com Bortoleto, que ficou sem potência e imediatamente caiu para último. Leclerc mostrava suas credenciais ao ultrapassar Russell na primeira volta, iniciando o dia de muita pressão do incrível Isack Hadjar, sempre com alguém lhe enchendo os retrovisores. 


Com Verstappen o separando de Norris, Piastri aproveitou para abrir o máximo que podia, mas não demorou para que os pneus macios de Verstappen começassem a perder ritmo e antes da décima volta Norris efetuou uma bela ultrapassagem sobre Max, por fora na curva Tarzan. Nesse momento Piastri liderava com 4s de vantagem e ao se livrar de Max, Lando tirava a diferença aos poucos. A corrida ficou estática, com as notórios dificuldades de se ultrapassar em Zandvoort ficando claras, mas um ligeira garoa (ou neblina, se você for do Ceará...) se abateu sobre a pista às margens do Mar do Norte, tornando o asfalto ligeiramente escorregadio, mas ninguém pensou em pneus intermediários, para alegria da Pirelli. Porém, nesse momento Lewis Hamilton corou mais um final de semana nada frutífero e bateu na curva 3, ao passar pela parte verde e estatelar sua Ferrari no lugar. O Safety-Car apareceu, mexendo com a estratégia das equipes, mesmo que na frente não tivesse tantas mudanças. A McLaren escolheu a bola de segurança e trouxe seus dois pilotos ao mesmo tempo, colocando pneus duros, mesmo que Norris quase levou o mecânico do macaco dianteiro junto. O SC trazido por Hamilton acabou atrapalhando Leclerc, que tinha acabado de fazer sua parada e o monegasco acabou ultrapassado por Russell. Na tentativa de dar o troco, Leclerc efetuou a manobra do dia, ao arriscar um 'dive bomb' na apertada chicane e após se esfregar com Russell, completar a manobra. O inglês da Mercedes ficou uma arara, reclamando via rádio, mas a investigação ficou para depois da corrida.


Com os dois pilotos da McLaren andando mais próximos, a corrida ficou mais tensa, com Oscar e Lando sempre separados por menos de 1,5s. A corrida seguia seu fluxo normal, quando a Mercedes resolveu mudar a estratégia de Andrea Kimi Antonelli e colocou pneus macios no carro do italiano faltando vinte voltas. Temendo ver Leclerc atacado nas voltas finais, a Ferrari imediatamente trouxe Charles para os pits e colocou os mesmos pneus de Kimi. Leclerc voltou imediatamente à frente de Antonelli, demonstrando a diferença que os pneus macios faziam naquele momento, mas o que o ferrarista não contava era que Antonelli resolvesse ultrapassa-lo numa manobra para lá de otimista, resultando num toque entre eles e Leclerc ficando no mesmo muro que Hamilton batera voltas antes. Zero ponto para a Ferrari no mesmo local. Antonelli teve um pneu furado, foi punido em 10s pelo toque em Leclerc e posteriormente mais 5s por excesso de velocidade nos boxes quando visitou os pits pela terceira vez. Zero ponto para o jovem italiano. Isso motivou a McLaren trazer seus dois pilotos para os pits e mesmo num processo longe de ser perfeito, os dois se mantiveram na ponta rumo a mais uma dobradinha. O motor Mercedes já tinha quebrado nos carros da Williams, Aston Martin e da própria equipe Mercedes, faltando apenas a McLaren. Faltando sete voltas para o fim, Lando reportou fumaça no cockpit e quando a câmera abriu, a fumaça estava em todo lugar na McLaren de número 4. O motor Mercedes completara a cartela em 2025 e todas as equipes que usam a usina de Stuttgart abandonaram pelo menos uma vez. E Lando Norris foi o 'escolhido' da McLaren.

