quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Johnny

Uma carreira curtíssima, mas com um potencial enorme que foi jogado fora quando um pequeno acidente afetou a visão desse francês que pode ser chamado do antecessor de François Cevert no quesito beleza e charme. Johnny Servoz-Gavin era um piloto cosmopolita e que frequentava a alta sociedade francesa, mas principalmente o jovem francês apadrinhado pela Matra tinha um potencial enorme para ser o francês a ser campeão do mundo, o grande projeto da Matra no final dos anos 1960, mas por variados motivos, Servoz-Gavin não esteve sequer perto de alcançar isso. Se estivesse vivo, Johnny estaria completando 75 anos e por isso, vamos conhecer um de um piloto que poderia ter conquistado muito.

Georges-Francis Servoz-Gavin nasceu no dia 18 de janeiro de 1942 em Genoble, no sopé dos Alpes franceses, durante a ocupação nazista de sua França natal. Vindo de uma família com boas condições, Servoz-Gavin desde cedo se interessa em esportes de elite e como morava próximo aos Alpes, seu primeiro esporte foi o esqui, onde chegou a se tornar instrutor, quando jovem. Seu apelido Johnny veio dessa época, pois quando esquiava, uma série de mocinhas o chamava de 'Johnny', enquanto suspiravam pelo rapaz. Além do esqui, Johnny também se apaixona pelo automobilismo, começando a disputar pequenas corridas locais, além de provas de Subida de Montanha, bem populares na Europa nos 1960. Pensando em melhorar sua pilotagem, Servoz-Gavin se matricula na famosa escola de pilotagem em Magny-Cours, mas passa pouco tempo na escola. Em 1965 ele compra um Brabham e participa do Campeonato Francês de F3, onde se acidenta bastante, mas chama a atenção da equipe Matra. A montadora francesa tinha um projeto nacionalista de ser campeão na F1 com um carro francês pilotado por um francês. A Matra foi evoluindo aos poucos, participando da F3, F2 até chegar à F1 sempre com carros próprios. Além de evoluir tecnicamente, a Matra estava ávida em encontrar bons pilotos franceses e o jovem Servoz-Gavin estava dentro do perfil do qual a equipe procurava.

Ao lado de Jean-Pierre Beltoise e Henri Pescarolo, Servoz-Gavin estreou na equipe muito bem na F3, vencendo o certame francês de 1966. Atlético e charmoso, Johnny circulava ativamente em festas sofisticadas e sua vida pouco condizendo a um atleta o atrapalhou em alguns momentos, mas em 1967 o francês subiu para a F2 na equipe oficial da Matra. Companheiro de equipe de Beltoise e Pesacarolo na Matra Sports, Servoz-Gavin consegue um bom sexto lugar no seu campeonato de estreia, vencido por Jacky Ickx na Matra International, alcançando um segundo lugar em Jarama. Ainda em 1967, Johnny faz sua estreia na F1 no Grande Prêmio de Mônaco, onde a Matra participou com um carro de F2 adaptado e Servoz-Gavin abandona discretamente, mas ele deixaria sua marca um ano depois. Servoz-Gavin seria uma espécie de piloto de testes da Matra na F1, que se dividiu em dois em 1968. Num acordo com Ken Tyrrell, a Matra International usaria o chassi Matra, mas teria os motores Ford-Cosworth, enquanto a Matra Sports seria a ponta de lança do projeto da montadora francesa, usando os famosos motores Matra V12, que tinha o ruído mais bonito da história do automobilismo. Porém, a beleza do ruído não era garantia de sucesso e o time de Ken Tyrrell, tendo Jackie Stewart como piloto principal, teria bem mais sucesso durante o ano. Porém, Stewart se acidenta numa corrida de F2 e tem o pulso machucado, fazendo-o perder o Grande Prêmio de Mônaco. Servoz-Gavin é chamado para substituir o escocês e numa das poucas pistas em que o francês conhecia, ele consegue um impressionante segundo lugar no grid. E de forma ainda mais surpreendente, Johnny assume a ponta da corrida em sua segunda prova de F1 na carreira! A jovialidade fez com que a liderança de Servoz-Gavin fosse efêmera, quando ele bateu de leve na Mirabeau e abandonou ainda no começo da corrida.

Mesmo com o sucesso de Beltoise e Pescarolo na F2, a Matra parecia que tinha achado o piloto que lideraria a equipe rumo ao sonhado campeonato. A impressionante exibição de Servoz-Gavin tinha deixado todos impressionados e o francês ficou um pouco 'guardado' durante 1968, ganhando experiência em testes. Nas provas finais daquela temporada, Servoz-Gavin apareceria como companheiro de equipe de Jackie Stewart na Matra International e o francês faria outra corrida incrível, garantindo um segundo lugar em Monza. Ao contrário do imaginado, a Matra colocou Johnny na F2 em 1969 e o francês não decepcionou, garantindo o título numa luta acirrada com o alemão Hubert Hahne, na BMW. Ainda como piloto de testes da Matra, Servoz-Gavin não ficou totalmente longe da F1 e testou a tentativa da Matra em dar o pulo do gato com o modelo MS84 de tração nas quatro rodas, mas o protótipo não prosperou e o francês só garantiu um minguado sexto lugar no Canadá. Porém, mesmo com esses resultados, o futuro parecia glorioso para Johnny Servoz-Gavin. Ken Tyrrell se separa da Matra e leva consigo Servoz-Gavin, que seria o companheiro de equipe do então campeão Jackie Stewart. Porém, um acidente pôs tudo a perder.

Durante um evento no inverno de 1969-70, Servoz-Gavin sofre um acidente e seu olho esquerdo foi atingido por um galho. O francês começa a temporada de F1 de forma normal com o seu March azul, inclusive marcando dois pontos com um quinto lugar em Jarama. Porém, o piloto excepcional que havia deixado todos de queixo caído em Monte Carlo dois anos antes deu lugar a um piloto inseguro. Quando Johnny bateu no guard-rail na mesma Monte Carlo durante os treinos, o francês de 28 anos surpreendeu novamente quando anunciou sua aposentadoria precoce, por causa das dificuldades com o seu olho esquerdo. Foram apenas 11 corridas, um pódio e nove pontos marcados.

Ken Tyrrell não perdeu muito tempo e seguindo a indicação de Stewart, contrata outro francês charmoso e muito rápido chamado François Cevert. Johnny Servoz-Gavin teve uma carreira muito curta, mas que deixou mais dúvidas do que certezas. O que esse francês poderia ter feito, após mostrar tanto potencial? Ninguém nunca poderá responder. Servoz-Gavin saiu totalmente do automobilismo, mas não se pode dizer que ele tornou-se uma pessoa amargurada, vivendo num iate pelo Mediterrâneo. Em 1982 um acidente no seu barco quase o matou, mas o coração de Johnny Servoz-Gavin começou a fraquejar e em 2006, aos 64 anos de idade, ele faleceu na sua Genoble de embolia pulmonar. 

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