Quando a Mercedes começou a temporada 2020 com um carro muito superior às demais, aliado ao declínio de Red Bull e, principalmente, Ferrari, as expectativas para as corridas desse ano são sempre muito baixas, porém, assim como aconteceu no segundo semestre do ano passado, a F1 está até surpreendendo com corridas longe de serem paradas, como a prova em Paul Ricard de 2019. Em Hungaroring, uma chuva que molhou a pista nas primeiras voltas misturou o coreto um pouco, mas para um piloto que está cada dia mais próximo da categoria de lenda viva, isso não chega a ser exatamente um problema. Lewis Hamilton por muito pouco não fez o chamado Grand Chelem, que é vitória, pole, melhor volta e liderança de ponta a ponta. Uma volta liderada por Verstappen impediu isso, mas para alguém que tem tantos números superlativos, Hamilton não deve se importar muito, já que o inglês já assumiu o posto onde sempre este acostumado a estar nos últimos anos: na frente de todo mundo.
O sistema meteorológico húngaro não parece dos mais confiáveis. No sábado havia previsão de 90% de chuva e a classificação se deu com pista seca. Já a previsão para hoje era de apenas 10% de chuva. E hoje choveu. Talvez não o suficiente para atrapalhar Hamilton. O início com piso molhado foi decisivo principalmente para o segundo piloto da Mercedes e único rival de Hamilton esse ano. Bottas largou pessimamente, caindo para sexto na largada, enquanto Hamilton abria 3s de frente para o segundo colocado Stroll na primeira volta para não ser mais visto. O único suspense para Lewis nesse domingo era escolher a hora certa para colocar os pneus slicks e esperar que os pajés húngaros errassem novamente e não voltasse a chuva. E foi exatamente isso que aconteceu. Ainda na terceira volta Hamilton colocou os pneus slicks, os corretos para a ocasião, e houve apenas uma leve garoa no meio da corrida, mas nada que parasse Lewis, que ainda se deu o luxo de fazer uma parada no final da corrida para colocar pneus macios e garantir a melhor volta da corrida na última passagem. Por mais que haja uma torcida para condições traiçoeiras nas corridas, as pessoas se esquecem que Hamilton é um mestre nesse tipo de situação, além de contar com uma equipe entrosada, que raramente erra na estratégia. Hamilton já lidera o campeonato e somente um incidente parecido que afetou Marc Márquez nesse domingo parará o inglês.
A má largada de Bottas fez com que o nórdico tentasse apenas controlar os danos e pelo carro que tem, Valtteri ficou um pouco abaixo do que pode. Ele precisou que a Mercedes antecipasse sua parada para ultrapassar Stroll, já que na pista Bottas não conseguiu, e chegou tarde demais atrás de Verstappen para emular Hamilton no ano passado e efetuar uma ultrapassagem consagradora sobre o holandês nos últimos momentos. Porém, Bottas não é e provavelmente nunca será Hamilton. Por mais que se esforce, Bottas sempre estará um ou mais patamares atrás de Hamilton. Já Verstappen com certeza guardará a corrida de hoje com muito carinho. O domingo do holandês começou de forma dramática quando escapou da pista na volta de alinhamento, quebrando o bico de seu Red Bull afetando a suspensão dianteira esquerda. Haviam dúvidas se Max largaria de sua posição, mas o neerlandês não apenas largou, como conseguiu uma largada espetacular, pulando para terceiro e logo depois da rodada de paradas, ficou em segundo, posição que manteve até o final da prova. Uma corrida para recordar, pois a Red Bull se mostrou um carro desequilibrado em todo o final de semana, condição que deve ter piorado com o toque antes da largada, e Verstappen se manteve a frente da poderosa Mercedes de Bottas por mais da metade da corrida. Já dá para dizer que Verstappen leva o seu carro nas costas. O mesmo não pode ser exigido por Albon, que ainda fez uma corrida de recuperação, subindo de 13º para quinto, se aproveitando de um erro de Vettel no final e conquistando bons pontos no Mundial de Construtores. Afinal, tendo como vizinho de box Max Verstappen, é isso que é esperado de Albon.
