domingo, 8 de janeiro de 2017

Julgando pela capa

Esse final de semana foi marcado para quem acompanha a F1 por declarações polêmicas de Fernando Alonso sobre a F1 atual e do passado. O espanhol foi entrevistado pela revista britânica Autosport e comparou a F1 atual com o auge de sua atual equipe, a McLaren. “A F1 era muito chata naquela época. Se você assistir agora a uma corrida de 1985, 1988 ou 1992, você vai dormir durante a corrida porque nela só estavam as McLaren, o quarto colocado levava uma volta e havia 25s entre cada carro. Havia dez carros abandonando porque a confiabilidade não era boa.”

Foi o que bastou para o espanhol ser execrado em praça pública. Ou virtual. Muitos portais e sites de notícias noticiaram apenas que 'Alonso diz que época de Senna e Prost era chata' no título da reportagem, fazendo com que muitas pessoas criticassem Alonso sem ler ou entender o que ele quis dizer. E basta fazer o que Fernando fez (assistir corridas antigas) para ver que o atual piloto da McLaren não falou nenhum absurdo.

Os atuais fãs da F1 tendem cada vez mais mitificar outras épocas da categoria, tendo a impressão que as corridas eram sempre boas e emocionantes, com brigas pela vitória até a última volta, mas basta assistir essas corridas completas (e no youtube se acha fácil e com narração em português) para ver que isso não era totalmente verdade. E nos anos que Alonso relacionou, discordo de 1985, onde houveram corridas muito legais e a McLaren não dominou, mesmo com Prost tendo quebrado o recorde de pontos de Jim Clark de 1963.

Muitas pessoas apenas focaram em 1988, onde houve a famosa disputa pelo título entre Senna e Prost, onde a McLaren dominou de forma absurda aquela temporada, só não ficando com o 100% de vitórias por uma precipitação de Senna nas últimas voltas do Grande Prêmio da Itália. Porém, tirando o alto nível de disputa entre os dois grandes campeões, a grande maioria das corridas foram... chatas. Ao contrário do imaginado pelos leigos, Senna e Prost tiveram uma temporada, digamos, tranquila em 1988, sem muitas disputas diretas entre eles. Alguém pode me corrigir (e estejam à vontade), os dois pilotos da McLaren só brigaram diretamente pela vitória naquela temporada no Canadá, França, Hungria, Portugal e Japão. Nas demais corridas, foi um massacre. As corridas eram vencidas por 30, 40s de vantagem sobre o segundo colocado, enquanto o primeiro não-McLaren estava muitas vezes uma volta atrás. O que Alonso quis dizer que, apesar do nível alto, a emoção das corridas não foi o ponto forte de 1988 e a opinião da época compartilhava com o que disse Alonso. Havia uma enorme esperança que Ferrari e Williams voltassem a se ombrear com a McLaren, para que houvesse mais emoção nas corridas e no campeonato. 

Muito se falou em 1988, mas 1992 foi ainda pior. Mansell e a Williams de outro planeta destruíram a concorrência e aos dez anos de idade eu me recordo claramente que havia uma verdadeira comoção na opinião pública que a F1-92 estava... muito chata!

Alonso ainda comparou a situação daquela época com a atual, onde o interesse pela F1 caiu pela falta de emoção nas corridas, já que se sabia de antemão que iria vencer a corrida era um piloto da McLaren (1988) ou da Williams (1992), assim como nos últimos três anos, sabia-se que um piloto Mercedes venceria a prova no domingo.

Ao tocar nesse assunto, Alonso mexeu num vespeiro envolvendo paixão e saudosismo. Comparações esdrúxulas pipocaram nas Redes Sociais, mas fico com a sensação cada vez maior de que não sabemos curtir o presente. 'Oh, quero ver Alonso pilotar um carro de 1.000 cv'. Os carros atuais já tem essa potência. 'Ah, quero ver Alonso pilotar os carros sem a tecnologia de hoje'. Os pilotos de todas as épocas da F1 utilizavam o que havia de mais moderno e tecnológico de então. Contudo, o pior é que as pessoas ao invés de estudar a história, preferem apenas cultua-la sem entende-la, para saber que assim como hoje, a F1 de ontem tinha pontos positivos e negativos.   

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