No final dos anos 70, a Grã-Bretanha vivia uma espécie de seca de pilotos, afora James Hunt. Vários pilotos bretões chegavam à F1, mas não faziam o mínimo de sucesso. Mesmo irlandês Derek Daly faz parte dessa leva de pilotos que não obtiveram grande sucesso no automobilismo, mesmo tendo que fazer vários sacrifícios para começar a correr e sofrer um sério acidente nos Estados Unidos, praticamente colocando um fim na sua carreira. E falando no país da América do Norte, Daly ficou tão ligado aos Estados Unidos, que se naturalizou e hoje vive em Los Angeles. Um dia após completar 55 anos de idade, vamos ver um pouco da carreira deste discreto piloto irlandês.
Derek Daly nasceu no dia 11 de março de 1953 em Dundrum, nas proximidades de Dublin, na Irlanda. Daly começou sua carreira no automobilismo de forma tardia e no turismo, conquistando o Campeonato Irlandês de Stock-Cars em 1972. Sem muito dinheiro para financiar sua carreira no automobilismo, Daly tomou uma decisão estranha para continuar correndo: se mudou para a Austrália para trabalhar em minas de ferro. Com o dinheiro amealhado na Oceania, Daly voltou à Inglaterra para disputar o Campeonato Inglês e Irlandês de F-Ford, com Derek vencendo seu campeonato nativo. Porém, sua maior atuação foi em um Festival de F-Ford em Brands Hatch realizado em 1976. O campeonato, conhecido como "Tribute to James" em homenagem ao título conquistado por James Hunt, foi realizado debaixo de um temporal e contou com dezenas de jovens pilotos. À bordo de um chassi Hawke, Daly venceu todas as baterias classificatórias e a final, se tornando campeão do Festival.
Isso chamou a atenção do chefe de equipe Derek MacMahon, que o contratou para disputar o Campeonato Inglês de F3 em 1977, à bordo de um Chevron B38. Disputando o campeonato com um certo Nelson Piquet, Daly venceu um dos dois campeonatos realizados naquele ano após vencer as últimas cinco provas daquele campeonato. A carreira do irlandês avançava de forma impressionante e Daly é contratado pela equipe oficial da Chevron para disputar o Europeu de F2. Numa equipe forte, Daly se torna um dos protagonistas do campeonato de 1978 e vence duas provas (Mugello e Vallelunga), fechando o certame numa surpreendente terceira posição, logo atrás do campeão Bruno Giacomelli e do vice Marc Surer. As boas exibições de Daly chamam a atenção da equipe Hesketh na F1, mas a equipe já não era mais a mesma e Daly não conseguiu se classificar nas três corridas que fez pela equipe. Então a Ensign, que era ligeiramente melhor do que a Hesketh, o contrata no meio de 1978 e o irlandês faz sua estréia na F1 no Grande Prêmio da Inglaterra, em Silverstone. Na última etapa do ano, Daly consegue um suado sexto lugar, após brigar a corrida inteira com Didier Pironi, e conquista seu primeiro ponto na F1.
Em 1979, Daly resolve correr tanto na F1 como na F2. Na categoria de base, o irlandês passa a ser subalterno de Ron Dennis na equipe Project Four, que tinha a ótima combinação March-BMW. Daly faz um campeonato bastante regular, conquistando vários segundos lugares, mas quando a F2 chegou para a corrida decisiva em Donington Park, Daly já não tinha mais chances de ser campeão. Porém, o irlandês influenciou decisivamente no campeonato ao vencer a última prova do ano e o título acabou ficando com o suíço Marc Surer. Já na F1, Daly sofria com os momentos agonizantes da Ensign, que mal conseguia classificar seu carro para o grid das corridas de 1979. Porém, Jean-Pierre Jarier não pôde participar do Grande Prêmio da Áustria por causa de problemas de saúde e Daly foi chamado para substituir o francês na equipe Tyrrell. Mesmo em um momento descendente em sua história na F1, a equipe de Ken Tyrrell ainda era respeitável e Daly fez uma prova sólida em Zeltweg, conquistando um bom oitavo lugar. Sempre interessado em jovens pilotos, Ken Tyrrell se impressionou com Daly e o contratou para a temporada 1980, sendo que o irlandês participou de duas provas pela Tyrrell ainda em 1979 com um terceiro carro.