A ótima largada dos seus pilotos foi apenas uma ilusão para a Ferrari, que se não bastasse os problemas no conjunto carro-motor, ainda sofre com falhas de estratégia. Quando todos os pilotos foram aos pits colocar pneus slicks, Leclerc foi o único a usar os pneus macios, com a Ferrari acreditando piamente nos pajés húngaros e que a chuva voltaria. Como se sabe, ela nunca voltou e a corrida de Leclerc foi para o brejo, com o monegasco chegando a tomar 6s de um carro da Haas e atrapalhando o ritmo de Carlos Sainz no final, acabando por ser ultrapassado pelo espanhol da McLaren e ficando fora dos pontos. Vettel ainda salvou um sexto lugar, não sem antes cometer um erro nas voltas finais que lhe valeu uma posição para Albon. Dá para dizer que a mira da Ferrari é mesmo os carros de McLaren e Renault, pois Red Bull e Racing Point já parece ser um alvo mais complicado para a trupe de Mattia Binotto. Lance Stroll chegou a sonhar com o pódio, mas o canadense teve que se conformar com uma boa e solitária quarta posição. A péssima largada de Pérez definiu a posição do mexicano para o resto da tarde, deixando-o apenas em sétimo. Muito pouco para quem vê sua posição ameaçada por Vettel em 2021. Contudo, fica bem claro que talvez o ponto fraco da Racing Point fique naquela pecinha entre o volante e o banco dos seus carros. Se Vettel for confirmado, a Racing Point, que se transformará em Aston Martin ano que vem, poderá ter um piloto a altura do seu carro. Isso, se a FIA permitir a cópia descarada do carro da Mercedes.
No meio do pelotão o grande destaque foi o pulo do gato da Haas, que trouxe seus pilotos para os pits ainda na volta de apresentação, colocando pneus slicks em Magnussen e Grosjean, fazendo-os ficar em segundo e terceiro em determinado momento. Óbvio que isso não durou muitas voltas, mas garantiu preciosos pontos com o nono lugar de Magnussen, enquanto Grosjean caiu feito uma pedra jogada do quarto andar, terminando longe dos pontos. Ricciardo levou a Renault ao oitavo lugar e próximo de Pérez, o que julgando o carro que o mexicano tem, foi algo bem impressionante, da mesma forma que impressiona a falta de ritmo de Ocon, promissor piloto que está ficando muito distante de Ricciardo nesse início de ano. A McLaren não conseguiu se aproveitar da pista molhada e seus pilotos perderam muito ritmo, com Sainz salvando um pontinho ao ultrapassar Leclerc nas voltas finais, enquanto Norris esteve longe dos pontos a corrida inteira. Latifi chegou a correr em décimo com pista molhada, mas a Williams saltou o novato canadense na hora errada, tocando em Sainz e furando o pneu de Latifi, que acabou a corrida três voltas atrasado, com Russel logo à sua frente. A dupla da Alfa Romeo, que largou na última fila, conseguiu superar a Williams como a pior equipe no dia magiar, mas só demonstra mais uma vez a falta de ritmo dos carros clientes da Ferrari, valorizando ainda mais os pontinhos de Magnussen pela Haas. Gasly foi o único abandono do dia, com o motor Honda, que já vinha avisando que ia quebrar desde sábado, estregando os pontos na corrida, enquanto Kvyat não foi visto.
A vitória de Hamilton era esperada e ocorreu sem maiores dramas, mas havia potencial de que algo pudesse ocorrer com o inglês, que usou seu gigante talento para driblar as cascas de banana e vencer com tranquilidade, assumindo a liderança do campeonato. O favoritismo da Mercedes permanece intacto, mas as últimas corridas foram mais interessantes do que o esperado, mesmo que da segunda posição para baixo. Verstappen talvez seja o único piloto com estofo para bater de frente com Hamilton, mas enquanto a Red Bull não lhe entregar um carro à sua altura, podemos nos contentar com exibições miraculosas como a de hoje. Bottas está mais para um Heikki Kovalainen do que um Nico Rosberg. E Hamilton agradece.
sobre o Albon: se por acaso ele sofrer a punição por causa da secagem na largada, o que o Russell falou sobre a RBR vai estar totalmente certo sobre o fato de fazerem o Albon de idiota, pq não vejo razão para essa atitude.
ResponderExcluiruma das maiores decepções da corrida foi o Grosjean, de uma otima estrategia de trocar para pneus slicks para terminar em 15º, tá na hora do Steiner colocar o Pietro Fittipaldi ou o Louis Deletraz no lugar dele. (E pensar que o Hulkenberg esta sem vaga e Grosjean continua na F1)