Ao contrário das temporadas anteriores, pouco havia mudado no regulamento de 2002, fazendo com que as equipes tivessem um maior conhecimento, no caso de algum erro na concepção do carro, de fazer modificações nos bólidos. Havia uma perspectiva de que os pneus fizessem a diferença, já que a Bridgestone tinha apenas a Ferrari, enquanto a Michelin teria que se dividir entre McLaren e Williams. Se a Bridgestone estivesse mais forte, a Ferrari dominaria, mas se a Michelin sobressaísse, haveria uma luta interessante entre McLaren e Williams, ou Mercedes versus BMW, como queriam os alemães. Entre as equipes top, a única mudança foi a aposentadoria de Mika Hakkinen, que foi substituído por indicação do próprio Mika pelo seu compatriota, Kimi Raikkonen. Após uma temporada impressionante de estreia, Kimi calou a boca dos críticos pela sua falta de experiência e já em seu segundo ano na F1, aparecia numa equipe grande, enquanto Ferrari e Williams mantinham suas duplas, apesar dos problemas entre Schumacher e Barrichello (muitas vezes causadas pelo brasileiro) e entre Ralf e Montoya.
Falando em equipes, a Toyota faria sua aguardada estreia na F1. Depois de fazer bom papel no WRC e em Le Mans, a montadora nipônica montou um pacote impressionante para entrar na F1, onde passou 2001 inteiro testando nas pistas do calendário da categoria, para ganhar experiência e conhecer o carro, ainda mostrando as rivais o tamanho do poderio da Toyota. Apesar do muito dinheiro investido, a Toyota resolveu estrear na F1 com seus dois pilotos de testes, Mika Salo e Allan McNish, este mesmo muito experiente, fazendo sua primeira temporada na F1. As más línguas diziam que a Toyota fazia isso para, no caso de um fracasso na sua estreia, a culpa cairia sobre os pilotos, longe das estrelas que muitos especularam na Toyota. Entre os pilotos, haviam as estreias de Takuma Sato (Jordan), Mark Webber (Minardi) e Felipe Massa (Sauber). O brasileiro era outra aposta da Sauber, após o acerto com Raikkonen, e Massa era protegido pela Ferrari, através de Jean Todt, cujo filho era o empresário de Felipe. Todos os três fariam um bom papel nos anos seguintes da F1.
Já em 2002 havia uma preocupação crescente com os altos custos dispendidos por cada escuderia e por isso, a FIA proibiu as equipes testarem entre a última corrida de 2001 e dezembro, fazendo com que as equipes tivessem menos tempo para preparar seus carros. Pensando nisso, a Ferrari levou a Melbourne o confiável carro de 2001, enquanto McLaren e Williams foram para a Austrália com seus carros novos. A classificação foi marcada pelo tempo instável. Os primeiros 25 minutos de sessão foram bem intensos, com todos esperando a chuva e quando Rubens Barrichello melhorou seu tempo, superando Schumacher por cinco milésimos, a esperada precipitação deu as caras e o brasileiro começava 2002 com o pé direito. Como esperado, as três primeiras filas foram dominadas pelo trio de ferro da época (Ferrari, Williams e McLaren), com Jarno Trulli liderando o pelotão intermediário com a nova Renault, que havia surgido no lugar da antiga Benetton. Felipe Massa mostrou um bom serviço em sua primeira corrida e começou em nono, superando seu experiente companheiro de equipe Nick Heidfeld. Até aquele momento, era a melhor estreia de um piloto brasileiro novato na F1.
Grid:
1) Barrichello (Ferrari) - 1:25.843
2) M.Schumacher (Ferrari) - 1:25.848
3) R.Schumacher (Williams) - 1:26.279
4) Coulthard (McLaren) - 1:26.446
5) Raikkonen (McLaren) - 1:27.161
6) Montoya (Williams) - 1:27.249
7) Trulli (Renault) - 1:27.710
8) Fisichella (Jordan) - 1:27.869
9) Massa (Sauber) - 1:27.972
10) Heidfeld (Sauber) - 1:28.232
O dia 3 de março de 2002 amanheceu nublado em Melbourne e havia um certo receio de que a chuva pudesse cair novamente e bagunçar a ordem na F1. Porém, a pista estava seca e a corrida transcorreu normalmente. A primeira curva em Melbourne é um dos momentos mais críticos da temporada, com uma apertada curva à direita, seguida por outra à esquerda, fazendo com que muitos acidentes acontecessem no local ainda na primeira curva da temporada. No apagar das luzes vermelhas, quem teve claramente a melhor reação havia sido Ralf Schumacher, que imediatamente ultrapassou seu irmão e partiu para cima de Barrichello, que manteve a ponta com facilidade. Rubens foi para dentro, para proteger sua linha, mas Ralf vinha simplesmente rápido demais para desviar e o resultado foi um perigoso acidente, onde o alemão da Williams acertou a traseira da Ferrari e saiu voando, acabando por cair, felizmente do lado certo, na caixa de brita. Com a pancada, Barrichello acabou seu sonho de um bom início de temporada ainda na primeira curva, mas não havia acabado ainda. Com todo mundo freando forte na frente, Button acabou batendo em Fisichella, iniciando um efeito dominó que eliminou imediatamente seis carros, incluindo o estreante Felipe Massa, além de Heidfeld, Panis e McNish.
