segunda-feira, 31 de março de 2008

O Pato


Assim como ocorria nas corridas em quatro rodas, a Inglaterra também produzia grandes pilotos de moto. Geoff Duke foi uma das primeiras estrelas do recém-criado Mundial de Motociclismo nos idos da década de 50 e foi o primeiro motociclista a ser considerado um "superstar". Duke foi o precursor das roupas de couro para os pilotos de moto e também participou ativamente de uma greve de pilotos, que acabou o prejudicando na briga por mais um título Mundial. Que, por sinal, foram muitos. Completando 85 anos na semana passada, vamos olhar um pouco a carreira deste grande piloto do começo do Mundial de Motovelocidade.

Geoffrey Ernest Duke nasceu no dia 29 de março de 1923 em St. Helens, em Lancashire, Inglaterra. Duke começou a correr de motos logo após a Segunda Guerra Mundial e seu nome ganhou destaque quando ele venceu pela primeira vez uma corrida do TT Inglês na Ilha de Man, em 1949. Isso chamou a atenção da Norton, que contratou Duke para a temporada de 1950 do recém-criado Mundial de Motociclismo, que tinha sido iniciado no ano anterior. Duke participaria logo de cara na categoria principal do novo Mundial, as 500cc, e teria que enfrentar entre outros pilotos o atual campeão Leslie Graham da AJS e os italianos Nello Pagani e Umberto Masetti da Gilera. Porém, logo na estréia no Mundial, Duke surpreendeu ao vencer sua segunda corrida na Ilha de Man e superar as feras de então. Com apenas 26 anos de idade, Duke se tornava uma das estrelas do Mundial e favorito ao título, mas dois problemas mecânicos nas duas etapas seguintes em Spa e Assen atrapalharam sua caminhada rumo ao título e mesmo conseguindo outras duas vitórias no Grande Prêmio de Ulster e no Grande Prêmio das Nações em Monza, Geoff perdeu o título para Umberto Masetti por apenas um ponto.

Duke também participou do campeonato das 350cc em 1950 e da mesma forma do Mundial das 500cc, o inglês perdeu o campeonato para o seu compatriota Bob Foster, da Velocette, por poucos pontos. Porém, estava claro todo o talento de Duke e o britânico venceu ambos os campeonatos em 1951 com quatro vitórias nas 500cc (Ilha de Man, Spa, Assen e Ulster) e cinco nas 350cc (Ilha de Man, Spa, França, Ulster e Monza) e com os dois títulos, ele foi nomeado o Desportista do Ano na Inglaterra. Duke seguia como favorito a vencer os dois campeonatos em 1952, mas ele sofreu um sério acidente numa corrida fora do campeonato no meio do ano, o deixando de fora de algumas etapas do Mundial. Se o título das 500cc foi perdido para Umberto Masetti, nas 350cc Duke se aproveitou das quatro vitórias seguidas nas quatro primeiras etapas para faturar o bicampeonato.

Geoff já tinha percebido que a Norton não tinha uma moto suficientemente boa para enfrentar as Gilera, que evoluía ano a ano, e por isso escandalizou o Mundial ao ir para a marca italiana em 1953, depois de ter derrotado, praticamente sozinho, a mesma Gilera nos anos anteriores. Outro receio dos seus rivais na época era o resultado de juntar o melhor piloto com a melhor moto. E o resultado não podia mesmo ser outro. Duke venceu o campeonato com quatorze pontos de vantagem sobre seu companheiro de equipe, o irlandês Reg Armstrong, com quatro vitórias (Assen, Rouen, Brno e Monza). Com esse resultado, Geoff Duke foi premiado com a Ordem do Império Britânico. A dominação continuou em 1954, com Duke conseguindo o dobro de pontos do vice-campeão Ray Amm da Norton. Infelizmente Amm morreria no início de 1955, num acidente no autódromo de Ímola.

