quinta-feira, 12 de abril de 2007

El Lole


Carlos Reutemann é daqueles piloto que é sempre lembrado quando se falam de grandes pilotos que não foram campeões na F1. Rápido, mas muito inconstante, esse argentino é o maior símbolo de uma velha frase da F1, mas ao contrário: “Na hora errada, na equipe errada.” Reutemann sempre correu em equipes grandes, mas nunca no melhor momento das escuderias escolhidas por ele. Este introspectivo argentino provavelmente tinha o mesmo talento de outros grandes pilotos da época, mas a sorte nunca esteve ao seu lado. Reutemann teve uma estréia de sonho ao ser pole na primeira corrida na F1, feito só repetido por Mario Andretti e Jacques Villeneuve, mas ao contrário dos dois, Reutemann não tinha o melhor carro. “El Lole” não conseguiu repetir o sucesso de Fangio vinte anos antes, apesar do apoio irrestrito de toda nação argentina. Diga-se de passagem, essa nação ainda o idolatra tanto, que não seria surpresa ver Reutemann como presidente da Argentina daqui a alguns anos. No seu 65º aniversário, vamos ver um pouco da história desse grande piloto dos anos 70.

Nascido no dia 12 de Abril de 1942 em Santa Fé na Argentina, filho de pai argentino e mãe italiana, sendo que seu avô paterno era um suíço de origem alemã. Ele cresceu vendo todas as glórias conquistadas por Fangio, mas Reutemann só começou a correr de verdade aos 23 anos num Fiat 1500, sagrando-se tri-campeão argentino de turismo em 1966, 1967 e 1968 na equipe da Ford, se tornando muito popular, pois já nessa época a TC (Turismo Carretera) era muito assistida. Já em 1967 Reutemann venceu seu primeiro título de monoposto andando num carro do famoso engenheiro Alejandro de Tomaso.

Em 1969 Reutemann subiu para a F2 Argentina e venceu 10 de 12 corridas, tornando-se campeão com facilidade. Em 1970 a petroleira argentina YPF resolveu investir na revelação local e o colocou na F2 européia com um Brabham BT30 na equipe Automovil Club Argentina. Em Hockenheim, Carlos tocou na Lotus de Jochen Rindt provocando um grande acidente que envolveu cinco carros. Rindt ficou irado e disse uma frase não muito inteligente, dizendo que os índios deveriam ficar nas selvas, não nas pistas...

Mesmo com esse incidente com Rindt, os melhores resultados de Reutemann em 1970 foi um sexto e um quinto lugares em Hockenheim, o deixando na 15º posição no campeonato, mas a melhor exibição de Reutemann foi em Nürburgring, quando ficou com a pole debaixo de chuva, após aprender o difícil circuito alemão depois de 200 voltas num Ford Capri alugado. Tanta perseverança e dedicação foi mais do que suficiente para uma segunda temporada de Reutemann na F2 e esse foi o campeonato em que Reutemann mostrou aos europeus que seu lugar era mesmo nas pistas.

Ainda no mesmo carro e na mesma equipe Reutemann mostrou força ao ficar em terceiro na primeira etapa em Hockenheim. Demonstrando muita consistência, o argentino colecionou vários pódios até conseguir sua primeira vitória em Albi, na França. Na verdade, essa ainda não foi sua vitória de direito, pois naquela época muitos pilotos da F1 competiam na F2 e o vencedor em questão foi Emerson Fittipaldi na sua famosa equipe Bardhal, um minuto à frente do argentino. No final do ano, Reutemann ficou em segundo no campeonato atrás da March oficial de Ronnie Peterson.

