Durante os últimos três anos, a reclamação era grande quanto ao produto que a F1 estava entregando. As corridas não eram tão ruins, porque haviam ultrapassagens, mas com a Mercedes dominando de forma esmagadora, o tédio só não foi maior pela intensa rivalidade entre Lewis Hamilton e Nico Rosberg. Com a mudança de regulamento, pode-se dizer que o status quo se inverteu. A Ferrari cresceu e derrotou a Mercedes na pista, sem problemas da equipe tedesca, como aconteceu nos últimos anos quando a Mercedes foi derrotada. Porém, a corrida deve ter tido umas três ou quatro ultrapassagens e as emoções foram escassas, com exceção talvez para a Ferrari e Sebastian Vettel, que venceram com méritos a primeira prova de 2017.
Muito se dizia que o vencedor da corrida seria quem contornasse na frente a primeira curva da corrida, mas não foi bem isso o que aconteceu. Após conseguir a pole com certa facilidade, Hamilton superou os fantasmas de suas más largadas e parecia que repetiria os outros anos, vencendo com o pé nas costas. Ledo engano. Ainda na segunda volta ficou claro que a Ferrari tinha mais ritmo e Vettel passou o primeiro stint colado no inglês, claramente esperando a única rodada de paradas para superar Hamilton. O piloto da Mercedes parou relativamente cedo, enquanto Vettel manteve-se na pista por mais tempo, mostrando o equilíbrio da Ferrari e o menor desgaste de pneus. Para completar, Hamilton ficou empacado atrás de Verstappen, que já era difícil de ultrapassar ano passado, com os novos carros, ficou ainda mais. Vettel venceu a corrida quando saiu dos boxes na frente de Verstappen e Hamilton, disparando para uma vitória tranquila, onde apenas esperava a parada de Hamilton para conseguir o triunfo. Não foi das vitórias mais emocionantes da vida de Vettel, mas o alemão tem muito o que comemorar. Com um carro, no mínimo, do nível da Mercedes, Vettel tem ótimas chances de brigar pelo título, ainda mais se Raikkonen repetir a corrida opaca de hoje. Kimi foi o piloto mais rápido da pré-temporada, mas em nenhum momento Raikkonen saiu do quarto lugar, sem atacar os pilotos da Mercedes e ainda teve que suportar a sempre incômoda presença de Max Verstappen nos seus espelhos retrovisores nas voltas finais. Com o companheiro de equipe controlado, Vettel tem tudo para ser a aposta da Ferrari na difícil luta pelo título que se avizinha com a Mercedes.
Quando dominou amplamente a F1 nos três últimos anos, a Mercedes pode ceder que seus pilotos brigassem pelo título abertamente, culminando com o belo título de Rosberg em 2016. Com a Ferrari tão próxima ou, como os dez segundos de margem que Vettel venceu a corrida de hoje sugerem, até mesmo à frente, Toto Wolff e Niki Lauda deverão ter que escolher um piloto para enfrentar Vettel da Ferrari. A escolha natural seria Hamilton, que andou no limite para segurar a Ferrari enquanto esteve em primeiro, mas nessa primeira corrida em Melbourne, também ficou claro que a diferença entre os pilotos da Mercedes é menor em comparação à Ferrari. Bottas fez uma estreia consistente, onde teve um ótimo ritmo de corrida, principalmente com os pneus macios, sendo mais rápido do que Hamilton e até ensaiando uma aproximação. Após anos dominando a F1, a frustração de perder a corrida na pista, demonstrada pelo soco de Wolff na mesa quando Vettel saiu dos boxes na frente, coloca a Mercedes numa nova situação e será interessante ver como os alemães se sairão. Não restam dúvidas do poderio da Mercedes, mas com certeza Wolff, Lauda, Hamilton e cia saíram de sua zona de conforto em 2017.
