Após o dilúvio de ontem, a corrida na Áustria, hoje conhecida como Estíria, ocorreu com pista seca e sol. Semana passada ocorreram três intervenções do Safety-Car, enquanto hoje o Mercedes AMG de Bernd Maylander só deu as caras uma única vez e na primeira volta, não fazendo qualquer diferença na corrida. O resultado tudo isso? Dobradinha da Mercedes e passeio completo de Lewis Hamilton, que se manteve intocável em primeiro durante toda a prova. Já Bottas teve um pouco mais de trabalho pela posição que largou, tendo que lidar com um sempre combativo Max Verstappen, que mostrou seu enorme talento frente ao finlandês. Já a Ferrari...
A muito provavelmente única corrida na história com o nome Estíria não foi das mais empolgantes, principalmente se comparado ao da semana passada, porém deu para perceber a real distribuição de forças da F1 em 2020. A Mercedes está realmente sobrando frente as rivais, com a Red Bull como única capaz de incomodar os tedescos. E sendo mais específico, apenas a Red Bull de Max Verstappen. O holandês carrega o carro nas costas, enquanto Albon tomou 20s em 22 voltas do companheiro de equipe. O tailandês não chega a ser um piloto ruim, mas está alguns patamares atrás de Max. Racing Point vem logo atrás de Albon, com McLaren e Renault não muito atrás da trupe de Lawrence Stroll. A Ferrari deve estar por ali, mas será falado mais tarde. Depois vem, na ordem, Alpha Tauri, Alfa Romeo, Hass e Williams. A corrida de hoje aconteceu com brigas entre esses pelotões. Lewis Hamilton foi dominante numa das suas vitórias mais fáceis de sua já longa carreira. O inglês da Mercedes poderia colocar o braço para fora do seu carro e escutar um hip hop no rádio, no que se pode afirmar um passeio no parque de Lewis. Hamilton largou bem, se livrou dos rivais e sem os problemas de câmbio que perturbaram os pilotos da Mercedes semana passada, o inglês não foi mais visto até receber a bandeirada em primeiro pela 85º vez na F1, se aproximando do recorde de Michael Schumacher. Se Hamilton não teve maiores problemas para garantir a primeira vitória em 2020, Bottas teve um pouco mais de trabalho para completar a dobradinha da Mercedes. O finlandês largou em quarto e teve que deixar Sainz para trás e se manter a corrida inteira atrás de Verstappen. Prorrogando sua parada, Bottas garantiu que teria pneus em melhores condições nas últimas voltas frente ao piloto da Red Bull, que foi o primeiro dos líderes a parar. Se o engenheiro da Mercedes esperava que Bottas alcançasse Verstappen na última volta, Valtteri fez um pouco melhor e com cinco voltas para o fim já estava ameaçando um Verstappen sem pneus.
Foi então que aconteceu a melhor disputa da corrida, confrontando dois pilotos totalmente diferentes. Enquanto o jovem Verstappen explode em talento e empolgação, Bottas é um piloto frio e pragmático. Com um carro melhor e pneus em melhores condições, Bottas sabia que a ultrapassagem era algo pró-forma, mas Verstappen não entregaria a posição sem briga. Na primeira tentativa, Bottas ultrapassou o holandês, mas Max permaneceu por fora na freada e deu o troco de forma belíssima na curva seguinte. Um espetáculo, mas Bottas atacou na volta seguinte, lembrando de ficar em melhor posição na freada para garantir o segundo lugar e a primeira posição no campeonato. Verstappen ainda tentou uma segunda parada com o intuito de ganhar um ponto pela melhor volta, mas o holandês teve que se conformar com a terceira posição e sem ponto extra. Como falado anteriormente, Albon ficou mais próximo do pelotão intermediário do que correr junto dos pilotos de ponta. Nas voltas finais o anglo-tailandês foi atacado por um empolgado Sérgio Pérez, que saiu das últimas posições para ser quinto nas voltas derradeiras. Pérez chegou a marcar a melhor volta algumas vezes, mas o já experiente piloto acabou cometendo um erro de principiante na penúltima volta, batendo em Albon e quebrando a sua asa dianteira. Curiosamente, no mesmo local onde Albon foi rodado por Hamilton uma semana antes, mas dessa vez Albon se deu melhor e conseguiu um suado quarto lugar. Porém, a diferença entre os dois pilotos da Red Bull é uma das maiores da F1 atual.
