domingo, 8 de novembro de 2015

Vitória do melhor

Foi uma corrida tensa, como todos esperavam, mas não houve nenhum incidente, como muitos torciam. Valentino Rossi fez uma corrida épica, ultrapassou mais de vinte pilotos em menos de dez voltas, mas fez dele o que se esperava, se não houvesse problemas: chegar ao quarto lugar. E quando chegou nessa posição, já havia praticamente uma reta separando o italiano dos três primeiros colocados e a partir daí, somente um acaso tiraria o título de Jorge Lorenzo, que fez por merecer o terceiro campeonato, pois foi o piloto que mais venceu corridas em 2015, exibiu uma pilotagem soberba, onde soube andar muito forte sem destruir seu equipamento e teve a frieza na corrida final, onde foi atacado pelos dois pilotos da Hondas nas voltas derradeiras desse histórico Grande Prêmio da Comunidade Valenciana.

Após a definição do título de Danny Kent na Moto3 e a insossa corrida da Moto2, mesmo com acidente sério que trouxe bandeira vermelha, havia uma tensão pairando no ar em Valencia. O que aconteceria na definição do título da MotoGP? Como se comportariam Lorenzo largando na pole e Rossi largando em último? Como se comportariam os demais pilotos do grid, especialmente os representantes da Repsol Honda? Rossi e Lorenzo estavam carrancudos no grid e a presença do rei Juan Carlos dava a importância da corrida, que começou com Rossi ultrapassando cinco pilotos ainda antes da primeira curva, enquanto Lorenzo tomava a ponta, seguido de perto pelos dois pilotos da Honda, com Márquez à frente de Pedrosa. Todas as atenções ficaram em cima da prova de recuperação de Rossi. As primeiras curvas da corrida, como mostrou bem a Moto2, podem ser perigosas, mas Valentino escapou bem de possíveis problemas e continuou a ultrapassar quem via pela frente. Valentino Rossi conseguiu seu primeiro título no Mundial de Motovelocidade em 1997, nas 125cc, chamando a atenção de todos. A grande maioria dos pilotos que largaram hoje em Valencia tem pouco mais de vinte anos e por isso, cresceram tendo Rossi como inspiração. Não foi surpresa alguns pilotos estendendo o tapete para Valentino Rossi ultrapassar, caso mais claro de Petrucci, que saiu da linha ideal e ainda foi ultrapassado por Pol Espargaró.

Porém, boa parte desse mesmo grid é espanhol e nas duas semanas entre as corridas em Sepang e em Valencia, houve uma guerra Itália vs Espanha pela mídia. Os irmãos Espargaró não aliviaram e Rossi teve que forçar a barra, até mesmo se arriscando ao ultrapassar esses pilotos. Quando ultrapassou Doviziozo, Rossi estava na quarta posição, 8s atrás do terceiro colocado Daniel Pedrosa. Mesmo com a espetacularidade de sua atuação, Rossi tinha feito não muito do que sua obrigação pelo talento e, principalmente, o equipamento que tem em mãos. Porém, a causa de Valentino Rossi dependia do que acontecia mais à frente e não estava nas mãos habilidosas do experiente piloto italiano.

Lorenzo se caracterizou por disparar na ponta nas primeiras voltas e administrar o restante da corrida. Contudo, Lorenzo em nenhum momento teve vida fácil em Valencia e teve a incômoda presença de Márquez, enquanto Pedrosa resguardava seus pneus para um ataque final. A Honda debitava muita potência na reta, enquanto o equilíbrio da Yamaha se destacava no miolo. O estilo espetaculoso de Márquez não combinava muito bem com a pista de Valencia, mais favorável à suavidade de Lorenzo. Porém, os pneus de Lorenzo foram embora no final da corrida e Márquez tentou o bote, mesmo que de forma tímida, em cima do espanhol da Yamaha. Piloto muito agressivo, Marc Márquez não utilizou nem 10% de sua gana em defender a posição de Rossi na quinzena passada em Sepang na sua luta com Lorenzo. No meio de polêmica que já entrou para a história, provavelmente Márquez não queria se meter novamente na briga pelo título, fora sua simpatia pela causa 'Lorenziana'. Isso fez com que Pedrosa encostasse na briga entre seus compatriotas e chegou a ultrapassar Márquez, que deu o troco na curva seguinte. Parecia que o acaso do destino que daria o décimo título à Rossi seria uma queda dos dois pilotos da Honda, mas os dois se aquietaram e quem não teve do que reclamar foi Lorenzo, que abriu um pouco mais, respirou um pouco mais aliviado e venceu pela sexta vez no ano, coroando o terceiro título na MotoGP, o quinto no geral.

Jorge Lorenzo se emocionou bastante, encontrou com 'clones' dos outros títulos na pista, mas o respeito que o paddock debitou à Rossi quando este chegou aos boxes chamou atenção. Vários mecânicos, não apenas de outras equipes da MotoGP, como também da Moto2 e da Moto3, aplaudiram o italiano em clara reverência. O que Rossi fez em Sepang foi condenável. Ele caiu na armadilha de Márquez e lhe deu um chute. Mesmo na Espanha, ouviu-se vaias para Márquez. A punição a Rossi tinha que acontecer e ela não foi desmedida, como alguns criticaram. Se tivesse levado a bandeira preta na Malásia, que também seria merecido, Rossi entraria na prova em Valencia com nove pontos de desvantagem para Lorenzo e a forma como espanhol da Yamaha venceu hoje provou que o título ficou em boas mãos. O auge de Rossi, infelizmente, já passou. A paixão do italiano pela Motovelocidade o fez se reinventar e por isso, Valentino fez uma temporada espetacular, marcada pela regularidade, mas também contou com alguns fatos que lhe ajudaram muito, como o clima instável em Silverstone, Misano e Motegi, quando Lorenzo era o piloto mais rápido no seco, mas sucumbiu no molhado. Para sempre a temporada 2015 será lembrada pelo incidente em Sepang, mas assim como ocorreu com Ayrton Senna, esses erros ficarão para trás quando nos lembrarmos da carreira incrível de Valentino Rossi, talvez o piloto, de duas ou quatro rodas, mais carismático dos últimos vinte anos.    

Porém, o campeão foi Jorge Lorenzo. Antipático, chato, um verdadeiro 'nócego', como se diz por aqui, todavia Lorenzo pilota muito. O espanhol não teve uma temporada perfeita, onde teve um início nada auspicioso, seguido por quatro vitórias seguidas, demonstrando bem os altos e baixos de Lorenzo em 2015. No meio da temporada Jorge Lorenzo passou a ter um campeonato mais linear, demonstrando sua pilotagem forte, mas ao mesmo tempo suave, garantindo vitórias, quando intempéries não lhe atrapalharam. A atitude do espanhol da Yamaha depois de Sepang sempre será criticada, assim como sempre foi criticada a forma como Jorge Lorenzo se comporta. Contudo, ninguém poderá negar o talento e a tenacidade desse espanhol de Mallorca, que foi o melhor piloto de 2015 e mereceu o título. 

5 comentários:

  1. E Lorenzo comprovando que calado é um poeta...

    https://twitter.com/movistar_motogp/status/663368468805386240

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  2. E o que os próprios espanhóis estão metendo o pau no Lorenzo nas redes sociais não é mole....

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  3. O cara agora vai ficar ainda mais insuportável do que já é.

    http://www.motorsport.com/motogp/news/lorenzo-i-beat-rossi-in-everything-in-2015/

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  4. eu ainda acho o valentino melhor... este maluco que ganhou é um alonso de duas rodas... (e o puxa saco dele é o webber de duas rodas)

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