O ano de 1980 começou extremamente promissor para Derek Daly, quando ele conquistou um ótimo quarto lugar na primeira etapa do ano, na Argentina. Foi uma corrida de sobreviventes, onde o forte calor argentino fez com que vários carros deixassem a disputa e Daly teve a paciência de conseguir seu melhor resultado na carreira, mesmo largando em vigésimo segundo. Contudo, o Tyrrell 010 estava longe de ser o melhor carro do pelotão e, além disso, o modelo era bastante irregular e quebrava bastante. Aliado a isso, Daly sofreu dois acidentes que entraram para a história da F1. O primeiro foi na largada do Grande Prêmio de Mônaco, quando Daly acertou a traseira da Alfa Romeo de Giacomelli, saiu voando e pousou na traseira da outra Tyrrell de Jean-Pierre Jarier. Ninguém saiu ferido e Daly ainda repetiu a quarta posição no Grande Prêmio da Inglaterra um mês depois. Então, durante o Grande Prêmio da Holanda, Daly vinha fazendo uma corrida discreta quando o disco de freio do seu Tyrrell explodiu bem no momento da freada para a curva Tarzan, no final da reta dos boxes em Zandvoort. O carro foi lançado a alta velocidade em cima das barreiras de pneus, voou alto e caiu no outro lado das barreiras. O acidente parecia sério, mas incrivelmente Daly estava ileso e pronto para outra.
Mas não seria na Tyrrell! Após o quarto lugar em Silversonte, Daly simplesmente não completou uma única prova em 1980 e foi dispensado no final do ano, se transferindo para a equipe March. A equipe conseguia ser bem pior do que a Tyrrell e Daly não pontuou em 1981, ficando várias vezes de fora do grid durante aquele ano. Sem grandes perspectivas para 1982, Daly se transferiu para a equipe Theodore em 1982 e o ano tinha tudo para ser como os anteriores, já que a Theodore era do mesmo nível das equipes que Daly tinha conseguido anteriormente. A carreira de Daly caminhava para a mediocricidade, quando a grande chance de sua carreira bateu à sua porta.
Carlos Reutemann estava furioso com a Williams por a equipe ter o deixado perder o campeonato de 1981, mas ainda assim o argentino permaneceu na equipe em 1982. Reutemann participou das duas primeiras etapas, conseguindo até mesmo um pódio na África do Sul, mas após a corrida no Brasil, o argentino declarou que estava se aposentando da F1. Dizem às más-línguas que Reutemann fez essa manobra de propósito, com o intuito de prejudicar a Williams e deixar a equipe inglesa sem piloto. Após usar Mario Andretti como paliativo em Long Beach, a Williams surpreendeu ao trazer Derek Daly como companheiro de equipe de Keke Rosberg. Era a primeira equipe grande do irlandês, mas ele seria claramente o segundo piloto de Rosberg. Porém, isso não proibiria de Daly conseguir bons resultados. Após estrear sem grande brilho na Bélgica, Daly faria sua segunda corrida pela equipe em Mônaco. No principado, Prost partia para uma vitória tranqüila e consagradora pela Renault, na frente dos seus compatriotas, mas uma leve garoa pôs tudo a perder e o francês sofreu uma forte rodada faltando três voltas para o fim. Riccardo Patrese assumiu a liderança e após colocar mais uma volta na Arrows de Marc Surer na Mirabeau, o piloto da Brabham rodou bizonhamente no Hairpin Loews faltando duas voltas. Didier Pironi abriu a última volta na liderança, mas sua Ferrari estava com problemas elétricos e sem o bico, arrancado pela Lotus de Elio de Angelis mais cedo. Quando o francês se aproximava do túnel, sua Ferrari parou sem combustível. Andrea de Cesaris era o segundo, mas deixou sua Alfa Romeo seu combustível na Subida do Cassino.
