Duas semanas depois da modorrenta abertura da temporada 2017, a F1 viu um Grande Prêmio da China bem diferente, num circuito mais propenso a ultrapassagens, mesmo os carros nitidamente mais sensíveis à turbulência. Outra diferença, essa mais importante no que tange o campeonato, Lewis Hamilton se recuperou da derrota em Melbourne e praticamente de ponta a ponta, venceu pela primeira vez nesse ano, mas numa bela recuperação, Vettel arrancou para o segundo lugar e deixou empatado o campeonato. A Red Bull deu sinal de vida, ainda mais com o impressionante Max Verstappen, que saiu de 17º no grid para terceiro, tornando o pódio com três equipes diferentes.
A perspectiva de chuva se confirmou em Xangai, mesmo que numa intensidade muito mais baixa do que o esperado, mas que permitiu que a nuvem que pairava de um possível cancelamento fosse embora. Todos os pilotos, com exceção de Carlos Sainz, largaram com pneus intermediários e Hamilton já começou mostrando serviço ao largar bem e se estabelecer na ponta, enquanto Vettel teve que forçar a barra para garantir a segunda posição. Mais atrás, Verstappen começava seu show particular quando já aparecia entre os dez primeiros depois de poucas curvas. As primeiras voltas, com a pista ainda muito escorregadia, foram as mais confusas da corrida, com um período de safety-car virtual pelo toque recebido por Stroll por parte de Sérgio Pérez, enquanto o novato Antonio Giovinazzi rodou na relargada, trazendo o safety-car 'real'. Esses movimentos definiram a corrida. Na primeira intervenção, Vettel colocou pneus slicks e se não chovesse, se daria muito bem, mas com a segunda intervenção, todos os pilotos da ponta trocaram seus pneus e o alemão da Ferrari acabou prejudicado pela estratégia, como havia acontecido com Hamilton na Austrália. Em quinto, Vettel pouco poderia fazer para atacar Hamilton, que liderou soberano a prova inteira, vencendo pela primeira vez em 2017. Ao contrário dos últimos anos, a grande diferença da vitória do inglês da Mercedes foi que ele forçou o tempo inteiro, levando seu carro ao limite para se manter a frente dos rivais. Após a relargada, foi bonito de se ver os cinco primeiros colocados andando juntos.
Correndo em quinto e preso atrás de vários pilotos, Vettel deu um verdadeiro show de ultrapassagens, mesmo que demorasse um pouco demais para começa-lo. O alemão partiu para cima de Raikkonen com decisão, meio que deixando claro que não houve uma ordem vinda dos boxes. Com o sempre duro Ricciardo a situação foi diferente e a briga entre os dois ex-companheiros de equipe foi o ponto alto da prova, com Vettel sabendo usar o maior potencial do carro numa manobra belíssima por fora, com Ricciardo dando pouco espaço para Vettel e um toque entre ambos acabou acontecendo, mas sem maiores consequências. Menos mal para Vettel que ele não precisou de muito trabalho para deixar o sempre agressivo Max Verstappen para trás, com o holandês errando a freada e com pista livre, andou no mesmo ritmo de Hamilton, mostrando que se não fossem as circunstâncias do começo da prova, a corrida seria um duelo mano a mano entre os dois multi-campeões, algo que ainda está pendente em 2017, mas que deverá vir logo. Os dois finlandeses foram a grande decepção da corrida. Raikkonen atrapalhou a estratégia de sua equipe pela incapacidade de Kimi fazer uma ultrapassagem na pista, principalmente desde que retornou à Ferrari. Mais rápido do que Ricciardo, Raikkonen foi incapaz de deixar o australiano para trás e foi ultrapassado de forma decidida pelo companheiro de equipe Vettel, que meio que mostrou ao veterano nórdico como se faz. Bottas foi ainda pior, quando rodou durante o safety-car e se viu no meio do pelotão. Bottas efetuou várias ultrapassagens, mas estava longe demais para sequer acompanhar o ritmo dos ponteiros, ficando empacado atrás do compatriota Raikkonen no final da prova. Com provas como essa, Raikkonen e Bottas vão ficando cada vez mais claros como segundos pilotos de suas respectivas equipes.
