Ao longo dos anos, das três categorias do Mundial de Motovelocidade que compõe o final de semana de corridas, a melhor sempre foi a Moto3. Com corridas compactas e muita disputa até a última curva, não raro a prova é decidida na bandeirada. Hoje Jorge Martin segurou-se bem dos ataques de Aron Canet, mas o terceiro colocado já tinha longe, mesmo que dez pilotos estivessem na briga. Na MotoGP, pela maior potência das motos, as corridas são mais estáticas e menos agrupadas. Pelo menos em teoria. Hoje no Catar, abertura do Mundial 2018, a corrida da MotoGP foi mais emocionante e agrupada do que a da Moto3, com uma disputa de tirar o fôlego até a última curva, apesar do resultado não ter sido surpreendente. Até mesmo a última volta.
Continuando seu ritmo muito forte, Johan Zarco ficou com a pole e liderou dois terços de corrida, dando a sensação de que o francês finalmente poderia quebrar o seu jejum de vitórias. Por sinal, já está na hora do francês quebrar esse tabu. Porém, correndo com uma Yamaha 2016, Zarco era atacado por um enxame de motos 2018 de fábrica. Márquez largou na primeira fila e na segunda posição ficou quase que o tempo inteiro. Valentino Rossi mostrou seu brilho com uma largada fenomenal e se colocou na disputa ao ultrapassar um a um, até mesmo chegando a ocupar o segundo lugar por alguns momentos. Mais atrás, numa corrida de paciência, bem ao seu feitio, Andrea Doviziozo vinha evoluindo aos poucos, como se soubesse que tinha moto para vencer. Como falou bem Alex Barros nos comentários da corrida de hoje: Doviziozo constrói sua corrida volta a volta. E hoje foi mais uma.
A corrida inteira teve um pelotão compacto de dez motos, tendo apenas a Suzuki de Alex Rins como vítima. O jovem espanhol superou com folgas seu mais experiente companheiro de equipe Andrea Iannone até cair. Continuando no rol das decepções, Jorge Lorenzo caiu quando vinha em décimo e longe da briga do pelotão dianteiro. Maverick Viñales salvou sua prova numa boa recuperação, onde saiu da 15º colocação onde chegou a andar no começo da prova para chegar em sexto, junto ao pelotão inicial, que tinha também Danilo Petrucci, Cal Cruthlow e Daniel Pedrosa, este tendo feito uma corrida ioiô, pois largou bem, brigou com Márquez, perdeu rendimento e depois se recuperou.
Quando Zarco perdeu rendimento de forma repentina, Doviziozo já tinha na frente de Márquez e Rossi, dando a pinta que dispararia, mas ninguém pode duvidar de Márquez. O espanhol, único do pelotão dianteiro com pneu dianteiro duro, partiu para cima de Dovi nas últimas voltas. Porém, a agressividade de Márquez é tão conhecida, que muito provavelmente Doviziozo sabia o que fazer na última volta. No miolo, setor que favorecia a Honda, Doviziozo escolheu linhas em que ficava por dentro nas freadas. Na última curva, freou forte e quando viu um Márquez totalmente sem tomada por dentro, simplesmente deu o xis, abriu o acelerador de sua Ducati e venceu pela terceira vez o espanhol numa briga palmo a palmo na última curva. Já dá para dizer que a inteligência venceu a impetuosidade. Mais uma vez.
Foi uma corrida de tirar o fôlego, mas com resultados que traduziram bem o que foi visto na pré-temporada, com Ducati e Honda muito fortes, com a Yamaha ainda tateando com um chassi ainda inferior ao campeão de 2016. Rossi não ficou chorando pelos cantos como fez Viñales e passou a corrida inteira no pelotão dianteiro, mas não tinha ritmo para vencer. Doviziozo cumpriu as expectativas e já lidera o campeonato numa pista em que a Ducati era a favorita, mesmo com Márquez mais próximo do que o esperado. Um início espetacular de uma temporada que promete fortes emoções.
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