Não vou mentir. Para acordar às 6 da manhã em pleno domingo dá muita preguiça e é preciso muita força de vontade para fazer isso. Desde que voltou a ter SporTV aqui em casa, faço isso quando tem etapa do Mundial de Motovelocidade. Mesmo com minha mãe pertubando, dizendo que eu deveria ir para a missa (ela até está certa), vou direto para TV assistir às 125, a primeira corrida do dia. Algumas vezes não vale muito a pena, pois as corridas não são das mais emocionantes, mas hoje, com certeza, valeu muito a pena levantar cedo da cama.
Como perdi um pouco a hora (acordei 6:05), não vi a largada das 125, mas ainda na segunda volta deu para ver que a categoria menor da programação seria uma corrida muito emocionante. Ao contrário das duas primeiras corridas, não houve dois ou três piloto que se destacaram dos demais e brigaram pela primeira posição. Hoje, sete pilotos brigaram pela ponta a corrida inteira. E seria oito se o azarado do ano não saísse da disputa tão cedo. Mattia Pasini largou na pole e estava liderano quando um estranho problema em sua moto o fez encostar na grama. O mais estranho é que o italiano subiu na moto e voltou sem problemas! Porém, 2007 não é o ano de Pasini e quando ele se aproximava da zona de pontos, ele abandonou na última volta, chegando aos boxes chorando muito. E não é para menos. Depois de dominar a pré-temporada, Pasini não terminou nenhuma corrida até agora.
Mas voltando a corrida. No bolo da frente tinha algumas caras conhecidas, como o líder Talmacsi, seu companheiro de equipe Hector Faubel e o tcheco Lukas Pesek. Contudo, junto a eles tinham pilotos que normalmente brigam da décima posição para trás, como Raffele de Rosa, Joan Olive e Simone Corsi. Juntamente com a KTM de Tomoyoshi Koyama, esses pilotos fizeram uma disputa de tirar o folêgo, com destaque para a incrível ultrapassagem de Olive, que na freada da grande reta pulou de sétimo para segundo! No final, a briga ficou tão intensa que o segundo pelotão composto pelo garoto de 16 anos Bradley Smith e Lorenzo Zanetti encostou nos líderes e as últimas voltas tinham nove pilotos na briga! Faltando cinco voltas, uma dupla surpresa aconteceu e esse duo foi o protagonista do final da prova. Simone Corsi, com uma carreira apagada até então, e Joan Olive, companheiro de equipe de Pasini e mais conhecido por isso, desgrudaram do grupo e começaram a brigar pela ponta. Os dois não tinham vitória no currículo. Olive conseguiu uma vantagem inicial, mas Corsi começou a se aproximar no final e a última volta foi de tirar o fôlego. Corsi conseguiu dá o bote no meio da volta, mas Olive deu o "x" e parecia ter definido a parada, mas Olive abriu demais na última curva e Corsi botou por dentro e venceu por menos de um décimo de segundo. Atrás deles, Koyama deu o primeiro pódio para a KTM na temporada. Enquanto isso, os protagonistas do campeonato ficaram para trás. Gabor Talmacsi foi apenas quinto, logo à frente de Lukas Pesek. Pior sorte teve Faubel. Ele chegou a liderar várias voltas, mas um erro o pôs apenas em sétimo. O espanhol vinha se recuperando, porém outro erro fez com que ele terminasse apenas em décimo. Com isso, Talmacsi tem nove pontos de vantagem no campeonato em cima de Faubel, que tem agora Pesek um ponto atrás de si. Com a vitória Corsi subiu para quarto e com essa vitória, pode entrar no rol de favoritos do campeonato, mas nas 125, tudo pode acontecer.