Obviamente Lando Norris saiu do carro arrasado, enquanto o SC voltava à pista, mas a corrida estava ganha para Oscar Piastri, que completou seu primeiro 'Grand Chelem' da carreira. O australiano não começou o final de semana de forma prodigiosa, mas apareceu no momento certo na classificação e após uma boa largada, controlou as 72 voltas do Grande Prêmio dos Países Baixos, mesmo quando tinha alguém perto dele. O australiano venceu de forma sóbria e ainda teve a sorte (de campeão?) de ver seu rival mais próximo ter uma rara explosão de motor, fazendo com que a diferença entre os dois primeiros colocados no campeonato suba para 34 pontos. Piastri começa a se colocar numa situação de, na mesma forma como controlou a corrida de hoje, a controlar o campeonato até o fim.


O abandono de Norris fez com que Max Verstappen chegasse num bom segundo lugar, coroando mais um final de semana em que o neerlandês anda bem mais do que o potencial do carro. A Red Bull tem um carro desequilibrado e que só Max consegue domar. Tsunoda fez uma corrida anônima na maior parte do tempo e que só lhe rendeu pontos pelas entradas do SC, que acabaram favorecendo ao nipônico voltar a marcar pontos depois de bastante tempo. Bem melhor do que ele fez Isack Hadjar. Após uma classificação estupenda, o jovem francês da Racing Bulls segurou a pressão de Leclerc e Russell a corrida inteira, não se intimidando pelos nomes que o perseguia. Hadjar fez uma prova correta, seu time fez uma estratégia sem maiores invencionices e com a quebra de Lando, Isack conseguiu o primeiro pódio da carreira, além de se tornar o francês mais jovem a subir ao pódio da F1. O problema disso é se Hadjar for ser promovido. Lawson estava marcando bons pontos para a Racing Bulls, mas na primeira relargada se envolveu num toque com Carlos Sainz e a corrida de ambos acabou ali. Sainz foi punido pelo incidente e ficou cuspindo maribondo via rádio, se dizendo inocente pelo toque.


Russell teve seu assoalho danificado com o toque recebido por Leclerc e por isso teve sorte em manter o quarto lugar e marcar importantes pontos para a Mercedes, que luta com a Ferrari pelo vice-campeonato no Mundial de Construtores. Albon fez uma ótima largada, se manteve nos pontos o tempo inteiro, andou no ritmo da dupla da Mercedes e com os problemas que ocorreram ao seu redor, garantiu bons pontos com um quinto lugar. A Haas largou com seus dois pilotos com pneus duros, esticou ao máximo seu primeiro stint e colocou os médios apenas no segundo SC, fazendo com que seus pilotos parassem nos pits uma vez e com os pneus certos na segunda metade de prova. Bearman conseguiu um ótimo sexto lugar, seu melhor resultado na F1 até agora, com Ocon fechando a zona de pontuação. A Aston Martin começou o final de semana dando pinta que poderia brigar por algo acima do que vinha fazendo, mas a classificação mostrou que não era bem assim, ainda mais com Stroll batendo no Q1. Largando em último, o canadense foi o primeiro a fazer pit-stop e depois colocou o terceiro set de pneus na hora certa e ficar em sétimo. Alonso teve uma corrida mais conturbada, onde se estranhou com seu engenheiro de pista via rádio, mas a experiência do espanhol prevaleceu e Alonso foi sétimo, no entanto, mais uma vez, ficou a sensação que a Aston Martin acertou na estratégia com o piloto errado. Já a Sauber errou a vontade na estratégia dos seus pilotos e mesmo Bortoleto relargando em décimo, o brasileiro estava com os pneus errados e foi engolido pelo pelotão. A Alpine tentou fazer o mesmo com Gasly, que resistiu o quanto pôde, mas teve o mesmo destino de Gabriel. Já Colapinto tentou um 'all-in' no último SC e quase garantiu um ponto, mas a corrida acabou o portenho teve que se conformar com o 11º lugar.


Zandvoort viu uma corrida acima das expectativas e o grande vencedor foi Oscar Piastri, não apenas pelo triunfo no domingo, como pelo abandono infeliz de Norris, que saiu dos Países Baixos mais de trinta pontos atrás no campeonato e sua situação ficando bem complicada. Como seu compatriota Hamilton nove anos atrás, podemos esquecer todos os erros que Lando Norris cometeu durante o ano, mas a quebra de motor em Zandvoort poderá ser lembrada como o grande diferencial que poderá ter dado o título à Piastri no final do ano.

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