terça-feira, 24 de janeiro de 2017

História: 45 anos do Grande Prêmio da Argentina de 1972

Após doze anos de ausência, o Grande Prêmio da Argentina retornava ao calendário oficial da F1, graças aos esforços do mito Juan Manuel Fangio e do Juan Manuel Bordeu, representante argentino na FIA. O circuito Oscar Galvez, ainda conhecido como Autodromo Almirante Brown receberia a abertura do campeonato e um dos grandes favoritos era Jackie Stewart. Após conquistar seu segundo título mundial em 1971 com até alguma facilidade, o escocês era o favorito para conquistar o tricampeonato em 1972 e Jackie contava com a estabilidade da Tyrrell. Após um campeonato tão dominado por Stewart, equipes grandes e tradicionais como Lotus, Ferrari e McLaren se reestruturavam.

Depois do fracasso do Lotus Turbina, Colin Chapman passou a focar no não menos revolucionário Lotus 72, agora na versão D, que teria como primeiro piloto Emerson Fittipaldi, que não gostou muito da nova pintura do carro. Com a saída da Gold Leaf, com problemas financeiros, a Imperial Tobacco comprou o espaço da Lotus e estreou a mitológica pintura preto e dourado da John Player Special. Emerson achava que o carro ficou parecido com um caixão, mas lhe daria muitas felicidades ao longo de 1972. O companheiro de Fittipaldi na Lotus seria o australiano Dave Walker, que havia dominado o Campeonato Inglês de F3 em 1971 e era um protegido da Lotus. A Ferrari permanecia com Jacky Ickx e Clay Regazzoni, enquanto Mario Andretti pilotaria um terceiro carro quando sua extensa agenda deixasse. Fora das pistas, Alessandro Colombo, homem de confiança da Fiat, assumia o departamento de esportes da Ferrari. A McLaren teria o patrocínio da Yardley e no lugar do famoso lay-out laranja, a McLaren correria de branco e marrom, com Denny Hulme tendo ao seu lado o americano Peter Revson, campeão com a McLaren na Can-Am. 

A vice-campeã de construtores BRM sofria com a perda trágica dos seus dois pilotos (Pedro Rodríguez e Jo Siffert), mas teria a novidade do patrocínio da Philip Morris, trazendo à F1 o famoso lay-out branco e vermelho da Marlboro. Uma das imposições da Marlboro foi que a BRM tivesse pelo menos cinco carros e mesmo a equipe não tendo condições para isso, aceitou o desafio, trocando de pilotos várias vezes, enquanto Jean Pierre Beltoise era contratado como primeiro piloto, mas como o francês tinha se envolvido um ano antes na trágica morte de Ignazio Giunti nos 1000 km de Buenos Aires, Beltoise não correu na primeira etapa com medo de ser preso. Sua antiga equipe, a Matra, estava cada vez mais focada no Endurance e teria apenas Chris Amon como piloto. A Brabham teria um novo proprietário: Bernie Ecclestone. O inglês trouxe várias novidades para a equipe dentro e fora das pistas, mantendo (à contra gosto) apenas Graham Hill. O jovem engenheiro Gordon Murray projetaria o carro, enquanto Herbie Blash seria o chefe dos mecânicos e a promessa argentina Carlos Reutemann seria o primeiro piloto.

Na classificação, Tyrrell e McLaren disputaram palmo a palmo quem era a mais rápida, mas o novato Carlos Reutemann usou seu conhecimento da pista, além de pneus especiais da Goodyear para conquistar a pole logo em sua estreia, algo bastante raro na F1, dando à Brabham sua primeiro pole em dois anos. Stewart completaria a primeira fila, com a McLaren dominando a segunda fila e Emerson Fittipaldi conquistando um bom quinto lugar. Mesmo correndo pela Lotus, Emerson não estava entre os favoritos ao título quando a temporada de 1972 começou.