Se Sergio Pérez perdeu um ótimo quarto lugar, Lance Stroll não foi muito diferente em termos de pontos perdidos. Após ser ultrapassado por Pérez, Stroll ficou mais de vinte voltas empacado atrás da Renault de Daniel Ricciardo, não conseguindo a ultrapassagem mesmo sendo nítido a vantagem de carro. Contudo, mais uma vez, a diferença de pilotos apareceu em Spielberg. Lando Norris, que passou o final de semana reclamando de dores nas costas, partiu para cima de Stroll e Ricciardo, não tomando conhecimento dos dois. Para melhorar, Norris ainda alcançou Pérez na última curva da corrida para ser quinto, enquanto o mexicano superou Stroll por menos de um décimo na bandeirada. A Racing Point tem um bom carro em mãos, mas talvez esteja faltando ter pilotos melhores para fazer ótimas apresentações como a de Norris, que mais uma vez se destacou vindo mais atrás, enquanto Carlos Sainz garantiu mais um ponto com a melhor volta da corrida, confirmando a ótima fase da McLaren, nesse que pode ser um recomeço para a tradicional equipe. A Renault viu Ocon fazer uma boa corrida enquanto esteve na prova, mas o francês acabou abandonando. Ricciardo sentiu na pele o que é anunciar que está saindo da equipe. Mesmo com mais ritmo do que Ocon, Ricciardo teve que superar o companheiro de equipe na pista, sem ajuda da Renault, que apenas assistia os dois perderem tempo frente aos rivais. Gasly passou o primeiro stint no top-10, mas acabou perdendo tempo na sua parada e ritmo na corrida e quem fechou a zona de pontuação foi Kvyat. Haas e Alfa Romeo, filiais da Ferrari, passaram a corrida brigando entre si, mas numa corrida sem tantos abandonos, estiveram longe de batalhar por pontos, com Raikkonen usando a sua experiência para vencer esse duelo particular. A Williams viu George Russell sair da pista ainda no começo da prova, o que significou a Williams fechar a corrida com seus carros em penúltimo e último.
O ritmo ruim de Haas e Alfa Romeo dá uma boa amostra de quão mal vão as coisas com o motor Ferrari, hoje o pior da F1, para desespero dos mais puristas, acostumados com a Ferrari mostrando muita potência, mesmo que sem muito controle. Porém, mais sem controle está Mattia Binotto. Antes da corrida o capo da Ferrari já falava que o desempenho da escuderia no sábado não dignificava o tradicional nome Ferrari, mas as coisas piorariam na corrida. Ou na primeira volta. Numa tentativa no mínimo otimista de Charles Leclerc, o monegasco acabou acertando no meio do Vettel, destruindo a asa traseira do alemão, que abandonou imediatamente, nos boxes. Com o fundo do carro bastante avariado, Leclerc desistiu pouco tempo depois, numa atuação horrorosa da Ferrari. Na última vez que os dois carros da Ferrari bateram na primeira volta, em Cingapura/2018, Vettel e Raikkonen brigavam pelas primeiras posições, enquanto hoje Vettel e Leclerc estavam no meio do pelotão, onde esse tipo de coisa fica fácil de acontecer. Leclerc admitiu a culpa e aparentemente entre os pilotos as coisas não estão muito diferentes, no entanto, para a cúpula da Ferrari, fica cada dia mais complicado explicar o time perder 1s numa pista curta como Red Bull Ring de um ano para o outro, além de ter o pior motor do ano, lembrando que a Ferrari escapou de uma punição da FIA justamente por suspeitas de que propulsor italiano do ano passado teriam irregularidades, suspeita essa que aumenta com a falta de velocidade final não apenas da Ferrari, como também de Haas e Alfa Romeo.
Próxima semana teremos uma pista bem diferente, com Hungaroring sendo um circuito travado e muito pouco utilizado durante o ano. Talvez a Ferrari possa evoluir e não passar tanto vexame, como hoje. O que não deve mudar é o domínio da Mercedes. Numa corrida normal, Hamilton não enxergou adversários e com a confiança em alta, depois da volta espetacular da classificação de ontem, o inglês se manteve intocável a corrida inteira, porém, o líder do campeonato ainda é Valtteri Bottas. Resta saber até quando o nórdico segurará essa liderança.
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