Quem sobrara? Derek Daly! O irlandês tinha rodado no início da prova e passou toda a corrida sem a asa traseira e com parte do câmbio em pendurada, soltando óleo todo tempo. Na última volta, quando vinha não muito atrás de Pironi e De Cesaris, o câmbio quebrou de vez e o sonho maluco da primeira vitória na F1 acabou para Daly. Afinal de contas, quem venceu a corrida em Monte Carlo foi Patrese. Com um bom carro nas mãos, Daly consegue marcar pontos regularmente, mas Rosberg brigava pelo título e na última prova do ano, em Las Vegas, Daly largou com um único objetivo: ser o escudo de Keke Rosberg. E o irlandês assim o fez, terminando sua última prova na F1 na sexta posição e vendo Rosberg ser campeão. Mesmo com o bom trabalho na Williams, Daly não teve o contrato renovado e foi substituído pelo francês Jacques Laffite. Derek Daly acabou sua carreira na F1 com 49 Grandes Prêmios, 15 pontos marcados e a décima terceira posição no campeonato de 1982 como melhor resultado.
Os planos de Daly já estavam traçados desde 1982 e se consolidou no ano seguinte. A CART começava a dar os primeiros sinais de crescimento e atraía, mesmo que timidamente, alguns pilotos europeus, como foi o caso de Teo Fabi. Derek fez suas primeiras corridas ainda em 1982 pela equipe Wysard, participando principalmente em corridas em circuitos mistos. Ainda na mesma equipe, Daly participa de todo o campeonato de 1983, inclusive estreando nas 500 Milhas de Indianápolis, mas a equipe é pequena e Daly pouco faz no campeonato. Em 1984 o irlandês se muda para a equipe Provimi e logo na estréia consegue ficar na primeira fila em Long Beach. Porém, Daly nunca se adapta totalmente aos ovais e seus bons resultados se resumem aos circuitos mistos, como o quarto lugar em Portland e o sexto lugar em Cleveland. Após a etapa realizada no autódromo improvisado em um aeroporto, a Cart vai correr no superspeedway de Michigan. Durante os treinos, Daly sofre um seríssimo acidente e a frente do seu carro é totalmente arrancada. Suas pernas são terrivelmente quebradas. Daly teve que passar três anos fazendo fisioterapia e não foi mais o mesmo piloto em monopostos, fazendo sua última corrida na CART em 1989.
Depois disso, Derek Daly passou a disputar corridas de endurance, conquistando um quarto lugar com a Jaguar nas 24 Horas de Le Mans e duas vitórias nas 12 Horas de Sebring pela Nissan. Daly se aposentou das corridas em 1992 e fixou residência nos Estados Unidos, inclusive se naturalizando americano. Durante muitos anos Daly comentou F1 para os Estados Unidos pela ESPN e pelo canal Speed e hoje é extremamente respeitado entre os jornalistas especializados. Porém, Daly deve se lembrar com mais saudades dos tempos em que era uma promessa no automobilismo e lutou roda a roda com pilotos como Nelson Piquet.
Parabéns!
Derek Daly
Essa de trabalhar nas minas para pagar a sua carreira automobilistica não lembra a ninguém... Bela bio!
ResponderExcluirJá agora, eis um video excelente sobre a história da Formula 1:
http://www.youtube.com/watch?v=1pZWno8pEeo
Fiz um post e tudo! Que queres, fiquei fã...
Olha, concordo com o Speeder, suas biografias são muitos boas mesmo.
ResponderExcluirAbraço e valeu por me ensinar sobre estes dois pilotos que eu não conhecia.
Sabia que Merzario e Daly faziam aniversário no mesmo dia,então quando dei uma passada e vi a biografia do Merzario logo pensei:"pô será que vai ter do Derek Daly?"... E não deu outra
ResponderExcluirContinue fazendo essas biografias,elas são excelentes!!!
Abraço.