Ele foi para a Osella, o que Pierluigi Martini foi para a Minardi. Piercarlo Ghinzani esteve presente em mais de cem Grandes Prêmios, mas só conseguiu largar em apenas 70% deles, muito porque esse italiano sem muito talento, mas bastante tenaz, sempre esteve ligado à pequena Osella, time que habitou a parte final do grid durante boa parte da década de 1980. Batendo pilotos como Michele Alboreto, Riccardo Patrese e Nelson Piquet nas categorias de base, Ghinzani esteve longe de repetir o sucesso que teve na F3 na F1. Sabendo da ruindade do seu carro, Ghinzani nunca mostrou muita velocidade, mas sua experiência no Endurance foi importante para levar seus fracos carros sempre à bandeirada. Quando não quebravam antes. Completando 65 anos, vamos conhecer um pouco o que fez Ghinzani durante quase dez anos na parte de trás da F1.
Piercarlo Ghinzani nasceu no dia 16 de janeiro de 1952 em Riviera d'Adda, próximo à Bergamo, no norte da Itália. O jovem italiano sempre gostou de corridas, mas como não era rico nunca teve bons equipamentos nas mãos. Ghinzani estreou nos monopostos em 1970, na F-Ford Italiana. Três anos mais tarde Piercarlo subiu para a F3 e como já deu para perceber, a carreira de Ghinzani não foi das mais meteóricas, principalmente por causa do pouco dinheiro que ele tinha para investir no seu equipamento. Apenas em sua quinta (!) temporada na F3 o italiano conseguiu sucesso, sendo vice no Campeonato Italiano de 1976 (perdendo o título para Riccardo Patrese) e conseguindo o título do Europeu no ano seguinte, batendo ninguém menos do que Nelson Piquet e Elio de Angelis. Isso motivou Ghinzani graduar-se para a F2 em 1978, mas Piercarlo não se adaptou ao carro e fez algo não muito raro na época. Muitas vezes pilotos se profissionalizavam em categorias de base, passando vários anos numa F-Ford ou F3. Ghinzani retornou à F3 em 1979, conseguindo um importante contato com a Alfa Romeo, onde desenvolveu os motores italianos de F3, conquistando o título italiano de 1979, batendo a jovem promessa italiana Michele Alboreto.
Já próximos dos 30 anos e talvez sem tanta esperança em conseguir bons resultados na F1, após sua experiência na F2, Ghinzani parte para as corridas de Endurance, onde ele foi piloto da Lancia em 1980. Porém, Ghinzani tinha uma boa reputação na Itália e quando Miguel Angel Guerra se machuca durante o Grande Prêmio de San Marino de 1981, Ghinzani é convidado por Enzo Osella para substituir o argentino na corrida seguinte, em Zolder na Bélgica. Piercarlo finalmente estrearia na F1, onde logo de cara consegue classificar o carro e termina a sua primeira corrida. O fato de ter largado em último e terminado em último era apenas um detalhe. Já um piloto experiente, Ghinzani sabia que se quisesse algo na F1, ele precisaria ter paciência. E também dinheiro. Na corrida seguinte, Piercarlo não consegue se classificar em Monte Carlo e quando a Osella acha outro piloto pagante (Giorgio Francia), o italiano teria que esperar, mas não parado. Piercarlo volta para a Lancia e vence uma corrida em Mugello em 1982, ao lado de Alboreto. Ghinzani não foi esquecido por Enzo Osella e com os contatos que o italiano tinha com a Alfa Romeo, que cederia seus motores para a Osella, ele foi contratado pela equipe em 1983, onde Piercarlo teria sua primeira temporada 'completa' na F1. Entre aspas, porque Ghinzani não conseguiu colocar seu carro no grid na maioria das provas, vendo a bandeirada apenas uma vez, em Zeltweg.
Piercarlo Ghinzani fica mais um ano na Osella e tem um grande susto durante o warm-up do Grande Prêmio da África do Sul de 1984, quando Ghinzani perde o controle do seu carro na rápida curva Jukskei e bateu violentamente no muro. O Osella de Ghinzani partiu-se ao meio e o carro se tornou uma bola de fogo. Não fosse a ação rápida dos bombeiros, Ghinzani não teria saído desse acidente apenas com leves queimaduras nas mãos, por que o italiano tirou as luvas para soltar o cinto de segurança. Porém, foi em 1984 que Ghinzani teria seu grande momento na F1. Numas das corridas mais baldeadas da história da F1, Dallas recebeu sua primeira e única prova debaixo de um calor infernal. Durante os treinos, Nelson Piquet declarou: 'Não sei quem quebrará primeiro: os carros, a pista ou os pilotos'. O calor acima dos 40ºC fez da prova em Dallas uma corrida de resistência e sabendo disso, Ghinzani apenas levou seu Osella na manha, sem forçar muito o ritmo, enquanto os carros da frente iam caindo um a um. É clássica a cena de cinco carros parados ao lado do muro, todos quebrados pelas difíceis condições daquela tarde. E foi nessa situação crítica que Ghinzani levou seu carro ao quinto lugar, marcando seus primeiros e únicos dois pontos na carreira.
Para 1985, Ghinzani permaneceu uma terceira temporada com a Osella, mas no meio do ano foi chamado pela Toleman, uma equipe mais forte, mas que teve uma temporada difícil, com vários problemas burocráticos, como a falta de pneus. Nessa confusão toda, Ghinzani pouco pôde fazer e voltou para a Osella em 1986, onde sempre largou da penúltima ou última fila toda a temporada. Para 1987, Ghinzani, já com 35 anos de idade, parecia ter sua grande chance, quando foi contratado pela Ligier, graças aos contatos que tinha com a Alfa Romeo, que iria fornecer seus motores para o time francês, que tinha feito um bom ano em 1986. Iria, pois o primeiro piloto René Arnoux condenou os motores italiano durante a pré-temporada e a Ligier teve que mudar de fornecedor de motores às pressas, poucos dias antes de começar a temporada, tendo que encaixar o motor Megatron no seu carro. Foi uma desgraça e a Ligier teve uma péssima temporada, o mesmo acontecendo com Ghinzani. Para 1988, o italiano se juntou à Zakspeed, que desde 1985 tentava fazer um campeonato decente na F1 e não conseguia, com o seu ousado projeto de fabricar chassi e motor. Ghinzani não se classificou para o grid em boa parte da temporada. Contando com 38 anos, Piercarlo Ghinzani voltou à sua amada Osella, onde teve uma temporada bem digna do time. Das dezesseis corridas, Ghinzani só conseguiu tempo para largar em três, numa época em que até 39 pilotos chegavam para se classificar e conseguir um lugar no grid, para uma equipe pequena, era uma luta bem acirrada. Piercarlo anunciou sua aposentadoria nas vésperas da prova final em Adelaide e ganhou a chance de largar em sua última corrida. Numa prova confusa por causa de um temporal, Ghinzani abandonou quando foi atingido em cheio por Nelson Piquet, num acidente perigoso em plena reta dos boxes. Foram 76 Grande Prêmios, onde abandonou 57(!) e os dois suados pontos em Dallas.
Ghinzani correu até 1992, principalmente em provas de GT na Itália. Se inspirando em Enzo Osella, mas sem querer dar um passo maior do que a perna, Ghinzani abriu uma equipe de F3, onde revelou vários pilotos no certame italiano, onde teve tanto sucesso na década de 1970.
Parabéns!
Piercarlo Ghinzani
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