sexta-feira, 10 de março de 2017

Que pena...

Na tarde de hoje, o esporte a motor ficou mais triste com o anúncio da morte de John Surtees, único homem a conseguir a façanha de vencer em duas e quatro rodas.

'Para ser campeão do mundo, é como escalar uma montanha', falou Damon Hill na entrevista coletiva em Suzuka, após conquistar seu único título. Hill é até hoje bastante menosprezado pelo o seu único título em 1996, mas como menosprezar um campeão mundial? Não importa as circunstâncias, em 67 anos de história na F1, pouquíssimos foram campeões do mundo. Surtees conseguiu apenas um título na F1, mas foi uma das maiores estrelas da categoria ao longo de toda a década de 1960. Talvez pela personagem forte e arredia, John Surtees não teve todos os créditos que mereceu em vida, ficando atrás de Jim Clark, Graham Hill e Jackie Stewart no quesito popularidade, fazendo com que 'Big John' fosse meio esquecido em meio a tantas feras que enfrentou de igual para igual. Para ter ideia do tamanho da carreira de John Surtees, basta fazer uma analogia atual.

Numa situação hipotética, Marc Márquez conquista seu quarto título de MotoGP e resolve se mudar para o automobilismo. Enquanto faz sua temporada de transição massacrando seus adversário na MotoGP, Márquez participa de algumas corridas de F3 antes de estrear na F1 na metade final do ano na Mercedes, conseguindo um pódio em sua segunda corrida e fazendo a pole na próxima etapa. Não gostando do ambiente da Mercedes, Márquez se transfere para a Force India, onde faz uma temporada espetacular, conseguindo um quarto lugar no Mundial de Piloto, fazendo-o ser contratado pela Ferrari. Pela escuderia italiana, conquista seu único título na F1 numa decisão polêmica, muito ajudado pelo seu companheiro de equipe. Márquez briga com a cúpula ferrarista e se transfere para a Honda, que fazia um carro inteiramente do zero. Após muito desenvolvimento, Márquez vence de forma espetacular em Monza, sendo carregado pela torcida italiana em triunfo. O espanhol resolve abrir uma equipe e mesmo veterano, era mais rápido do que seus pilotos.

Alguém acha isso possível acontecer? Pode-se trocar Márquez por Jorge Lorenzo e até mesmo Valentino Rossi. A chance disso acontecer fica sempre no limiar do zero. Tirando a contexto da época, onde trocar as motos pelos carros era um caminho até mesmo comum para os motociclistas, ninguém teria a tenacidade e o talento que John Surtees teve nos anos 1960, onde enfrentou outras lendas na F1, após conquistar sete títulos no Mundial de Motovelocidade. Mesmo saído brigado da Ferrari, a sua vitória em Monza/1967 mostra o quanto Surtees era admirado pelos tifosi. Após ter casado relativamente velho, John ainda passou pela tristeza de ver a morte do filho Henry, de apenas 18 anos, em 2009, mas Surtees não esmoreceu e criou uma fundação em homenagem ao filho morto. John Surtees sempre aparecia em eventos de motos e carros antigos. Suas entrevistas sobre os anos 1960 eram imperdíveis, onde Surtees mostrava uma franqueza até mesmo hilária.

Se um piloto ser herói nos dois lados do Atlântico, como Mario Andretti e Emerson Fittipaldi foram, é bastante difícil, ser uma lenda em duas modalidades tão distintas é ainda mais raro. Apenas John Simon Surtees conseguiu esse feito. 

O tempo chega a ser cruel até mesmo com os nossos heróis. Quando eu era criança, o piloto que eu mais admirava era Juan Manuel Fangio e ainda me lembro dele ser o piloto campeão mais velho ainda vivo, posição perdida em 1995, quando o argentino faleceu. Depois disso, morreram Phil Hill e Jack Brabham. John Surtees, aos 83 anos, era o piloto campeão mundial de F1 mais velho ainda vivo até o dia de hoje. Essa vaga pertence agora à Jackie Stewart e logo atrás vem Mario Andretti. Ambos já septuagenários. Ambos lendas, assim como foi John Surtees. 

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