Ainda em 1971 Reutemann fez sua estréia na F1 numa corrida extra-campeonato em Buenos Aires, andando num McLaren M7C que foi de Jo Bonnier e o argentino acabou em terceiro. Para 1972 Reutemann foi contrato pela equipe Rondel de F2 no novo Brabham BT38. Ele terminou em quarto no campeonato e um dos seus patrões era um tal de Ron Dennis. No entanto, graças ao bom relacionamento com a Brabham e a YPF, Carlos Reutemann pode estrear na F1 ainda em 1972. E como. Usando o seu conhecimento do circuito de Buenos Aires, Reutemann conseguiu uma surpreendente pole position em cima da estrela da época Jackie Stewart, enquanto seu companheiro de equipe, o bicampeão Graham Hill era apenas 16º. Durante a corrida, Reutemann não largou bem e ficou em quarto a maior parte da corrida, mas com problemas nos pneus, terminou em sétimo.

Em 1973 Reutemann conseguiu sua primeira vitória na F1 ao vencer em Interlagos num Grande Prêmio extra-campeonato. O ano de 1974 tinha tudo para ser o ano de confirmação de Reutemann no belo Brabham BT44 inteiramente branco projetado pelo então iniciante Gordon Murray. Ele andou muito bem na Argentina e no Brasil. Na Argentina, Reutemann começava a mostrar seus primeiros azares. Andando muito forte, “El Lole” disparou na liderança para delírio dos torcedores argentinos. Juan Domingos Perón pegou um helicóptero para entregar o troféu de vencedor para Reutemann, mas havia um problema. A entrada de ar do motor da Brabham estava solto. O problema parecia pequeno, mas acabaria cruel no final. Com menos ar entrando no motor, o consumo aumentou demais e o resultado foi uma pane seca nas voltas finais para desespero de Reutemann e da torcida, enquanto Perón voltava para a Casa Rosada.

Porém, na África do Sul, Reutemann deixou os azares de lado e venceu a corrida com facilidade, mas uma série de problemas fez que o Reutemann não brigasse mais diretamente pelo título. O argentino ainda venceria de forma dominante na Áustria e nos Estados Unidos, mas no final um desapontador quinto lugar no campeonato foi o máximo que Reutemann pode fazer. 1975 foi um pouco melhor, com Carlos sendo mais consistente e ficando em terceiro no campeonato após mais uma vitória na Áustria. Nessa altura, Reutemann tinha como companheiro de equipe José Carlos Pace e os dois sul-americanos disputaram de igual para igual a primazia dentro da Brabham.

Em 1976 a parceira Reutemann-Brabham chegou ao fim após a péssima experiência com o motor Alfa Romeo. O carro era bom, mas o motor ainda precisava ser muito desenvolvido e isso significava um ano perdido com várias quebras. Um quarto lugar na Espanha foi o máximo que Carlos conseguiu, mas o namoro com a Ferrari já tinha se iniciado e ainda em 1976 Reutemann fez sua estréia na equipe de Maranello no Grande Prêmio da Itália em Monza. Inicialmente, Reutemann foi trazido para a Ferrari com o intuito de substituir Lauda, seriamente ferido na Alemanha, e por isso, o austríaco não ficou contente com a contratação de Reutemann.

Carlos venceu o Grande Prêmio do Brasil, saindo de Interlagos na liderança do campeonato e dando a impressão de que poderia ser campeão, mas Lauda logo reafirmou sua posição dentro da equipe e conquistou o segundo campeonato no final do ano. Cansado da política dentro da Ferrari, Lauda deixou a equipe antes do final de 1977 e Reutemann era o primeiro piloto da equipe, já que o então novato Gilles Villeneuve mais aprendia do que ameaçava Reutemann.

Uma vitória no Grande Prêmio do Brasil (segunda consecutiva e a primeira em Jacarepaguá) deu a impressão de que Reutemann e a Ferrari poderiam conquistar o campeonato de 78, mas o azar do argentino apareceu mais uma vez. A Lotus e seu carro-asa dominaram por completo o campeonato e nem as três vitórias do ano foram suficientes e o terceiro lugar no Mundial acabou como consolação para Reutemann. Se a Lotus tinha o melhor carro, a mudança para a equipe de Colin Chapman era uma boa idéia. Porém...