Grid:
1) Reutemann (Brabham) - 1:12.46
2) Stewart (Tyrrell) - 1:12.68
3) Revson (McLaren) - 1:12.74
4) Hulme (McLaren) - 1:12.99
5) Fitttipaldi (Lotus) - 1:13.28
6) Regazzoni (Ferrari) - 1:13.28
7) Cevert (Tyrrell) - 1:13.39
8) Ickx (Ferrari) - 1:13.50
9) Andretti (Ferrari) - 1:13.61
10) Peterson (March) - 1:14.06

O dia 23 de janeiro de 1972 amanheceu com forte calor em Buenos Aires, fazendo com que a corrida argentina tivesse o mesmo problema das corridas dos anos de 1950: o desgaste excessivo dos carros e dos pilotos seria um fator importante. Mais de 80.000 pessoas foram torcer por Reutemann, inclusive o presidente Alejandro Lanusse. Porém, muitas pessoas ficam próximas demais da pista, quase causando os problemas que por muito pouco não cancelaram a corrida no México em 1970. Querendo dar um show para a sua torcida, Reutemann toma a arriscada decisão de largar com os mesmos pneus em que conseguiu marcar a pole, mais macios do que a maioria, o que indicava que rapidamente o argentino não teria muita aderência. A largada foi dada e mesmo com pneus macios, Reutemann perdeu a ponta da corrida para o campeão Stewart, seguidos por Hulme e Fittipaldi, enquanto Revson larga muito mal e perde várias posições.

Numa corrida de 95 voltas pelo circuito mais curto de Buenos Aires, sem contar o calor, seria uma corrida de muita paciência para os pilotos e equipes. Emerson logo toma a terceira posição de Hulme e parte em perseguição à Reutemann, que via Stewart abrir uma pequena diferença no começo da prova. Nessa briga Argentina x Brasil, os pneus que se desgastavam mais rápido de Reutemann deram vantagem à Emerson, que assumia a segunda colocação ainda na oitava volta, enquanto seu companheiro de equipe já abandonava com problemas no acelerador. Fittipaldi rapidamente encosta em Stewart, mas prefere ficar apenas na espreita, como se estivesse estudando o rival. Essa briga Stewart x Fittipaldi marcaria a F1 nos próximos dois anos, enquanto Hulme se aproveita dos pneus desgastados de Reutemann para ser terceiro e se aproximar dos líderes, porém, Stewart aumenta o ritmo e se distancia dos dois, enquanto Reutemann já vinha 15s atrás em quarto. Por volta da volta 30, o câmbio de Emerson começa a falhar e permite que Hulme ataque o piloto da Lotus, enquanto Stewart já abria 10s para os dois. Na volta 35 Hulme assume o segundo lugar, enquanto Reutemann sofria com seus pneus, correndo num isolado quarto lugar. Mais atrás as Ferraris brigavam pelo sexto lugar, com vantagem para Ickx. François Cevert era um solitário quinto colocado.

Para enorme decepção do público presente, Carlos Reutemann vai aos boxes trocar pneus na volta 45 e como pit-stops eram muito raros nas corridas da década de 1970, o argentino retorna em 14º e penúltimo lugar. A corrida fica estática, com poucas emoções e a única movimentação era a perda cada vez maior de velocidade de Emerson, enquanto Cevert tem o câmbio quebrado na volta 59. Duas voltas depois, Emerson vai aos boxes não apenas com o câmbio quebrado, como também a suspensão traseira. Com esses abandonos, o belga Jacky Ickx era o terceiro colocado, mas estava mais de um minuto atrás de Stewart, com Hulme exatamente entre eles, 30s atrás de Stewart e 30s na frente de Ickx. Após ultrapassar Peterson, Tim Schenken leva seu Surtees à zona de pontuação. Novamente com pneus macios, Reutemann fazia uma interessante corrida de recuperação e já estava próximo de Peterson e também do sexto lugar, que lhe garantiria um ponto logo em sua estreia.

Com os carros bem espaçados, praticamente todos os pilotos diminuem seu ritmo, para preservar os carros até a bandeirada. A única indefinição que existia era sobre o quarto lugar, com Regazzoni apenas 4s na frente de Schenken, mas o suíço administra bem a vantagem. Stewart vence sua 19º corrida na carreira após 95 exaustivas voltas e confirmava o favoritismo com um triunfo logo na primeira prova de 1972. Hulme chegava ao pódio após quase dois anos, enquanto a Ferrari teria que se conformar com um terceiro e quarto lugares. Schenken faz uma boa prova em sua estreia pela Surtees e Peterson segurou Reutemann para ficar com o último ponto. Stewart recebeu um enorme coroa de flores no pódio e começava sua defesa pelo título com o pé direito.

Chegada:
1) Stewart
2) Hulme
3) Ickx
4) Regazzoni
5) Schenken
6) Peterson 

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