Após dois anos relativamente tranqüilos para Duke, a coisa começou a engrossar a partir de 1955. Mesmo conquistando o título nesse ano, Duke recebeu uma relativa pressão do seu companheiro de equipe Reg Armstrong e outro fator era o crescimento da MV Agusta, nas mãos do seu velho rival Umberto Masetti, que vencera a última etapa de 1955 em Monza. Contudo, nem tudo foram espinhos para Duke, que foi considerado o primeiro piloto (ou louco...) a conseguir uma média de 160 km/h no circuito da Ilha de Man. Porém, como a média conseguida por Duke foi de 99.97 mph (160,94 km/h), na história o primeiro piloto a andar numa média acima das 100 mph foi creditado a Bob McIntyre, da Gilera, em 1957.

Durante a corrida na Ilha de Man de 1956, Geoff Duke liderou uma greve de pilotos, que reivindicava um aumento na premiação aos pilotos privados. Como resultado desse levante, Duke foi suspenso pela FIM (Federação Internacional de Motocilismo) por seis meses e praticamente abdicou de disputar o campeonato e abriu o caminho do título para um jovem piloto inglês da marca italiana MV Agusta: John Surtees. Duke só marcou pontos pela vitória no Grande Prêmio da Itália em Monza e terminou o campeonato apenas na sétima posição. Assim como tinha ocorrido no ano anterior, 1957 acabou para Geoff Duke antes mesmo de começar a temporada, ao sofrer um sério acidente numa corrida fora do Campeonato Mundial, antes mesmo de começar o certame e Duke ficou quatro provas de molho. Embora conseguisse um terceiro e um segundo lugares nas duas últimas provas do campeonato de 1957 e terminasse em quinto lugar no Mundial, Duke sentia a idade chegando e via em John Surtees um competidor forte e, principalmente, jovem demais para ele.

Geoff resolve sair da Gilera no final de 1957 e se junta a BMW no Mundial das 500cc e retorna à Norton para o Mundial das 350cc. Porém, a MV Agusta e John Surtees dominaram as duas categorias naquele ano e tudo que Geoff pôde fazer foi conseguir uma vitória em cada categoria durante o ano, terminando em terceiro lugar em ambos os Mundiais, se tornando o melhor piloto a não ter uma MV Agusta nas mãos. Após abandonar a BMW na metade de 1958, Geoff Duke participou pela última vez de uma temporada completa no Mundial de Motovelocidade em 1959, de volta à Norton. No final do ano, Geoff Duke resolveu abandonar sua gloriosa carreira de dez ano no Mundial de Motovelocidade com um cartel de 86 Grandes Prêmios (64 nas 500cc, 16 nas 350cc e 6 nas 250cc), 33 vitórias (22 nas 500cc e 11 nas 350cc), 50 pódios (32 nas 500cc, 17 nas 350cc e 1 nas 250cc) e seis Campeonatos Mundias (1951, 53, 54 e 55 nas 500cc e 1951 e 52 nas 350cc).

Após sua aposentadoria, Duke tentou correr em automóveis e em 1961 chegou a se inscrever para o Grande Prêmio da Alemanha de 1961, com um Cooper-Climax, mas não largou. Em 1963 ele fundou a equipe a Scuderia Duke, em que competia com motos Gilera contra as então imbatíveis MV Agustas e teve como piloto, ainda no início da carreira, o jovem Phil Read. Após vencer cinco corridas na Ilha de Man, Geoff Duke foi homenageado ao dar o seu nome a uma das curvas do Circuito da Montanha. Quase cinqüenta anos após ser suspenso pela FIM, a mesma entidade o elegeu como uma "Lenda dos Grandes Prêmios" em 2002 e hoje Duke curte uma aposentadoria tranqüila, após ter se tornado um próspero homem de negócios quando abandonou definitivamente às pistas também como chefe de equipe. Porém, o que Duke deve ter mais saudades são das suas disputas na Ilha de Man contra pilotos como Masetti e Surtees.

Parabéns!
Geoff Duke

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