Ok, a corrida foi uma porcaria, não se pode esconder os fatos, mas a F1 teve a sorte até agora de que nas duas corridas ruins do ano até agora, houve novidades para se contar e, porque não, se comemorar. Valtteri Bottas saiu da terceira posição para a ponta ainda antes da primeira curva para não mais perder uma corrida que estava em tons de vermelho, mas recebeu uma pincelada final de prata. Em quatro corridas no ano, três vencedores diferentes e uma alternância legal entre Mercedes e Ferrari pelas vitórias, com ambas com dois triunfos nas quatro provas desse ano. Apesar do gosto amargo de perder uma corrida em que era favorito destacado, Vettel não tem muito do que reclamar, pois o segundo lugar que conquistou hoje o fez aumentar a diferença para um inexplicavelmente apagado Lewis Hamilton, solitário quarto colocado.
A corrida de Sochi pode ser contado pelos seus extremos. Ao contrário do ano passado, os dois pilotos da Mercedes conseguiram ótimas largadas, com Bottas saindo com certa facilidade de terceiro para segundo apenas no pulo inicial e com mais embalo na saída da primeira curva, deixou o pole Vettel para trás ainda antes da primeira curva. Largada parecida, lembro apenas a de Massa em Hungaroring/08, onde o brasileiro fez exatamente a mesma coisa, com a diferença de ter perdida a corrida no final. Com pista livre à frente e portanto sem sofrer com os problemas de temperatura que afetou os quatro líderes, Bottas abriu mais de 5s em cima de Vettel, quando o finlandês colocou os pneus supermacios na única parada do dia. A Mercedes não tinha um bom desempenho com a borracha com a faixa vermelha e enquanto Vettel retardava ao máximo sua única parada, Bottas conseguia, com pneus novos, no máximo andar no nível do alemão. Quando Sebastian voltou para a pista com os pneus supermacios, estava apenas 4s atrás de Bottas e partiu para cima do finlandês. Foi nesse momento que Valtteri Bottas mostrou seu talento e frieza em segurar um piloto bem mais experiente do que ele nessas situações. Mesmo não estando muito confortável com os pneus, Bottas aumentou seu ritmo e numa briga de alto nível, com voltas mais rápidas sendo trocadas com Vettel, Valtteri segurou bem a pressão final nas voltas finais, onde Vettel chegou a estar a menos de 1s de distância, para vencer pela primeira vez na F1. Assim pode ser resumido o Grande Prêmio da Rússia de hoje. Atrás dos líderes, não aconteceu absolutamente nada de relevante e as posições se mantiveram as mesmas no final da primeira volta até o final, tirando os abandonos e o pneu furado de Massa. No Facebook, já se começam as críticas, voltando ao que aconteceu em Melbourne, mas não podemos cair na mesma armadilha, quando se condenou a temporada da F1 após apenas uma corrida.
Para Bottas essa foi a resposta às ordens de equipe recebidas no Bahrein, quando teve que deixar Hamilton passar duas vezes e exibiu uma cara de pouquíssimos amigos no pódio. Logo em sua quarta corrida pela Mercedes e num final de semana totalmente pró-Ferrari, Bottas fez o 'algo a mais', superou as Ferraris na largada e imprimiu um ritmo fortíssimo o tempo todo, deixando Vettel a uma boa distância, mesmo quando não estava com os pneus mais favoráveis. Valtteri também coloca um pouco de pressão em Hamilton, irreconhecível em Sochi. O inglês quase ultrapassou Raikkonen na primeira curva, mas acabou com a quarta posição e a todo momento falava no rádio, meio que implorando por algo que fizesse melhorar seu rendimento, mas para a sua frustração, nada podia ser feito. Vinte segundos atrás do companheiro de equipe e perdendo pontos preciosos para Vettel, Hamilton corre o risco de a chegada de Bottas no lugar de Nico Rosberg não significar um ambiente mais sossegado na Mercedes, que agora terá dois pilotos com uma vitória cada para administrar. A Ferrari saiu como perdedora num final de semana em que dominou como há muito tempo não se via. Vettel fez a pole, sempre com Raikkonen logo atrás. As chances de dobradinha eram enormes para a Ferrari, mas a má largada dos dois ferraristas pôs tudo a perder e quando Bottas assumiu a ponta, a Ferrari nada pôde fazer com duas equipes andando num nível tão alto como ela própria e a Mercedes, contudo, Vettel não tem muito do que reclamar, pois viu sua vantagem aumentar para Hamilton, que apesar da exibição pífia de hoje, deverá ser seu grande rival ao longo do ano. Raikkonen subiu ao pódio pela primeira vez em 2017 e novamente garantiu seu nome por uma presepada, digamos, fora da corrida, após uma resposta desligada no rádio, quando lhe avisaram que estava atrás de Bottas. Mas como?, respondeu Kimi. 'Ele liderava desde a largada', respondeu a Ferrari...