Como aconteceu nas 250. Levei um susto quando vi Andrea Doviziozo na pole para a corrida da Turquia, pois a moto Honda do italiano é nitidamente inferior as Aprilias, principalmente da equipe Fortuna, que esse ano tem apenas o antipático e talentoso Jorge Lorenzo. Na corrida, Doviziozo assumiu a primeira posição e tentou disprara. E precisava. Nas longas retas de Istambul, a potência das Aprilias fariam a diferença. O suíço Thomas Luthi era o segundo seguido pela revelação da temprada Álvaro Bautista, Jorge Lorenzo e Alex de Angelis. Luthi foi presa fácil para os três e então o esquadrão Aprilia partiu para cima de Doviziozo. Parecia que Doviziozo ficaria em quarto. No mínimo. Mas o italiano cismou que venceria a corrida e não se intimidou com a presença das Aprilias em seus calcanhares. Lorenzo usou a maior experiênci para ultrapassar Bautista e atacar Doviziozo. Como o esperado, Lorenzo passou, mas Doviziozo estava mais agressivo do que o normal e numa disputa ombro a ombro, tomou a posição do espanhol. Bautista assistia tudo de perto, enquanto De Angelis ficava mais para trás.
Então, Bautista ultrapassou Lorenzo e começou a atacar Doviziozo, quando Lorenzo fez uma bela ultrapassagem dupla no final da grande reta e assumiu novamente a dianteira. Essa ultrapassagem de Lorenzo parecia definitiva, mas "Dovi" não pensava assim. Andrea sabia que não tinha chances contra as Aprilias nas retas e assim começou a descontar nas freadas. Faltando duas voltas, Doviziozo atacou Lorenzo, mas o espanhol freou no limite e permaneceu na liderança, e para piorar as coisas para Doviziozo, Bautista fez uma freada kamikase e ultrapassou o italiano, mas logo em seguida Doviziozo deu o troco. A última volta foi eletrizante, com Doviziozo tentando o bote nas freadas e Lorenzo se protegendo, mas o espanhol nunca imaginou Doviziozo fazer o que fez. Na grande reta, o italiano pegou o vácuo da Aprilia e pôs por dentro. Os dois frearam no limite, bateram ombros e Doviziozo teve uma pequena vantagem. Na reaceleração, Lorenzo errou e Bautista colocou por dentro, mas errou e Lorenzo tomou a segunda posição e tentou atacar Doviziozo, mas a bandeirada estava logo à frente e o italiano venceu pela primeira vez no ano. Ufa! Tudo isso aconteceu em três curvas! Foi uma vitória no braço, coisa que Doviziozo fez questão de mostrar durante sua comemoração. Lorenzo chegou ao pódio com cara de quem comeu e não gostou. Marrento! Lorenzo é muito bom, mas ele tem muito mais moto do que talento. Doviziozo tem talento e muito coração e usou essas duas coisas para conseguir uma vitória improvável. No campeonato, Lorenzo lidera folgado, mas essa vitória pode ser um divisor de águas para Doviziozo, que já aparece em segundo e agora espera que a Honda olhe com mais carinho para ele e sua equipe, que está correndo sem patrocinadores.
Após tomar o café da manhã e ler o jornal, fiquei na dúvida. DTM ou MotoGP? Como a SporTV dificilmente reprisa as corridas ( e quando o faz, faz de madrugada), preferi continuar assistindo as motos. Não me arrependi! Com Rossi na pole e largando bem, pensei que a corrida seria tão monótono como a última corrida em Jerez. Porém, como Fernando Alonso mostrou semana passada, até os grandes campeões tem dias ruins. Ainda na primeira volta, as Ducatis lideradas por Stoner partiram para cima da Yamaha de Edwards e deixou o americano para trás. Então, Valentino errou feio no curvão que antecede a reta oposta e perdeu várias posições. Na pressa de voltar à pista, Valentino passou perigosamente pela grama e voltou no meio da pista, agrupando todas as motos. O resultado não parecia que seria bom. E não foi. Edwards e Pedrosa, que tinha largado mal, colocaram de lado em cima de Rossi, que tentou se defender. Os três ficaram bem por dentro e isso deve ter animado Olivier Jacque em sua Kawasaki, que largou bem e viu a possibilidade de ganhar várias posições de uma vez. O francês freou totalmente sem tomada e acabou tocando a roda traseira de Edwards, que tocou na Honda de Pedrosa e levou, literalmente, a Suzuki de Vermeulen nas costas. Melandri e Guintoli tiveram que ir bem por fora para não se envolverem no acidente, enquanto Jacque se contorcia de dor, Edwards e Pedrosa saiam rapidamente da cena do acidente e Vermeulen tentava tirar sua moto de cima da Honda de Pedrosa.
