quarta-feira, 22 de março de 2017

Tempestade no deserto

A famosa operação de guerra norte-americana que, junto com aliados, venceram sem maiores sustos a Guerra do Golfo no início da década de 1990 pode ser também a síntese do início da temporada da MotoGP, que começará nessa semana. 

Por muitos anos havia uma espécie de acordo entre F1 e MotoGP para que não houvesse muitas coincidências de calendário, mas em 2017 as duas super categorias começarão suas temporadas no mesmo final de semana, mesmo que com uma grande diferença de horário. Uma pena. Com a F1 atraindo uma grande curiosidade sobre os seus novos carros, pouco se fala da não menos esperada temporada da MotoGP.

Marc Márquez vai escrevendo uma bela história na MotoGP e mesmo ainda muito jovem, já conta com três títulos mundiais na categoria principal, passando por cima, primeiramente, do seu já veterano companheiro de equipe Daniel Pedrosa, além de ter se aproveitado dos problemas internos da Yamaha, que atrapalhou bastante os não menos feras Valentino Rossi e Jorge Lorenzo. Com o espanhol de partida para a Ducati, era esperado que Rossi teria sossego e tentar conquistar finalmente seu décimo título, oitavo na categoria top, mas o italiano foi surpreendido pelo substituto de Lorenzo. 

Maverick Viñales assombrou em todos os treinos pré-temporada, sendo o piloto mais rápido e velozmente se adaptando à Yamaha, deixando Rossi praticamente sem ação frente à Viñales. O espanhol já tinha mostrado um enorme talento na Suzuki, mas poucos poderia imaginar que Maverick pudesse se colocar tão rapidamente na frente e podendo até mesmo brigar pelo título, agora correndo por uma equipe de ponta. Já contando com 38 anos, Rossi deu várias entrevistas dando a entender que sentiu o golpe de ter que enfrentar um piloto que, forçando um pouco a barra, poderia ser até mesmo seu filho e mostrando tanta velocidade e, mais incrível ainda, tanta maturidade em tão pouco tempo num piloto tão jovem.

Pela primeira vez na carreira Márquez terá pela frente um piloto mais jovem do que ele brigando, pelo o que se viu na pré-temporada, pelas vitórias esse ano. O espanhol da Honda andou forte e não teve tantos problemas como ano passado, mas Marc reclamou muito do comportamento de sua moto, principalmente no quesito eletrônica. Blefe? Pode ser. Ano passado a Honda teve uma pré-temporada ainda mais problemática, mas ainda conseguiu levar Márquez ao título, muito pela nova perspectiva mostrada pelo espanhol, onde usou mais a cabeça do que o punho, fazendo uma temporada regular e sem os característicos erros. Agora Márquez pode usar sua experiência para tentar deter o furacão Viñales.

A ida de Lorenzo para a Ducati me lembrou os tempos em que Randy Mamola e depois Eddie Lawson se mudaram para a Gilera, quando já estavam no ocaso de suas carreiras. Lorenzo vai completar 30 anos e ainda tem muita lenha para queimar, mas as dificuldades enfrentadas durante a pré-temporada foram preocupantes para um piloto trazido à peso de ouro para dar a Ducati o segundo título, dez anos depois de Stoner. Porém, quem está mais rápido nas motos vermelhas foi o experiente Andrea Doviziozo. Para substituir Viñales, a Suzuki contratou Andrea Iannone que, com uma moto mais equilibrada, talvez caía menos. Pois quando estava na selvagem Ducati, no âmbito de andar rápido, Iannone muitas vezes se estabanava no chão. 

Todas as estrelas da Moto2 nos últimos dois anos subiram para a MotoGP, com destaque para o atual bicampeão Johan Zarco, que terá ao seu lado na Tech 3 Yamaha o também novato Jonas Folger, enquanto Alex Rins é uma aposta da Suzuki de encontrar um novo Viñales, mesmo Rins não ter demonstrado muito isso. Aprilia mudou os seus pilotos tentando crescer, principalmente usando a experiência de Aleix Espargaró, que participou de toda o desenvolvimento da Suzuki. A KTM estreia após um ano intenso de testes, mas Pol Espargaró e Bradley Smith sofrerão bastante. Ao lado dos pilotos da Tech 3, Cal Cruthlow lutará para ser o melhor piloto de uma equipe satélite, com possibilidades de beliscar um pódio ou, quem sabe, uma vitória.

Ano passado foram nove vencedores diferentes, muito pelo clima instável que marcou 2016. Porém, é inegável que ano passado houve uma imprevisibilidade muito grande para saber quem era o mais rápido em cada corrida. Yamaha? Honda? Ducati? Até mesmo Suzuki? Todas elas venceram com piso seco. Márquez achou o equilíbrio e venceu o campeonato com boa antecedência, mas o espanhol terá que enfrentar um novo piloto que, como ele quando chegou na MotoGP, está faminto por vitórias e títulos. Porém, não custa esquecer da velha guarda, principalmente de Rossi, que pode muito bem estar blefando sobre suas chances.

Com perspectivas de uma chuva inesperada no deserto do Catar, a MotoGP começa nesse final de semana com uma perspectiva de outra temporada histórica.

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