O Lotus 80 foi uma perda de tempo para Carlos e o título ficou... para a Ferrari, equipe que Reutemann tinha abandonado no final de 1978. No final de 1979 a Williams era claramente o melhor carro e Reutemann foi contratado para ser companheiro de equipe de Alan Jones. A equipe de Frank Williams tinha estreado em vitórias ainda em 79 e era franca favorita para 1980 e isso se traduziu no título de Jones no final do ano. Reutemann era o segundo piloto e foi terceiro colocado no campeonato com apenas uma vitória em Mônaco.

Já com 39 anos, Reutemann botou na cabeça que seria o campeão de 1981. O carro da Williams ainda era o melhor, mas a Brabham de Piquet já tinha incomodado bastante em 1980 e a Williams ainda tinha Jones como o favorito. A primeira corrida em Long Beach mostrava a superioridade da Williams com uma dobradinha Jones-Reutemann. No Grande Prêmio do Brasil, Reutemann resolveu que o título seria seu de qualquer jeito, mesmo que tivesse de enfrentar sua própria equipe e seu companheiro de equipe. Com Reutemann e Jones disparados na frente, a Williams resolveu pedir que Reutemann diminuísse para que Jones vencesse a corrida. Reutemann se recusou a fazer isso e venceu a corrida. A briga estava armada.

Reutemann venceu o triste GP da Bélgica em que atropelou e matou um mecânico da Osella na sexta-feira. Na metade da temporada parecia que Reutemann seria o campeão independente do que achava a Williams. Então uma nuvenzinha negra começou a pairar sobre a cabeça de Reutemann e Piquet se aproximou do argentino perigosamente. Reutemann deu um vacilo no GP da Holanda ao bater em Jacques Laffite e ficou sem pontos numa corrida em que podia ter sido terceiro e colocado mais pontos em cima de Piquet. Mesmo na liderança do campeonato, sua relação com a Williams não era boa e nem a equipe e nem Alan Jones estavam dispostos a ajudar o argentino. No GP de Las Vegas, Reutemann só precisava ser quinto para ser campeão. O argentino estava uma pilha de nervos no dia da corrida e mesmo largando na pole, Reutemann fez uma corrida medíocre e foi apenas oitavo, enquanto Piquet conquistava seu primeiro título Mundial. Após a corrida Reutemann fez pouco de Piquet, dizendo que conhecia Piquet lavando os pneus de seu Brabham em 1974 em Brasília.

Mesmo com toda essa decepção, Reutemann ainda teve ânimo em continuar na Williams em 1982, e o argentino começou relativamente bem ao ser terceiro no Grande Prêmio da África do Sul. Em Jacarepaguá, Reutemann não teve chances para segurar o seu motivado companheiro de equipe Keke Rosberg e após a corrida decidiu se aposentar, já com 40 anos de idade. A título de curiosidade, o campeão de 1982 foi Keke Rosberg da Williams, onde Reutemann era o primeiro piloto no começo do ano...

Com 14 vitórias (inclusive duas extra-campeonato no Brasil), 45 pódios, 6 poles, 22 primeiras filas, 6 voltas mais rápidas e um total de 310 pontos (o 10º maior pontuador de todos os tempos), Reutemann tinha um cartel impressionante, mas após tantas decepções nos últimos anos de F1, Reutemann resolveu investir na carreira política e ao contrário da F1 vem se dando muito bem. Após ser governador da província de Santa Fé em 1991, Reutemann tinha todas as chances de ser presidente em 2003, mas preferiu se canditar (e se eleger) a senador pela província de Santa Fé, onde está até hoje.

Em 2004 Reutemann teve um gostinho de andar num F1 atual ao dar umas voltas na Ferrari de Schumacher em Fiorano, onde pode se lembrar com saudades seus tempos em que atrás de um volante de F1 pode trazer um presidente para o amado circuito de Buenos Aires, donde e torcida gritava “Lole, Lole, Lole!”.

Parabéns
Carlos Reuteman!
8w.forix.com/mrh
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