Para quem assistiu àquela transmissão na madrugada brasileira, se lembra de Galvão Bueno implorando para que fosse mostrado uma bandeira vermelha e a corrida fosse reiniciada com praticamente todos os acidentados. Afinal, Barrichello e Massa estavam fora, mas apenas o safety-car apareceu com Coulthard liderando o pelotão, seguido por Trulli, Schumacher e Montoya. A corrida reiniciou após várias voltas e imediatamente Schumacher partiu para cima de Trulli, já reconhecido como um dos pilotos mais difíceis de se ultrapassar. O italiano da Renault resistia a superior Ferrari de Schumacher de forma forte, até mesmo comovente, pois estava na cara que Trulli não tinha como segurar Schumacher e por isso, andava muito mais forte do que o normal. O resultado disso foi uma rodada na volta 8, fazendo o italiano bater e trazer o safety-car de volta. Com Trulli segurando todo mundo, Coulthard havia disparado na frente, mas o escocês perdeu toda a vantagem com a corrida neutralizada novamente e quando deu-se a segunda relargada, David perdeu o impulso e acabou ultrapassado por Schumacher e Montoya. Porém, aproveitando seus anos de relargadas em movimento no EUA, Montoya ultrapassou Schumacher e assumia a liderança, fazendo algo parecido com o que fez em Interlagos no ano anterior e lhe garantiu a fama.
Só que ao contrário de Interlagos/2001, Montoya não tinha um bom ritmo e logo era atacado por Schumacher. O alemão novamente teria que passar por cima de um osso duro de roer para assumir a liderança e após um belo pega, finalmente Schumacher assume a liderança na volta 16 e desaparece. Montoya não consegue acompanhar a Ferrari, enquanto Coulthard era ultrapassado por Raikkonen e finalmente abandona na volta 35, com problemas no câmbio. Ambos os carros da Arrows são desclassificados por problemas antes da corrida, demonstrando bem como seria duro a vida de Frentzen e Enrique Bernoldi numa equipe que definhava.
Com poucos carros (sete), a corrida fica totalmente enfadonha, sem nenhuma disputa entre os primeiros colocados. Porém, havia uma grande surpresa na quinta posição. O novato Mark Webber havia desviado de todos os problemas e estava levando sua Minardi na zona de pontuação, o que era absolutamente espetacular, vide o desempenho muito abaixo do seu carro em comparação aos demais. Porém, o australiano não teve vida fácil. Primeiro ele teve que segurar a BAR de Villeneuve, mas quando o canadense abandonou com a asa traseira quebrada, Webber passou a ser pressionado pelo experiente Mika Salo, em sua neófita Toyota. Tanto Salo como Webber não queriam perder essa chance de ouro de marcar pontos e mesmo bem mais rápido do que o australiano, Salo não queria arriscar estrear com a Toyota após meses de testes, pontuando. Por isso, a disputa entre eles não foi das mais fortes e quando Salo rodou, Webber estava garantido num espetacular quinto lugar. Schumacher venceu sem maiores apuros, com confortáveis 18s sobre Montoya. Raikkonen conseguia seu primeiro pódio na F1 e quietamente, quase sem ser percebido, Eddie Irvine levou sua problemática Jaguar ao quarto lugar, uma volta atrás do seu antigo companheiro de equipe. Após o pódio oficial, Mark Webber e Paul Stoddart, dono da Minardi e também australiano, subiram ao pódio, para delírio da torcida local. Schumacher começou 2002 da mesma forma de 2001, mas o que os rivais ferraristas não perceberam foi que, se com o carro de 2001 ele já havia dominado, imagine com o carro de 2002...
Chegada:
1) M.Schumacher
2) Montoya
3) Raikkonen
4) Irvine
5) Webber
6) Salo
João,perfeito.
ResponderExcluirMas só uma correção: Nicolas Todt só viria a ser empresário de Massa a partir de 2003. Em 2002,o empresário de Felipe ainda era Ricardo Tedeschi.