segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

"Fui demitido"

Foi com essa frase simples, triste e direta, como é característica dele, Bernie Ecclestone anunciou ao mundo que está deixando a F1 nessa segunda-feira, causando um choque na categoria similar à decisão de Nico Rosberg se aposentar cinco dias depois de ser campeão.

Bernie é do tipo em que ninguém fica indiferente do que ele fez na F1. Mesmo quem o detrata, é impossível não reconhecer seus méritos em transformar a F1 numa diversão de ricos aristocratas (primeiro correndo, depois como donos de equipe) num evento que pode ser comparado como uma Copa do Mundo a cada quinze dias pelos circuitos do mundo inteiro.

Homem muito à frente do seu tempo nos aos 1970 e 1980, Ecclestone soube usar de muita política, sagacidade e inteligência para fazer com que as equipes da F1 se unissem e conseguissem o máximo possível de dinheiro de todos os meios possíveis na época (TV, patrocinadores e promotores de corrida). A F1 se tornou um show impressionante em todo o mundo, atraindo a atenção de fãs e grandes montadoras, que construíam os carros mais evoluídos tecnologicamente da ocasião para que os melhores pilotos do mundo se digladiassem pelos grandes circuitos do globo, na frente de milhões de espectadores e, principalmente, telespectadores. Tudo isso com a liderança de Bernard Charles Ecclestone.

Porém, Bernie não soube fazer algo que todo homem de negócios à frente de uma plataforma milionária há tanto tempo faz: se reciclar. Quando chegou os anos 2000, houve a massificação da Internet e com isso, veio às Redes Sociais e as transmissões por streaming. Ecclestone ignorou solenemente essas novidades, enquanto outros esportes, até mesmo motorizados como a MotoGP e Nascar, souberam utilizar muito bem dessas plataformas. Ecclestone respondia sempre que as equipes estavam felizes, pois ganhavam cada vez mais dinheiro. A visão já míope de Bernie não percebia que tirar corridas da França, Alemanha, Portugal e Argentina e levar à países sem nenhuma tradição automobilística, mas com muito dinheiro para ter uma corrida de F1 fazia muito mal para a própria categoria. Pode perguntar a qualquer piloto e equipe se eles preferem correr em Monza, Spa, Interlagos e Suzuka ou Sepang, Baku, Abu Dhabi e Bahrein. Bastou o México voltar ao calendário com seus torcedores fanáticos para que se tornasse uma das corridas mais populares do calendário. Das provas novas, a única que realmente pegou foi Cingapura.

A ganância por dinheiro fez com que o veterano dirigente fosse engolido pelo próprio monstro que ele criou, acontecendo o mesmo com Ron Dennis faz pouco tempo na McLaren. A Liberty, nova proprietária da F1, tem uma mentalidade americana e basta olhar ligas como NFL e NBA para ver como elas fazem com que as suas franquias trabalhem para ter jovens torcedores para que consumam seus produtos por muitos anos e que haja uma maior igualdade possível entre elas, criando várias regras para isso. Não há surpresa do famoso bônus da Ferrari por longevidade esteja na berlinda pelos novos donos da F1.

Ecclestone era totalmente o oposto o que pregava a Liberty. Ecclestone levou à F1 a ser um evento mundial, mas parou no tempo e com seus 85 anos de idade, se tornou uma figura anacrônica, passando para o folclórico com suas declarações cada vez menos populares. Sinceramente esperava escrever sobre a saída de Ecclestone do posto de chefão da F1 quando Bernie morresse, pois nunca imaginei o inglês fora da F1, mas com essa nova surpresa, Ecclestone será presidente honorário da F1, o que significa em bom português o cargo de Rainha da Inglaterra da F1. O futuro nos dirá o que acontecerá com a F1, de como os intricados contratos feitos por Ecclestone serão revistos pela Liberty. Para os detratores, vale uma lembrança: se não fosse por Bernie Ecclestone, dificilmente esse blog existiria e discutiríamos sobre F1.

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