Agora, o que dizer de Verstappen? O holandês deu outro show em uma situação difícil de corrida, mostrando um 'car control' impressionante. A primeira volta de Max foi de se aplaudir de pé e ajudado pela estratégia, já aparecia em terceiro, depois de largar em 16º! O holandês fez uma ultrapassagem corajosa em cima de Ricciardo e deu a pinta que poderia atacar Hamilton, mas quando seus pneus supermacios foram embora, ele perdeu rendimento. Sem ritmo para acompanhar Hamilton e Vettel, Verstappen segurou bem as investidas de Ricciardo no final para garantir um importante pódio numa pista que não parecia muito boa para a Red Bull. Mordido pela ultrapassagem sofrida por Verstappen no começo da corrida, Ricciardo foi para cima com decisão para cima do seu companheiro de equipe, garantindo a tensão nas voltas finais. No último giro, Daniel tentou a ultrapassagem definitiva, mas Verstappen se defendeu bem. Ricciardo sabe que tem um fenômeno ao lado dos boxes e para não ser engolido por ele, o australiano tem que sempre correr no seu limite.
Sainz arriscou o pneu slick na largada, caiu para último, rodou, mas quando vieram os dois safety-cars seguidos, o jovem espanhol apareceu em sexto e andando no mesmo ritmo de Ricciardo e as duas Ferraris que vinham à sua frente. Incapaz de segurar Kimi e Valtteri nas voltas finais, Sainz garantiu com uma bela exibição o título de melhor do resto, enquanto Kvyat abandonou no começo da prova. Magnussen garantiu os primeiros pontos da Haas, mostrando a importância de ter dois pilotos competitivos no seu plantel. Numa exibição apenas regular de Grosjean, principal piloto da equipe, a Haas teve em Magnussen numa segunda alternativa para marcar preciosos pontos, algo que não tinha quando tinha no seu cockpit o horrível Esteban Gutierrez. Falando em mexicano, Sergio Pérez bateu em Stroll na primeira volta, num incidente que no ano passado lhe garantiria uma punição, mas com a nova F1 em que não é qualquer faltinha em que o juiz apita, o mexicano garantiu mais pontinho para ele e a Force India, com Ocon chegando logo atrás, mostrando todo o potencial do jovem francês. Duas corridas e duas pontuações para o novato.
Hulkenberg tinha tudo para pontuar com a Renault, mas o alemão acabou atrapalhado pela tática e ficou pelo numa situação parecida com a da Austrália, onde ficou na bica de pontuar, mas acabou chupando o dedo. O horrível Palmer chegou logo atrás, mas o inglês rodou quando colocou pneus slicks e levou algumas ultrapassagens. Largando em sexto, a expectativa era boa para Massa, mas a chuva, velha inimiga do brasileiro (e da Williams) acabou arruinando a prova do brasileiro, que fez uma corrida bem ruinzinha para acabar fora da zona de pontuação. A Sauber, como esperado, foi a fona com Marcus Ericsson. A McLaren se safou com o talento grandioso de Fernando Alonso, que estava confortavelmente na zona de pontos quando teve uma quebra. Menos mal que não foi motor, mas é triste ver Alonso onde está e o potencial de brigar que o espanhol poderia trazer à F1 se tivesse um equipamento minimamente competitivo.
O cumprimento de Hamilton e Vettel dá a noção que ambos sabem que são as grandes estrelas do ano e podem fazer de 2017 um ano inesquecível. Após apenas uma corrida, muitos ditos 'especialistas' já estavam condenando a F1-2017, se esquecendo das particularidades de Melbourne, sede da primeira etapa do ano. Além das críticas terem vindo após apenas uma corrida. É incrível que gente experiente ainda caía nessa armadilha, apesar de que outros interesses façam esses 'especialistas' critiquem de forma tão aberta a F1 e defendam outras categorias bem ruins. Porém, da mesma forma que não se pode criticar demais a F1 por uma corrida, não pode exaltar a categoria pela bela corrida de hoje. Porém, o troco que Hamilton deu em Vettel, com ambos andando em um nível altíssimo, mostra que o potencial de um bom ano está lá!
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