Com essa confusão, Stoner liderava com facilidade seguido por Capirossi, a Suzuki de Hopkins, a Honda de Elias e Valentino. Alexandre Barros se aproveitou da confusão e subiu para oitavo, logo atrás do campeão Nicky Hayden e do milagreiro Melandri, que ainda estava no pelotão da frente. Hopkins, fiel ao seu estilo doidão, partiu para cima de Capirossi, enquanto Rossi tentava uma recuperação e partia para cima de Elias. Capirossi serviu como um tampão e Stoner já disparava na frente. Mais atrás, a briga entre Hopkins, Elias e Rossi estava muito animada, com direito a muitos erros dos três pilotos. Melandri, Hayden e Barros acompanhavam atentamente essa briga, mas vinnham por perto, esperando por qualquer erro deles. Quando Valentino ultrapassou Elias e assumiu a terceira posição, conseguiu ultrapassar Capirossi com muita facilidade e parecia que iria com tudo para cima de Stoner. Parecia.
Elias ultrapassou Capirossi e Rossi em voltas sucessivas e estava em segundo, enquanto os italianos perdiam rendimento de forma gritante. Capirossi foi ultrapassado por Hopkins e Melandri e parecia que o dia do italiano não seria nada bom, mas Rossi ficou totalmente sem pneus (deu para perceber na câmera de trás) e foi caindo vertiginosamente de posição. A queda de rendimento de Rossi foi tão grande que foi ultrapassado pela Kawasaki de Randy de Puniet e a Ducati de Alex Hofmann, acabando a corrida numa modestíssima décima posição. E falando em Ducati, Barros começou a andar muito bem na metade final da corrida e partiu para cima de quem vinha pela frente. Ultrapassou Hayden, depois se aproveitou de um erro de Hopkins e por fim ultrapassou Capirossi. Quando o brasileiro se preparava para ultrapassar Melandri e assumir a terceira posição, Capirossi mostrou que estava escondendo o leite e ultrapassou Melandri e Barros na freada da reta oposta. Mas a emoção não tinha terminado ainda. Barros ultrapassou Melandri e partiu para cima da Ducati oficial de Capirossi nas últimas duas voltas, mas não deu.
Ah! Stoner venceu com facilidade e agora é líder do campeonato e graças aos infortúnios de Rossi, tem agora uma vantagem de dez pontos em cima do italiano. O australiano, mais conhecido anteriormente como "Rolling Stoner", está mostrando uma capacidade e, principalmente, uma maturidade totalmente inesperada e parte com tudo para brigar com Rossi pelo título. Rossi teve sorte de não cair feio na escapada da primeira volta e de não se envolver no acidente que ele mesmo ajudou a provocar, mas se ele quiser reconquistar os títulos, Rossi terá que melhorar muito, principalmente a Michelin, que levou um baile da Bridgestone na Turquia. Já Alexandre Barros, fez sua melhor corrida na sua volta à MotoGP e mesmo ficando em quarto, ficou um gostinho de quero mais e um pódio já não é uma meta tão distante assim.
Se todas as corridas do Mundial de Motovelocidade forem assim, valerá muito a pena acordar cedinho!
Nenhum comentário:
Postar um comentário