A grande decepção do final de semana foi a Red Bull. Como o novo regulamento deu uma maior importância para a aerodinâmica, era esperado que Adryan Newey pudesse projetar outro grande carro. O desempenho discreto na pré-temporada poderia indicar uma velha escondida de jogo, mas o primeiro final de semana de corrida mostrou a Red Bull isolada como terceira força do campeonato. Para piorar, o time ainda tem que melhorar a confiabilidade, que fez o piloto da casa Daniel Ricciardo largar com voltas de atraso e ainda abandonar mais tarde. Max Verstappen se mostrou frustrado o final de semana inteiro, mas o holandês ainda tentou uma aproximação em cima de Raikkonen no fim, contudo Max acabou mesmo em quinto, que é hoje o lugar da Red Bull. Se a Williams pintou como possível surpresa em Barcelona, na primeira corrida para valer o time de Felipe Massa ficou a um abismo das três grandes, tomando mais de um minuto do vencedor de Vettel, se colocando em sexto, lugar que seria de Ricciardo se o australiano não tivesse tantos problemas. Massa fez uma corrida correta e discreta, o mesmo não acontecendo com Stroll. O canadense escapou de um acidente na largada, onde se jogou com tudo na primeira curva, mas Lance fazia uma corrida honesta até ter problemas. Veremos onde o novo 'riquinho' da F1 poderá ir, mas até agora o jovem canadense está bem aquém do seu veterano companheiro de equipe.
A Haas tinha tudo para brigar com a Williams como a melhor do resto na figura de Romain Grosjean, mas o francês foi o primeiro abandono do dia, fazendo Grosjean colocar as mãos na cabeça por causa da oportunidade perdida. Kevin Magnussen se envolveu num acidente por culpa dele na primeira volta com Marcus Ericsson e chegou em último. Muito pouco para o danês, que completa a terceira temporada com a terceira equipe diferente sem se firmar. Atrás de Massa ficou a briga entre Force India e a Toro Rosso. Kvyat foi o último a parar e com pneus ultramacios no fim, pressionou Pérez, mas o mexicano da Force India segurou o ímpeto do russo para ser sétimo. Sainz chegou logo atrás do companheiro de equipe, enquanto Esteban Ocon se aproveitou de um problema de Alonso no fim para pontuar pela primeira vez na carreira. Boa corrida do francês. A Renault decepcionou em sua primeira corrida, com Nico Hulkenberg chegando colado em Ocon, enquanto Palmer teve vários problemas de freios até abandonar. Se serve de consolo, a montadora francesa está no bolo das equipes que ficarão entre sétimo e vigésimo até o fim da temporada e com mais investimento para desenvolver o carro, a Renault terá maiores chances de evoluir.
Quem também tem muito dinheiro para investir, mas parece não sair do lugar é a Honda. Para quem viu a pré-temporada, a corrida da McLaren foi até aceitável pelo desastre visto em Barcelona, mas é muito, muito pouco para o potencial da McLaren, de Fernando Alonso e da Honda. Pela terceira temporada consecutiva, a McLaren sofrerá o pão que o diabo amassou, enquanto Alonso deve estar pensando na vida e na carreira. Dez anos atrás, ele estreava na McLaren com um pódio e um projeto de longo prazo para dominar a F1. Ao seu lado estava o novato Lewis Hamilton. Dez anos se passaram e o inglês, com quem brigou dez anos atrás, já tem três títulos e brigará pelo quarto esse ano, enquanto Alonso, mesmo reconhecido como um dos grandes, tem apenas dois títulos e pontuar será uma luta. A Sauber fez seu papel de pior equipe da F1 e Antonio Giovinazzi estreou bem, vide a forma como o italiano teve que fazer sua primeira corrida na F1, entrando no lugar do machucado Pascal Werhlein de última hora. Os erros vistos na transmissão da classificação se repetiram na corrida, onde muitas vezes ficávamos sem as informações de tempo e posição dos pilotos, além de alguns erros de caracteres. Seria praga de Bernie?
A F1 começou de cara nova. A Ferrari bateu a Mercedes porque foi superior. Simples assim. Vettel não largou melhor do que as Mercedes ou se aproveitou de um algum problema, seja ele mecânico ou humano, da equipe da montadora alemã. O alemão foi lá e venceu a Mercedes. A briga promete ser titânica entre essas duas gigantes do automobilismo, não se esquecendo que a Red Bull tem uma enorme capacidade de desenvolvimento, como vimos ano passado. Não devemos esquecer também que Melbourne é um circuito de rua, portanto, peculiar à grande maioria das pistas que teremos no calendário. O ano de 2017 tende a ser mais competitivo, mas com poucas ultrapassagens e corridas soníferas.
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