Sebastian Vettel vinha fazendo um final de semana bem sem vergonha, com uma atuação abaixo do que um tetracampeão que estaria mordido por ter sido igualado por Lewis Hamilton poderia fazer. Mais lento do que Raikkonen nos treinos livres e no grid, Vettel não dava pinta que faria algo melhor do que o terceiro lugar, pois se não era atacado pela Haas, não fazia o mesmo com o seu companheiro de equipe, enquanto que para Lewis Hamilton faltava apenas colocar o braço de fora para curtir um belo passeio no parque. Foi então que a Ferrari foi inteligente e deu o pulo do gato. Trouxe Raikkonen para os boxes e para cobrir um eventual ataque do finlandês, a Mercedes também trouxe Hamilton para os pits. Vettel, aquele que fazia um final de semana mediano, ficou na pista esperando que algo acontecesse. E aconteceu! A bancarrota da Haas trouxe o safety-car e Vettel assumiu a ponta da corrida, dando-lhe uma injeção de ânimo para segurar Hamilton na parte final da corrida e vencer a abertura da F1 em Melbourne.
Melhor do que o esperado também vale para a corrida. O circuito de Melbourne pode ser bonito e os pilotos adorarem a velocidade alta próxima aos muros, mas a corrida estava bem chocha em sua primeira metade. Uma rodada de Verstappen aqui ou uma saída de pista Sainz ali, e a corrida era bem estática, com apenas dois ultrapassagens acontecendo dentro da pista, com Ricciardo em cima de Hulkenberg e Bottas passando Ocon. Hamilton liderava a corrida sem a dominância esperada, pois sua vantagem para a Ferrari de Raikkonen nunca passou dos 3s, mas a corrida estava nas mãos do inglês, quando a prova mudou de rumo com a incrível trapalhada da Haas. Os americanos vinham fazendo a melhor corrida de sua história, com seus dois pilotos sólidos entre os seis primeiros. Magnussen ultrapassou Verstappen na largada e segurou bem o ímpeto do holandês até ele rodar. Grosjean também não tinham maiores dramas em segurar um animado Ricciardo, enquanto se aproximava do companheiro de equipe. Então veio os pit-stops e dois erros banais, que fez com que Magnussen e Grosjean estacionassem seus carros logo após saírem dos boxes com a roda solta. Um erro inimaginável que detonou a bela corrida da Haas, mas mostrou o bom potencial dos americanos em 2018. Isso também afetou decisivamente a corrida. No momento em que Grosjean deixou seu carro na saída da curva dois, Hamilton e Raikkonen tinham feito suas paradas e o inglês era o mais rápido da pista. Vettel esticou sua parada, talvez esperando por algo dentro da corrida. Enquanto Grosjean se lamentava, o alemão entrava nos pits durante o safety-car virtual e voltava à pista logo à frente de Hamilton, que discutia com a equipe onde havia errado.
Não houve erros. Apenas sorte de Vettel e da Ferrari. O alemão parou na hora certinha e com a cara no vento, resolveu mostrar o que não havia mostrado até o momento em Melbourne. A corrida não se tornou mais emocionante, mas ficou bem tensa. Num circuito notório por ser difícil de se ultrapassar, Hamilton partiria para uma tentativa banzai? Seguindo seus instintos, Hamilton tentou, chegou a sair da pista, mas passar tanto tempo atrás de Vettel superaqueceu seu motor e seus pneus, fazendo com que o inglês rezasse para que a corrida acabasse logo, pois sem rendimento acabou alcançado por Raikkonen, que fazia tripas coração para segurar um motivado Ricciardo. Com dois carros na ponta da tabela, a Ferrari soube usar a estratégia para fazer Hamilton parar quando queriam e segurar na pista Vettel em caso de alguma eventualidade. Sendo bastante maldoso, como a Haas é uma equipe B da Ferrari, o time americano ter problemas na hora certa para a Ferrari pode ser um prato e tanto para os que se alimentam de teorias da conspiração, mas a cara de Günther Steiner e a reação dos mecânicos não indicam isso. Vettel se aproveitou da isca jogada para Ferrari, enquanto Hamilton, sozinho, pouco pôde fazer do que atacar até onde deu Vettel. E onde estava Bottas? Mesmo com o melhor carro do pelotão, o finlandês não fez uma corrida de recuperação esperada e ficou nas posições intermediárias o tempo, deixando Hamilton sozinho contra a astúcia da Ferrari. Algumas pessoas diminuíram o feito de Hamilton em sua recuperação em Interlagos ano passado, mas hoje ficou demonstrado a diferença entre um bom piloto e uma estrela que está na história da F1.
Daniel Ricciardo fez uma corrida muito boa saindo de oitavo para quarto num circuito onde as ultrapassagens não são favorecidas. O australiano marcou a melhor volta da corrida e mereceu o pódio, mas esbarrou nas dificuldades de se ultrapassar. Verstappen fez uma corrida errática, onde se enervou ao ser ultrapassado por Magnussen na largada e andava claramente mais do que o carro, errando no rápido esse do miolo do circuito até rodar na curva um. Nesse primeiro round dentro da Red Bull, Ricciardo saiu na frente com louvor. Com tantos problemas, Verstappen ainda se viu atrás de Fernando Alonso após o período de safety-car e mesmo pressionando o espanhol de todas as formas, o bicampeão mundial não se desesperou em nenhum momento e levou sua McLaren ao quinto lugar, sua melhor posição desde que voltou à equipe em 2015. A McLaren ainda não tem o nível da Red Bull, a outra equipe cliente da Renault, mas tem bom potencial de crescimento, além de ter o fator Alonso. A própria Renault fez uma corrida decente com Hulkenberg ficando logo atrás de Verstappen e segurando o opaco Bottas, enquanto Carlos Sainz fechou a zona de pontuação, mesmo errando e tendo problemas estomacais no final da corrida. A Force India, quarta força ano passado, levou seus dois carros até o fim, mas sem pontuar, demonstrando que 2018 poderá ser uma história bem diferente dos dois últimos anos. A Williams fez a corrida medíocre esperada, enquanto Charles Leclerc mostrou em sua estreia que tem tudo para superar Ericsson, que abandonou, assim como Sirotkin e Gasly. Alonso deve estar com um sorriso no canto da boca. Apesar de seu quinto lugar ter sido ocasional, ele viu a Honda ter os mesmos problemas de sempre. Gasly quebrou o motor e Hartley foi o único a tomar uma volta, demonstrando que para a Honda, entrando para o seu quarto ano na F1, ainda lhe falta tudo.
A vitória de Vettel hoje teve um sabor diferente do ano passado. Em 2017 era claro que o alemão tinha um carro melhor e pronto para bater a Mercedes. Esse ano, Vettel teve a sorte e a estratégia ao seu lado para derrotar Hamilton, que precisará de mais apoio do seu companheiro de equipe se quiser ser penta. A Red Bull mostrou potencial para brigar com a Ferrari, que mesmo abaixo da Mercedes, não está tão longe assim. Melbourne ainda não respondeu a todas as perguntas, mas há muitas indicações para ver que 2018 poderá ter algumas surpresas para enfrentar o status quo.
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