Se a Red Bull conseguiu se livrar da ameaça da Williams na corrida, o time austríaco tem muito a lamentar pelo ritmo totalmente longe do ideal de Verstappen, quinto colocado a quase um minuto dos líderes, demonstrando bem o tamanho do abismo que separa a Red Bull das duas superpotências da F1 atual. Para piorar, a confiabilidade ainda não está ideal, quando Daniel Ricciardo abandonou mais uma vez, com problemas nos freios ainda no começo da prova. Com um conjunto forte e homogênico, a Force India vai marcando seus pontinhos com Pérez e Ocon mais uma vez na zona dos pontos e andando próximos. O novato francês parece ser mesmo diferenciado. Massa fazia uma corrida decente e era o melhor do resto quando furou o pneu e com a parada resultante, caiu de sexto para nono, marcando os únicos pontos da Williams. Lance Stroll completou sua primeira corrida no ano, mas seu ritmo está muito aquém de Massa. A Renault sofre de um problema parecido, pois se Nico Hulkenberg vai garantindo os pontos do time, Jolyon Palmer vai se garantindo como um dos piores pilotos a andar na F1 nesse século. O inglês protagoniza pataquadas em série e hoje abandonou mais uma vez, ao não dar espaço à Grosjean na primeira curva. Com apenas um piloto marcando ponto, Williams e Renault vão perdendo espaço para a Force India no Mundial de Construtores.
Correndo em casa, Daniil Kvyat não teve muita ajuda da Toro Rosso, que ficou abaixo do trio Williams-Force India-Renault, mas que marcou um pontinho com Carlos Sainz. Magnussen estava em décimo, mas foi punido por cortar a segunda curva na largada e com isso perdeu a posição final de pontos para Sainz. Empolgante, não? A Sauber levou seus dois carros até o fim no dia em que anunciou que estará com motores Honda em 2018, mas olhando o desempenho da montadora nipônica esse ano, deve se imaginar o tamanho da grana que os japoneses irão injetar na Sauber, pois só assim para a equipe suíça aceitar a Honda, que até agora vem escrevendo uma história triste de sua passagem na F1. Se serve de consolo, Vandoorne completou a corrida na frente dos dois carros da Sauber, mas em compensação, Alonso abandonou... na volta de apresentação! A cara de Alonso nos boxes mostra bem o descontentamento do espanhol e para piorar as coisas, no outro lado do Atlântico, os motores Honda da Indy levaram um banho dos Chevrolet da Penske na primeira corrida em oval da Indy em Phoenix. Onde Alonso correrá daqui a um mês, em Indianápolis. O desconforto entre McLaren e Honda é mais do que visível. Já se consegue cortar o ar, tamanha a tensão!
O campeonato de 2017 a cada dia que passa lembra mais a temporada de dez anos atrás, quando Ferrari e McLaren-Mercedes disputaram palmo a palmo o título, mas com as quatro primeiras posições ocupadas pelas equipes em condições normais. Como havia muito downforce, 2007 não é muito lembrada por ter grandes corridas, mas foi um campeonato de tirar o fôlego. O mesmo vem acontecendo agora, mesmo Sebastian Vettel e Lewis Hamilton mostrando uma certa ascendência dentro de suas equipes, mas Valtteri Bottas mostrou hoje que pode entrar na briga. Apesar das corridas, temos campeonato!